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28 de May, 2025

Marinha moçambicana acusada de não resgatar navio de investigação atacado por terroristas

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A Marinha moçambicana não compareceu ao resgate de um navio de pesquisa russo que foi atacado por terroristas islâmicos em 10 de Maio na costa da província de Cabo Delgado, no norte do país, de acordo com um relatório detalhado sobre o incidente publicado pela ONG anti-corrupção, o Centro de Integridade Pública (CIP).

O navio russo realizava pesquisas sobre os recursos pesqueiros de Moçambique. Ele havia viajado de Ponta de Ouro, no extremo sul, até Cabo Delgado. O CIP cita um dos pesquisadores, identificado, por razões de segurança, apenas como João, que era um dos 40 ocupantes da embarcação russa.

O navio estava parado, analisando os parâmetros ambientais da água, perto do arquipélago das Quirimbas, quando a tripulação notou a aproximação de uma embarcação, por volta das 15h00 do dia 10 de Maio.

Inicialmente, a equipe não suspeitou que se tratasse de agressores, “porque tínhamos recebido informações de que haveria uma patrulha militar naquela área”. No entanto, a situação mudou quando a equipe observou as características dos ocupantes do barco. “Eram pessoas vestidas com roupas casuais, mas com máscaras, armas e facões, e se comunicavam em árabe”, disse João.

Um dos pesquisadores estava a cerca de dez metros dos agressores e viu um deles apontar uma arma para ele. Foi isso que alertou os outros ocupantes do perigo. Depois que o pesquisador conversou com os outros ocupantes e iniciou a fuga, os agressores começaram a atirar. Pelos buracos de bala, os ocupantes do navio não tiveram dúvidas de que os agressores estavam atirando para matar.

A tripulação tentou despistar os atacantes movendo o navio para mais longe, em alto-mar. Mas os marinheiros ficaram aterrorizados porque o navio demorou um pouco para ganhar velocidade. Um vídeo do circuito interno do navio mostra a preocupação da tripulação em controlar o movimento dos atacantes, que agora estavam em dois barcos. Uma bala entrou na cabine e atingiu a tela de um monitor.

Outro vídeo mostra os agressores perseguindo o navio enquanto continuavam atirando, mesmo correndo o risco de causar um naufrágio. “Eles estavam em lanchas e demonstraram que estavam dispostos a imobilizar o navio. Dispararam vários tiros para danificar o navio”, lembrou João.

Durante a fuga, a tripulação pediu ajuda à Marinha de Moçambique. “Telefonamos para o capitão da Marinha de Cabo Delgado, que prometeu enviar dois helicópteros, mas a ajuda não chegou”, disse João. Mas os atacantes pareciam determinados a deter o navio, numa perseguição que durou cerca de 20 minutos. Segundo João, os atacantes acabaram por desistir da perseguição devido ao mar agitado, que representava um risco de naufrágio.

Na noite seguinte, segundo João, “ninguém dormiu. Estávamos todos nervosos porque não sabíamos se eles (os atacantes) tinham capacidade de nos localizar. Então, a tripulação decidiu desligar o radar para que o navio não fosse identificado. Este dispositivo só foi ligado para controlar embarcações próximas. Só nos sentimos calmos quando saímos da área de Pemba”, lembrou.

Nenhuma outra embarcação respondeu aos pedidos de ajuda do navio russo. A tripulação ficou particularmente frustrada com a falta de acção das autoridades de defesa e segurança. “Prometeram enviar dois helicópteros para ajudar, mas não chegaram”, disse João.

“Na manhã do dia seguinte, começamos a receber ligações do capitão perguntando sobre a nossa localização. Até hoje, não entendemos por que fomos abandonados. Eles alegam que não enviaram ajuda porque o nosso navio não estava visível no radar, mas poderiam ter nos contactado da mesma forma que nós os contactamos.”

A equipe de pesquisa acusa o Instituto Marítimo Nacional (INAMAR) e o Ministério da Defesa de negligência. Afirma que esses dois órgãos foram consultados sobre a rota que os pesquisadores seguiriam, mas não alertaram a equipe sobre qualquer risco de ataque naquela zona.

Dez dias se passaram entre a data do ataque e a primeira reacção do Conselho de Ministros, mas mesmo assim o Governo afirmou não ter informações relevantes sobre o ocorrido na costa de Cabo Delgado. O porta-voz do Governo, Inocêncio Impissa, Ministro da Administração Estatal, afirmou que a situação ainda está a ser investigada.

O CIP informou ter conhecimento de que uma equipa da Marinha interrogou os investigadores e a tripulação do navio no dia 17 de Maio, data da sua chegada a Maputo. Com base na Lei de Liberdade de Informação, o CIP enviou cartas ao Ministério da Defesa e ao INAMAR, solicitando comentários sobre a acusação de negligência. O CIP queria saber quais medidas as autoridades moçambicanas tomaram para resgatar a equipe de pesquisa e o que está a ser feito para evitar episódios semelhantes no futuro. Até ao momento, o CIP não recebeu nenhuma resposta.

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