Abdul Magid Osman faz hoje 80 anos. É um dos nossos melhores. Não tivesse outros motivos para o celebrar, haveria de assacar as razões da amizade que nos ligam há anos. Mas acontece que o Magid é muito mais do que um amigo, é um dos moçambicanos exemplares, uma daquelas personagens que a nossa distracção ou a nossa abulia colectiva se atreve a abandonar no limbo do esquecimento ou do descaso. Parece uma patologia da nossa nacionalidade: esta reiterada arte de deslembrar.
Ele foi um desportista emérito, tanto no futebol de salão como (ou sobretudo) no atletismo. Excelente nos 110 metros barreiras. Ele foi dos primeiros e raros quadros deste País quando acedemos à Independência. Formara-se em Economia e Finanças no Instituto Superior de Economia em Lisboa. Ele foi o ministro das Finanças que fez a transição entre a I e a II República, entre a economia centralmente planificada para uma economia mais liberal (o que em termos políticos correspondeu a uma transição). Provavelmente, ainda estamos a viver as dores dessa transição imperfeita. Antes fora secretário de Estado e, subsequentemente, ministro dos Recursos Minerais. Ele foi um alto funcionário das Nações Unidas (PNUD).Ele criou o BCI. Ele foi administrador não executivo do Mercantile Bank na África do Sul. Ele criou a Épsilon. Ele foi um dos fundadores e presidente da Biofund. Ele foi Presidente do Conselho de Administração do Banco Único. Ele esteve no Conselho de Administração da GALP Energia. Ele é um dos mais reputados economistas moçambicanos. Ele é um intelectual público. Pensa políticas públicas. Um grande intelectual. Preocupado sempre com o nosso destino comum.
Reputo-o, sobretudo, nesta última qualidade. A de intelectual, a de pensador. Ele se indaga, ele nos indaga, ele se interpela, ele nos interpela. Conversar com o Magid – socorro-me a um famoso ensaísta recentemente perecido – é melhorar o silêncio. É fascinante escutá-lo. A sua conversa, o seu método, a sua pedagogia. Há interlocutores cuja conversa vale o nosso silêncio ou pelo menos a inteligência da nossa interposição. Magid é um deles. Um sábio.
Cultivo, cultivamos, com o Magid, uma bela e velha tertúlia. À nossa pândega (à falta de melhor termo) curamos chamar Vergelegen, um vinho de que somos adictos. O Deus Baco sabe da nossa folia e nos tem penitenciado da depressão, da prostração, da melancolia. Porque às vezes, muitas vezes, somos confrontados com a desesperança, a ausência de rumo, a ameaça do infuturo, a incerteza. Vivemos tempos aziagos.
Não me lembro de uma conversa, de um almoço, de um jantar onde o Magid não se ativesse ao País. A Pátria antes de tudo, a Pátria doí-lhe as entranhas, a Pátria é urgente e visceral nele, ele sofre com a Pátria, ele não vive para além da Pátria. Magid Osman é indefectivelmente patriota. Não é necessariamente ufano. É um crítico. Mas quem disse que praticar a contradita é divergir da Pátria? Penso, aliás, que a benquerença patriótica nos impele ao exercício da réplica, da disjuntiva. Bem sei que há por aí muitos defenestradores do espírito da liberdade. Mas acredito, como o Magid, numa sociedade aberta. Bem sabemos nós dos seus inimigos...
Ao longo destas décadas de amizade aprendi a escutá-lo e a intentar a replicação. Também convergimos e muito. O Magid é um romântico, um pouco quixotesco talvez, alguém que acredita, um utópico. Um lírico, diria eu. Ele sempre encontra motivos para acreditar. Onde nos vemos impossibilidades, ele vislumbra um postigo. Certa vez, perante uma mensagem de fim de ano seca minha, ele reclamou que lhe faltava esperança. E acrescentou palavras que nos serviam de lenitivo.
Magid é também um amigo magnânimo. Ele cobre de generosidade os seus amigos. Dá-se-nos em transbordante altruísmo. A amizade é uma insígnia para ele, uma divisa. Exerce-a com prodigalidade. Provavelmente, o mote da sua vida. Os amigos são a sua família. Trata-os como trata os seus. Um homem de uma grande humanidade. Um homem de uma grande bondade. Um ser superior. Um grande senhor. Um senhor nobre. Majestosamente nobre. Nobilíssimo!
Ele sabe reconhecer e reconhecer-se na inteligência e na cultura dos outros. Ele admira quem o é. A sua devoção ao conhecimento e à cultura é uma das marcas distintivas da sua personalidade. A argúcia na argumentação, a perspicácia na análise, a sagacidade no raciocínio. A abertura e o espírito livre. A humildade e a sapiência. Estas são as epígrafes de Abdul Magid Osman. Tudo isto com afeição. Tudo isto com dilecção.
Devo-lhe uma amizade irrepreensível, uma comunhão de ideias e de sonhos, uma solidariedade sem limites. Devo-lhe muito do que sou. Devo-lhe eu, devemo-lo todos aqueles que com ele temos tido a felicidade de conviver e de fazer parte do seu círculo de amigos. Somos, também, por isso, a sua família.
Nunca ouvi uma palavra de censura ao amigo Magid. Ouço palavras em seu abono: aclamação, aplauso, reconhecimento. É o que oiço dos seus amigos. Isto significa que não haja quem se amofine? Haverá, por certo. É, no entanto, daquelas personagens que nos lembram os antigos: digno, elegante, justo. Decente. Um tipo de alta categoria, de uma estirpe rara. Magid é de uma correcção, de uma honestidade, de uma lealdade ímpares. É um homem bom. Probo. E isso já não se diz a muitos ou com esta intelecção.
Há anos que o desafio a escrever. O Magid tem um pensamento fino, uma interlocução viva e inteligente, com ironia e sem soberba. Tem uma trajectória belíssima, tem mundo. Ele está bem à conversa com um estadista ou com alguém sem pergaminhos. Vi muita gente humilde devotar-lhe amizade e anuir em seu favor. Reitero: ele é um ser único. Um livro do Magid poderia ser um testemunho capital sobre o nosso tempo. Sobre o destino de Moçambique e sobre o estado do Mundo.
O País deve-lhe muito. Como economista. Como homem público. Como moçambicano preocupado com o destino dos outros moçambicanos, de todos os moçambicanos. Como empreendedor. Como pensador. Como intelectual. O País deve-lhe uma homenagem, uma honraria – prerrogativa para os melhores. Essa distinção é uma franquia que nos fica bem. Temos que aprender a fazê-lo. Longe da contenda política. A nossa sociedade não se pode resumir à altercação entre partidos ou ao monopólio daqueles que ditam a condição dos paladinos da Pátria.
Temos que ser audazes e poder dizer sem medo, ousar proclamar, apregoar ou conclamar os nossos melhores. Abdul Magid Osman é um desses moçambicanos intrépidos, personagem ou intérprete do devir moçambicano, protagonista do nosso tempo, cuja vida e exemplo põem-no numa craveira que faz dele inspiração e bitola como cidadão distintíssimo. Aqui lhe deixo, neste dia 11 de Junho, dos seus 80 anos, o meu breve tributo, este louvor canhestro de quem se reconhece na láurea da sua amizade.
Elciego, País Basco, 11 de Junho de 2024
Por razões ainda obscuras, o Instituto Nacional de Comunicação de Moçambique – INCM decidiu pelo aumento das tarifas sobre os serviços de voz, SMS e dados móveis (uso de internet), através da Resolução n.º 1/INCM/2024, de 19 de Fevereiro, o que não foi bem recebido na sociedade moçambicana, tendo gerado indignação e contestação generalizada, incluindo acções de manifestação popular, na via pública, em quase todas as capitais provinciais. Paralelamente, houve interpelação formal ao INCM e acção judicial contra a supra mencionada Resolução, tudo com vista à revogação desse diploma legal emanado pelo INCM.
Na sequência das acções de manifestações contra a Resolução n.º 1/INCM/2024, de 19 de Fevereiro, que fixa os limites mínimos das tarifas de telecomunicações, o Conselho de Ministros, na sua 17ª Sessão Ordinária, realizada no dia 28 de Maio de 2024, decidiu orientar, ou seja, ordenou o INCM, entanto que Autoridade Reguladora das Comunicações em Moçambique, a suspender a Resolução em referência. Essa ordem foi supostamente acatada pelo INCM em conformidade com o comunicado de suspensão da Resolução n.º 1/INCM/2024, de 19 de Fevereiro.
No entanto, o INCM não deu a conhecer o instrumento através do qual suspendeu a Resolução n.º 1/INCM/2024, de 19 de Fevereiro, tampouco tornou pública a data da entrada em vigor dessa suspensão e os efeitos práticos da mesma. O que revela um comportamento fraudulento com o intuído de acalmar os ânimos da população que se tem rebelado contra a Resolução em questão.
Esse acto de suspensão proferido pelo INCM, se existe, não tem qualquer eficácia, uma vez se desconhecer o período da sua vigência, para além de que as operadores continuam a aplicar a Resolução n.º 1/INCM/2024, de 19 de Fevereiro, considerando que as novas tarifas fixadas continuam funcionais em prejuízo dos direitos e interesses legalmente protegidos dos consumidores dos serviços de voz, SMS e dados móveis (internet), os quais continuam a apagar valores elevados e injustos para se beneficiarem desses serviços.
É, pois, fácil notar a tendência enganadora do INCM pelos termos em que foi emanada a polémica suspensão e o seu carácter obscuro no que concerne ao período da sua vigência e efeitos práticos que da mesma se pretende, atendendo à contestação dos consumidores dos serviços em causa.
Estranha e curiosamente, a mesma suspensão refere-se que decorrem estudos, em coordenação com as operadoras de telefonia, no sentido de dar seguimento às recomendações do Conselho de Ministro. Ora, esta é, indubitavelmente, uma prova inequívoca de que os fundamentos e estudos metodológicos que serviram de base para a aprovação da Resolução n.º 1/INCM/2024, de 19 de Fevereiro são, de facto, tenebrosos.
Assim, do acima exposto, dúvidas não restam de que o INCM está a agir contrariamente às normas e princípios da actuação da Administração Pública previstos na Lei n.º 14/2011, de 10 de Agosto (Lei do Procedimento Administrativo), mormente:
Importa lembrar que o artigo 248 da Constituição da República de Moçambique (CRM) estabelece o seguinte relativamente aos princípios fundamentais da Administração Pública:
A novas tarifas não foram fixadas no interesse público, nem em coordenação com os operadores, senão no interesse obscuro próprio do INCM, para além de violar direitos fundamentais como a igualdade e não discriminação, o direito à informação, direito à educação, direito ao desenvolvimento, direito à liberdade de expressão e de imprensa.
No mesmo sentido, os termos tanto a Resolução n.º 1/INCM/2024, de 19 de Fevereiro, como o acto da sua suspensão violam a imparcialidade, a ética e o princípio da justiça que devem nortear e caracterizar a actuação da Administração Pública.
Portanto, no caso em apreço, urge a conformação do INCM com os princípios da actuação da Administração e a responsabilização do Presidente do Conselho de Administração do INCM pelas violações supra, abuso de poder e dos direitos e interesses legalmente protegidos dos consumidores dos serviços de telefonia móvel, especialmente os dados móveis.
Por: João Nhampossa
Human Rights Lawyer
Advogado e Defensor dos Direitos Humanos
“O partido ANC, ao sair de 249 deputados em 2014, para 230 em 2019, não se deu ao trabalho de casa, para fazer uma introspecção sobre o que estava mal e o que estava bem, sobretudo, o que deveria capitalizar para uma mudança do paradigma. Continuou a afundar, cada vez mais o partido para, nas eleições de 2024, cair, de forma estrondosa, para os 40,2% com direito a 159 lugares no Parlamento. O erro do ANC pode ser o erro de muitos partidos libertadores em África. Perderam o princípio de auscultar o povo para tomarem decisões, as lições são várias, é hora de se prevenir”.
AB
“Em 1960, depois do Massacre de Shaperville (quando forças policiais atacaram pessoas que protestavam contra o apartheid, deixando cerca de 250 vítimas, entre mortos e feridos), o líder sul-africano deixou de lado a premissa de não-violência e começou a defender actos de sabotagem contra o governo.
Mandela recebeu treinamento de guerrilha na Argélia, norte da África, e foi um dos fundadores do Umkhonto we Sizwe, braço armado do CNA, segundo a Britannica.
No ano de 1963, Mandela foi levado a julgamento sob acusações de sabotagem, traição e conspiração. Acabou sentenciado à prisão perpétua, tendo escapado por pouco da pena de morte.
Nelson Mandela ficou 27 anos preso e, nesse período, tornou-se o grande símbolo da luta contra o apartheid, inclusive para a comunidade internacional. Ele foi solto em 1990, quando o sistema de segregação racial estava a deteriorar-se.”
In National Geographic, Rubrica: Quem é Mandela
O partido ANC da África do Sul é, sem dúvidas, um partido histórico da nossa região, fundado em 1912 em Bloemfontein. Seria ilegalizado no apogeu do regime do Apartheid em Abril de 1960, para, passadas três décadas, mais concretamente a 02 de Fevereiro de 1990, o regime do Apartheid, sob liderança de Frederik de Klerk, suspender as restrições políticas ao ANC e de mais partidos políticos na África do Sul, naquilo que foi considerado um acto heroico e ímpar na história. Lembre que o Apartheid era considerado um crime contra a humanidade.
Com o fim das restrições políticas na África do Sul, ensaia-se o fim do regime segregacionista na África do Sul. Na sequência, Nelson Mandela, preso em 1963, seria liberto em 1990, para, três anos depois, em 1994, realizarem-se as eleições multirraciais na África do Sul. Reza a história que a África do Sul sempre realizou eleições, contudo, os pretos não eram eleitores, de tal sorte que, num país de mais de 28 milhões de habitantes, quem votava eram perto de 3 milhões de brancos. Os pretos, mestiços e indianos não votavam.
Nas primeiras eleições multirraciais, o partido de Nelson Mandela coligou-se ao partido Comunista e aos Sindicatos, tendo ganho as eleições com a expressiva percentagem de 62,4%, com direito a 252 assentos no parlamento. Mas o ponto mais alto da popularidade do ANC, foi em 2004, quando conseguiu 69,7% com direito a 279 assentos, nas penúltimas eleições, isto é, em 2019, o partido de Nelson Mandela, teve o seu pior desempenho de sempre, com 57,5%, com direito a 230 assentos. Provavelmente, a direcção do partido não levou a sério este mau desempenho e, nas recentes eleições, conseguiu 40,2% com direito a 159 assentos no parlamento, o que torna o partido vulnerável e com pior desempenho de todos os tempos.
O dilema do ANC é como governar com este desempenho!
Depois do anúncio dos resultados eleitorais, dando vitória ao ANC, contudo, sem maioria que lhe permitisse eleger o Presidente da República e a formação do Governo, o ANC terá iniciado as conversações com alguns partidos, destaque para o ND, cujas conclusões são desconhecidas. Outros partidos também foram contactados, mas parece ter havido diferenças que poderiam comprometer um Governo de coligação. Para tal, o ANC viria com a fórmula do GUN, usada por Nelson Mandela em 1994 e, por aquilo que é público e segundo escreve o Jornal Noticias de 10 de Junho de 2024, edição nº32.260, “oposição sul-africana recebe proposta do ANC com frieza”, o ANC ensaia uma ampla inclusão.
A ampla inclusão refere-se a negociar com todos os partidos pequenos, que participaram das eleições na África do Sul, mas o que isso poderá significar? Eis a questão que se coloca, considerando que, caso os três partidos mais votados, ND, MK e EFF, que representam 45,9%, não colaborem, o ANC poderá ter dificuldades acrescidas para governar e, sobretudo, para eleger o Presidente da República. Não será difícil aos três partidos convencerem dois ou mais partidos pequenos a não se aliar ao ANC.
Com as coisas como estão, eventualmente, a África do Sul necessite de mais uma ronda eleitoral ou a oposição se organiza para indicar um Presidente, o que é pouco provável. Esperemos para ver. Entretanto, o calendário não joga a favor do adiamento de decisões e, sendo assim, o que nos espera no país dos nossos irmãos? Será o fim do partido histórico que esteve sob liderança de um homem especial, reconhecido e respeitado no mundo! O partido de Nelson Mandela a afundar-se, quem o salva?
Adelino Buque
“São muitos moçambicanos que, conscientes ou não, fazem o papel ridículo de apoiar tudo que é de fora, sobretudo, no que diz respeito a denigrir as nossas conquistas como país independente. Nesta reflexão, não pretendo, de forma alguma, dizer que somos um país de santos, mas que não sejam os outros a dizer e nós, pura e simplesmente, segui-los. Moçambique possui hoje gente formada a diferentes níveis e por diferentes escolas do saber. Temos uma massa crítica que, usando o seu intelecto para dentro, pode derrubar o Estado, sem armas e através de denúncias do que é simplesmente mau e indesejável para o nosso desenvolvimento. Não aceitemos ser divididos. Lutemos por Moçambique!”
AB
“O FMI é o exército americano com dólar em vez de porta-aviões. Querem transformar os países africanos em escravos económicos, eles pressionam para desvaliações, para que tudo possa ser comprado barato, pelas multinacionais, esta é a nova colonização económica. Moçambique não é o único exemplo africano que prova isso”, lê-se na página 63 de La Traquenard que quer dizer “A Armadilha”.
Jean Boustani disse a Guebuza que Teófilo Nhangumele, com quem vinham trabalhando há muito tempo, pediu 50 milhões de dólares, referindo que tal valor era para a Presidência. Guebuza respondeu: “Senhor Boustani, estamos a falar de um grande projecto estratégico. A minha resposta é simples: ninguém, nem eu, nem qualquer outro funcionário moçambicano, está autorizado a receber um cêntimo para avançar como deveria. Se alguém te pedir dinheiro, recuse e vem falar comigo”.
In Semanário Canal de Moçambique, edição nº 771 de 05 de Junho de 2024, citando o Livro “A Armadilha” de Jean Boustani.
Diz-se na gíria popular que “os anjos da casa não fazem milagres”. É verdade, muito do que diz o Senhor Jean Boustani, no seu Livro La Traquenard, citado pelo Canal de Moçambique, ouvimos no julgamento das dívidas ocultas, nos depoimentos de António do Rosário, então Director da Inteligência para a área económica do SISE. Mas muitos de nós, porque estavam em causa avultadas somas de dinheiro, não quisemos ouvir, ainda que ouvíssemos, quem éramos nós. O Ministério Público e o Juiz da causa é que tinham que ouvir, mais nada!
Muito recentemente, esteve em solo pátrio uma Missão do FMI – Fundo Monetário Internacional, para avaliar o desempenho de Moçambique e produziu as polémicas constatações de que a Autoridade Tributária, do valor que arrecada, 80% serve para o pagamento de salários e nós, como “bons” cidadãos que somos, saímos à rua a dizer que os beneficiários dos 80% da colecta dos impostos são uns improdutivos e que deveriam ser “demitidos” em massa. Estamos a falar de professores, de pessoal de saúde, do exército e da PRM, ente outros.
Mais uma vez, parece-me que o FMI – Fundo Monetário Internacional prepara-nos para medidas drásticas, como aquelas que foram aplicadas a Moçambique, desde o ano de 2016, salvo erro, em que o Orçamento do Estado passou a não beneficiar de qualquer apoio dos parceiros internacionais, com a alegação da “descoberta” das dívidas ocultas que, para Jean Boustani, foi uma espécie de “Golpe de Estado” apoiado por moçambicanos devidamente posicionados no sistema de governação.
Nesse mesmo contexto, ouviu-se a hostilização do antigo Presidente da República, Armando Emílio Guebuza, a ser acusado de “ladrão” por algo que, em consciência, jamais faria. Hoje, o Livro de Jean Boustani, com o título “La Traquenard”, escrito pelo jornalista Francês Erwan Sezneen e citado pelo Canal de Moçambique, na edição de 05 de Junho de 2024 traz outros dados. Mas o mal está feito, Cabo Delgado e as províncias circunvizinhas estão em “chamas” devido à insurgência que pode ter como origem a desestabilização referida, para a desvalorização do metical e facilitar a pilhagem dos nossos recursos naturais.
A questão que se coloca é: até quando, nós moçambicanos, continuaremos a colaborar com o estrangeiro na desvalorização das nossas próprias conquistas como Nação? É verdade que os nossos dirigentes, em alguns casos, ávidos de enriquecimento fácil e rápido, facilmente aderem a esse tipo de atitudes, mas teremos de ser nós próprios moçambicanos a denunciar e a exigir que se “purifique” o sistema e não repetir tudo que vem de fora, com simples propósito de nos empobrecer, na famosa nova vaga de “colonização de África” de que somos certamente vítimas.
No Livro, Jean Boustan cita a ameaça estratégica da China e da Rússia, nos seguintes termos: “entre 2000 e 2014, a China investiu mais de dois mil milhões de dólares em Moçambique em obras de infra-estruturas e empréstimos (sem juros) à agricultura e isso faz parte de uma política africana mais ampla, porque a China investe em muitos países. Mas Moçambique tem um papel especial: O País é muito rico em recursos naturais e é a saída marítima para muitos países sem litoral, como Zimbabwe, Zâmbia, Malawi e até África do Sul. Maputo é Porto de Johannesburg, estando a apenas 545 Km de distância”, diz Jean Boustani, citado pelo Canal de Moçambique.
Mas adiante, o mesmo Boustani é citado a dizer: “é difícil ter a certeza sobre este assunto, mas o ano de 2015 é talvez o ano em que os Estados Unidos começaram a dizer que era hora de recuperar uma posição em Moçambique, para contrariar os objectivos dos seus rivais Chineses e Russos” fim da citação.
Apesar de abundantes informações sobre os interesses do Ocidente em Moçambique, claramente, que contam com a colaboração interna, muitas pessoas informadas preferem ignorar e dar voz àqueles que pretendem realizar a chamada “nova forma de colonização económica “que o faz através das suas multinacionais, o FMI – Fundo Monetário Internacional, que esteve recentemente em Moçambique, não fala sobre a não contribuição dos mega-projectos através dos impostos no Orçamento do Estado. Contudo, faz questão de enfatizar a necessidade de se criar o famoso Fundo Soberano, nada contra!
Ora, você tem alguma receita, resultante de exploração dos recursos naturais, que te obrigam a não gastar, alegadamente, porque os recursos irão se esgotar e as gerações vindouras não irão beneficiar, caso não se crie o fundo, mas não querem fazer um balanceamento entre a sustentabilidade da dívida a ser contratada, com dinheiro dos recursos estagnado como Fundo Soberano. Será que não temos seres pensantes em Moçambique? Por favor, acordem!
Adelino Buque
Pode ser que a espada anunciada já esteja a operar, é verdade. Estamos a ser conduzidos por demónios nos nossos caminhos tornados íngremes e ninguém percebe os sinais. No princípio era o bairro Chalambe o ponto principal da esbórnia dos desgraçados, aqueles que não terão onde ir, nem a quem chorar. Aqui paira vivamente, de dia e de noite e nas madrugadas, o cheiro catalizador da cannabis e o despudor. Ninguém se assusta com isso, nem com os homens rebentados pelo álcool.
Já o dissemos várias vezes mas não nos cansamos de repetir. Hoje, Chalambe não é mais o único lugar da gravitação das grutas, há outros pontos nos bairros onde se bebe aguardente de cana-de-açúcucar ou jambalau e ainda a sura, com mulheres jovens destacando-se na linha da frente, sem preconceitos. Bebem e fumam tudo, desde o cigarro normal até à “cosa nostra”, e já ninguém vê problema nesse gesto que vai se tornando hábito. Um vício mortal.
Não precisa que seja noite, as raparigas e também mulheres maduras, podem ser encontradas nesses esconderijos imundos a consumir tais coisas sem olharem para trás. Outras ainda, fogem temporariamente das suas bancas no mercado e vão beber um trago como forma de afugentarem a dor do tédio criado por um negócio que não anda. Já se descomplexaram, e no seu desespero jamais vão se importar com o que a sociedade fala sobre ela. Aliás, a sociedade tem outras preocupações: o dinheiro que não existe e, consequentemente, o pão que não chega à mesa.
Não precisamos mecionar o nome dos bairros onde em cada esquina há uma toca onde se vende thonthonto (aguardente de cana ou jambalau) e sura, existem em todo o lado, e em algumas delas tem lá mulheres bebendo e fumando, e as conversas que se ouvem não têm futuro. Nem passado. Muitas delas mostram-se com sinais de desitração, facilmente notável por via do rosto. Tumefacto.
Mas de onde é que vem este fenómeno novo, de mulheres jovens e maduras na cidade de Inhambane bebendo cachaça e essas porcarias industrializadas que levam nomes inconsebíveis nos rótulos, como por exemplo “Dinamite”? Se calhar a sociedade está atrasada numa pergunta que não vai fazer sentido, pois se estas jovens estão muito perto do abismo, então todos nós estamos lá. No fundo.
Ninguém as repreende, nunca foram. Jamais tiveram alguém para o fazer, ou seja, os pais quando descobrirem a fossa em que suas filhas se meteram, poderá ser tarde demais para qualquer reparação. O tempo que as move funciona como o relógio da morte, cujas horas correm com tontura em direcção à fornalha do diabo, onde já estão a ser queimadas na ilusão do prazer. Mas a cachaça e o fumo de todos os tipos que consomem e libertam no vazio, é apenas para desfarçar a dor. Elas estão no inferno e não conseguem fugir dalí. E se elas não conseguem fugir, nós também estaremos com elas.
“A aparição pública do político Venâncio Mondlane para entrega da sua candidatura à Presidência da República sem dúvidas que irá tirar sono a vários actores políticos, com destaque para Ossufo Momade, Presidente do partido Renamo. E não se enganem, o partido Frelimo terá de se reinventar, do ponto de vista discursivo.
Terá de dizer o que irá mudar para oferecer emprego aos jovens, o que irá mudar para oferecer habitação aos jovens, acesso ao ensino, dentre várias outras carências que a juventude enfrenta. É hora de reflexões políticas de muita seriedade e antevejo a Renamo de Ossufo Momade, depois das eleições, como um partido irrelevante na política nacional. Se calhar, é antevendo essa irrelevância que alguns falam de alguns militares mortos da Renamo e dizem que estão vivos. Por favor, preparem estratégias para fazerem face ao fenómeno político chamado Venâncio Mondlane”.
AB
Venâncio Mondlane inscreveu-se, a 06 de Junho de 2024, pelas 14h30, no Conselho Constitucional, para concorrer às Presidenciais de 09 de Outubro de 2024. Uma das razões desta reflexão é o número de assinaturas que conseguiu para poder concorrer: nada mais nada menos que 110.000 (cento e dez mil) assinaturas, tendo entregue ao Conselho Constitucional as 20.000 (vinte mil), o máximo permitido por Lei.
Para que não houvesse dúvidas, Venâncio Mondlane e seu mandatário portavam as restantes 90.000 (noventa mil) à porta do Conselho Constitucional e Mondlane desafiou os jornalistas presentes, querendo, para conferir. Ora, quando ouvi aquilo, fiquei estupefacto. Um homem sem suporte de uma organização política conseguir, em tão pouco tempo, aquela quantidade de assinaturas, segundo ele, válidas!
Com efeito, a partir de hoje passo a admirar este homem que, para mim, se torna um verdadeiro fenómeno político. Não haja confusão entre admirar e ser seu seguidor. Não sou seu seguidor, mas admiro a sua crença, persistência, a sua vitalidade e vontade de estar e ser na política. Repito, Venâncio Mondlane é um caso de estudo e faz frente a várias formações políticas existentes há muito mais tempo no País. De forma oficial, convenhamos, não é possível ignorá-lo.
Estive a pensar se realmente o partido Renamo, refiro-me à sua direcção, teve medo da sua participação como concorrente, para a liderança do partido. O que estarão a pensar essas mesmas pessoas com Venâncio Mondlane candidato à Presidência da República. Nas conversas de rua e da esquina, há quem já vaticina a Renamo numa situação de irrelevância política e Ossufo Momade a ser crucificado pelos seus pares.
Ora, a desvinculação voluntária de Venâncio Mondlane do Partido Renamo e da Assembleia da República será explorada até à exaustão pelo próprio e seus seguidores. Aquilo que os dirigentes da Renamo fizeram na posição de “quero, mando e posso” já não poderão fazer na arena de concorrência à presidência da República. Estarão preparados a ter um manifesto que os afaste do fenómeno Venâncio Mondlane? Eis a pergunta que não cala!
A questão não se coloca exclusivamente à Renamo. Que discurso trará a própria Frelimo para a Juventude? Quando falamos de emprego, habitação, formação escolar entre outras exigências de momento, que tem estado a ser motivo de cada vez maior distanciamento entre o Governo e a Juventude! Na condição de partido no poder, a Frelimo deve, desde já, mostrar que, de facto, as coisas irão mudar, mostrar pela prática, por acções no terreno. Não me pergunte como, mas promessas não valem hoje.
Ouvi e gostei de ouvir, do candidato da Frelimo, que pretende resgatar os valores da primeira República, sob liderança de Samora Moisés Machel. Para mim, que vivi esse tempo, faço ideia do que se refere, mas os jovens e adultos, nascidos depois de 1980, não sabem, o que é pior é que não querem saber, querem a solução dos problemas que vivem hoje e a solução era para ontem!
Uma coisa é certa, os partidos políticos, concorrentes às eleições de 09 de Outubro de 2024, devem estar à altura dos desafios de momento, a guerra dos dezasseis anos não é motivação para votação, a luta pela democracia não diz nada aos jovens nascidos depois de 1990, que são a maioria. O “Futuro Melhor” não galvaniza gente com carências de um pouco de tudo. A questão é: e agora?
Adelino Buque