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22 de Abril, 2022

Quem “salva” as estradas moçambicanas?

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Transitar nas estradas moçambicanas há muito que se tornou um martírio, mas o sofrimento piora nos dias de chuva. Desde que iniciou a época chuvosa 2021/2022, tornou-se um desafio conduzir nas vias nacionais, em todo o país.

 

A lista de estradas intransitáveis, nesta época chuvosa, é longa, e inclui a Estrada Nacional Nº 1, a principal via do país. “Carta” faz uma radiografia real e actual das estradas nacionais, num momento em que o país está a ser assolado por chuvas intensas desde Janeiro último.

 

A Estrada Nacional Nº 1 aparece na pole position da lista pelo seu nível de importância. Tratando-se de uma via que liga o país de norte a sul, era expectável que fosse a mais segura e comoda do país, porém, a realidade é outra. O troço entre o rio Save (Inhambane) e Muxúnguè (Sofala) é dos mais críticos daquela via. Os buracos tomaram conta da via e, com as chuvas, nascem charcos e pequenos riachos.

 

Trata-se de uma realidade que se vive há mais de 10 anos e que não tem tido solução por parte dos sucessivos governos da República de Moçambique. Aliás, o troço Muxúnguè-Save já se tornou num “belo” cartão-de-visita, sendo escalado frequentemente pelos sucessivos Ministros das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos. O último a visitar aquele troço foi Carlos Mesquita, em Março último, tendo também prometido a sua reabilitação.

 

Se a Estrada Nacional Nº 1 está em fase avançada de degradação, já se pode imaginar a situação das restantes estradas. Na província do Niassa, por exemplo, a ligação Cuamba-Marrupa, numa extensão de 300 Km, é feita em via de terra batida, também degradada, que se encontra intransitável nesta época chuvosa.

 

Na província de Nampula, a ligação Nampula-Liúpo-Mogincual também é feita em estrada de saibro, igualmente degradada. Neste período chuvoso, a via está intransitável. Aliás, com o arrastamento da ponte metálica sobre o rio Mutacazi, no distrito de Mogovolas, recorre-se também à mesma via para se chegar à vila-sede do distrito de Angoche.

 

O Presidente da República esteve em Namaponda, distrito de Angoche, em princípios de Abril corrente para inaugurar a rede eléctrica local, porém, não se pronunciou em torno das condições da via. Deslocou-se àquele Posto Administrativo de helicóptero.

 

Já na província de Inhambane, a lista é liderada pelas estradas Mapinhane-Mabote e Massinga-Funhalouro, que também desafiam todas as habilidades dos condutores, particularmente em dias de chuva.

 

À “Carta”, o Delegado da Administração Nacional de Estradas, em Inhambane, Dady Mendes, disse ainda não haver datas específicas para a pavimentação das referidas vias devido à falta de fundos, porém, garantiu que decorrem trabalhos de manutenção periódica das mesmas.

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Na província de Maputo, o destaque vai para a estrada que liga a vila da Manhiça ao Posto Administrativo de Calanga. Em dias de chuvas, nenhuma viatura sai de Calanga para Manhiça e vice-versa, devido à lama. Em período de cheias, a ligação rodoviária fica completamente cortada, recorrendo-se a barcos para se sair de Calanga para Manhiça e vice-versa.

 

Em Abril de 2018, o Chefe de Estado visitou aquele Posto Administrativo e reconheceu os problemas que aquele território carece de uma estrada. No entanto, até hoje, o sofrimento continua.

 

O distrito da Moamba também se ressente do mesmo problema. A ligação entre a sede distrital e o Posto Administrativo de Sabié é feita de uma estrada vicinal, que em dias de chuva fica coberta de lama, tornando-se impossível o trânsito de viaturas, incluindo as com tracção às quatro rodas.

 

Já no distrito de Marracuene, a estrada Michafutene-Santa Isabel é outra “dor-de-cabeça”. Com um projecto de pavimentação praticamente não executado – devia ter sido pavimentada entre Agosto de 2017 e Agosto de 2018, mas só foram pavimentados 500 metros. O orçamento era de 4.1 milhões de Meticais – a via continua a desafiar as habilidades dos condutores e a danificar as viaturas. Em dias de chuva, nenhuma viatura circula na via.

 

A Avenida Josina Machel, no Município da Matola, província de Maputo, engrossa a lista de vias completamente degradadas, sobretudo no troço entre os bairros da Matola-Gare e Machava-sede. A via está em reabilitação desde 2021, porém, as chuvas reprovaram os trabalhos de engenharia do empreiteiro da obra. A estrada está completamente esburacada, com a água das chuvas a criar pequenos charcos e riachos.

 

Por sua vez, na cidade de Maputo, há estradas pavimentadas, mas que em dias de chuva nenhum automobilista usa. É o caso das Ruas Graça Machel, Ndambi 2000 e Marcelino Dos Santos, que atravessam os bairros Magoanine “C”, Zimpeto e Chamanculo, respectivamente.

 

As três vias estão pavimentadas, mas não dispõem de sistema de drenagem, pelo que, em dias de chuva, os automobilistas são obrigados a usar vias alternativas. Aliás, no caso das Ruas Graça Machel e Marcelino Dos Santos, o caso é gritante, pois, as águas chegam a bloquear dezenas de residências por um período superior a 15 dias.

 

Esta é a realidade que se repete em quase todas as estradas do país. Em dias de chuva, grande parte das estradas moçambicanas ficam intransitáveis e durante o período seco produzem poeiras. (Carta)

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