Não constitui novidade que os terroristas têm matado e raptado cidadãos indefesos, assim como saqueado e queimado bens da população. Trata-se de uma situação que tem desestruturado famílias, para além de perpetuar a pobreza nas famílias afectadas.
“Carta” esteve em Pemba há dias e conversou, mais uma vez, com as vítimas dos ataques terroristas, que desde Outubro de 2017 já causaram a morte de mais de 3 mil pessoas e mais de 800 mil deslocados. Entre os deslocados, oficialmente contabilizados, está Sikufur Assane, de 61 anos de idade, natural do Mocímboa da Praia, que se encontra acolhida no bairro Eduardo Mondlane, na cidade de Pemba.
Viúva, Sikufur Assane integra a lista de chefes de famílias que viram seus ente-queridos serem raptados pelos terroristas. Conta a vítima que, aquando da invasão da vila de Mocímboa da Praia, a 23 de Março de 2020, os terroristas raptaram seus dois netos (todos do sexo masculino), menores de idade. Um chamava-se Dade Assane e tinha 10 anos de idade e o segundo chamava-se Achimo Assane e tinha 11 anos de idade.
A fonte diz não ter qualquer notícia acerca dos seus netos e que há dois anos desloca-se aos locais de reassentamento e de acolhimento dos deslocados à procura dos “miúdos”, mas sem sucesso. No entanto, Assane diz ainda não ter perdido esperança de encontrá-los, por isso sempre que as autoridades anunciam o resgate de reféns, procura verificar as identidades dos resgatados, de modo a localizar os seus netos.
Segundo Sikufur Assane, no dia do ataque, apenas 11 membros da sua família conseguiram se salvar, tendo ficado para trás os dois petizes. Conta que, mal que a família ouviu os primeiros tiros, fugiu para o mato, onde permaneceu até à saída dos insurgentes da vila. Depois partiram em busca de melhor abrigo, tendo escalado, primeiro, a vila de Palma e depois a Ilha do Ibo e, por fim, a cidade de Pemba. Durante a fuga, narra a fonte, deparou-se com corpos estatelados no chão, alguns decapitados e outros atingidos por balas.
A fonte conta que o marido perdeu a vida na cidade de Pemba, dias depois da sua chegada. Narra que a distância percorrida a pé, de Mocímboa da Praia para Palma, e a longa viagem de barco de Palma à Ilha do Ibo e do Ibo a Pemba poderão ter contribuído para a morte do seu companheiro.
Assegura que, desde a sua chegada à cidade de Pemba, nunca teve apoio do Governo, vivendo apenas na base de apoios de pessoas de boa vontade. Por isso, deseja regressar a Mocímboa da Praia, onde acredita que pode retomar a sua vida. (Omardine Omar)