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terça-feira, 09 julho 2019 13:27

Projecto “Minha Casa, Meu Sonho” do CNJ: Um sonho frustrado!

Passa um ano desde que o Conselho Nacional da Juventude (CNJ), em parceria com a construtora brasileira “Ecobique Brasil Incorporadora e Construtora EIRELI”, lançou um projecto de habitação para jovens, denominado “Minha Casa, Meu Sonho”, que, entretanto, ainda não saiu do papel.

 

De um sonho para a maioria dos jovens em ter uma residência T1, T2, T3, T4 ou T5 com valores que variam de 25.700,00 USD a 63.000,00 USD com facilidades de pagamento (240 meses), o projecto tornou-se um pesadelo, com dezenas deles a reclamarem de burla. O facto é que, para poder ter acesso a uma casa construída pelo Projecto, os potenciais compradores tinham de se inscrever, mediante o desembolso de um valor mínimo de 2.700 Mts.

 

Dezenas de jovens aderiram à ideia e sacrificaram as suas poupanças, com valores que variam entre 2.700 e 8.400 Mts, com objectivo de ter casa própria, algo que se mostra quase uma utopia. Estes nunca foram informados sobre o estágio das obras e muito menos o local onde está a ser erguido o projecto.

 

São, no total, 15 mil casas que o CNJ e seu parceiro projectavam construir em vários pontos do país, sendo que a suposta casa modelo foi inaugurada em Dezembro último, no bairro da Maxaquene, na cidade de Maputo, numa cerimónia que não contou com a presença dos potenciais compradores, alguns deles já com contratos assinados com o Projecto.

 

De acordo com o Projecto, as casas seriam construídas em várias províncias, mas, em Maputo, por exemplo, seriam erguidas no distrito Municipal KaTembe e nos bairros Guava e Ricatla, no distrito de Marracuene. Previa-se construir 10 mil casas, num prazo de 14 meses.

 

A iniciativa garante ainda que beneficiará pessoas que possuem restrições de acesso ao crédito por insuficiência de recursos, porém, não explicava como isso será feito, tendo em conta a natureza sócio-económica dos potenciais clientes.

 

Fontes ouvidas pela “Carta”, que garantem ter desembolsado o valor para dar entrada na aquisição das casas, contam que aderiram ao projecto “movidos pela vontade de ter uma casa, mas, até hoje, não sabem onde está a ser desenvolvido o projecto.

 

Os denunciantes sublinham ainda que aderiram ao Projecto, mediante o pagamento de valores de inscrição, que variam de 2.700 a 6.000 Mts, dependendo do tipo de casa.

 

“Parece pouco, mas se formos a multiplicar pelo número de jovens que aderiram, é muito dinheiro”, observam, denunciando, igualmente, o lançamento de uma suposta segunda fase do projecto.

 

“Ficamos a saber, recentemente, que foi lançada a segunda fase do projecto, enquanto ainda não vimos nenhum moçambicano a receber sua casa, da primeira fase. Sentimos que vão continuar a roubar o povo moçambicano e o governo nada faz contra essas pessoas”, afirmam os supostos lesados.

 

Fonte da “Carta”, baseada no Brasil, que revela ter trabalhado com os proprietários da construtora brasileira, criada em 2018, nomeadamente Aline Tobias Zamora e Assif Momade, conta que estes desenharam um projecto idêntico naquele país da América Latina, tendo apenas construído duas casas, uma, em 2015, e outra, em 2016.

 

Na altura, revela a fonte, a construtora era designada WNA, tendo sido encerrada, após a execução das referidas obras, que tiveram sérios problemas estruturais. No Brasil, acrescenta, também receberam valores da inscrição de vários clientes e não cumpriram com a promessa.

 

Explica a fonte que, corridos no Brasil, estes viraram as atenções para Moçambique, onde apresentaram-se ao CNJ, na pessoa do seu Presidente, Manuel Formiga, que, devido a questões políticas, recebeu-os sem analisar a sua capacidade financeira.

 

Porque não tinham quase nada para servir de garantia junto da banca, detalha a fonte, que diz se ter apercebido tratar-se de uma burla, a Ecobique cobrou valores de entrada aos potenciais clientes, para constituir um valor mínimo de garantia bancária. Entretanto, passados 13 meses, nada aconteceu.

 

Na pesquisa feita pela “Carta”, constatamos que os potenciais compradores não dispunham de contrato de compra e venda com os proponentes do Projecto, apenas um recibo de inscrição sem assinatura dos proponentes e muito menos o nome do comprador. No recibo, de tamanho A5, preto e branco, apenas consta o valor pago pela inscrição, a data e forma do pagamento e o número da parcela da futura casa.

 

A “Carta” tentou falar com os proprietários da Ecobique, mas sem sucesso. Visitou, por várias vezes, o escritório da empresa, na Avenida Amílcar Cabral, na cidade de Maputo, com objectivo de interagir com Aline Zamora e Assif Momade, porém, estes nunca se faziam presentes. Os contactos fornecidos também se encontram desligados.

 

Entretanto, a Secretária da Ecobique garantiu à “Carta” que estão em curso as inscrições para a segunda fase do projecto, que ainda não passou de sonho.

 

Contactado pela nossa reportagem, o Presidente do CNJ, Manuel Formiga, negou dar detalhes em relação ao projecto que tanto publicitou, tendo dito apenas que este registava um ligeiro atraso. Garantiu ainda, sem avançar o estágio e o local do projecto, que as obras estavam em curso. (Marta Afonso)

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