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quinta-feira, 02 abril 2020 08:14

Análise de Home Lobo : Capacidade de comunicar acima de tudo

Quer queiramos, quer não, a nossa ignorância no que tange ao novo coronavírus é directamente proporcional à que temos relativamente ao que efectivamente nos vais acontecer (aqui em Moçambique) a partir deste 1 de Abril – que para todos os efeitos continua sendo o dia da mentira.


É que, se o PR não foi suficientemente claro e conciso no seu tão aguardado discurso à nação, no passado domingo, onde decretou o estado de emergência, menos esclarecedores ainda foram grande parte dos pontos (mais de 40) acrescentados a esse mesmo decreto, pelos membros da AR, na noite passada, após cinco extenuantes horas de reunião que resultaram na aprovação do documento, por consenso.

Sintomático disso foram as intervenções dos telespectadores que ligaram para o programa televisivo “Linha Aberta” (Stv), na noite de terça-feira: as suas percepções sobre o que vai acontecer doravante foram as mais díspares possíveis. Se para uns estamos praticamente num “lockdown” disfarçado que deve ser cumprido à risca, para outros, todas estas medidas são surreais e inaplicáveis a uma realidade como a nossa.


Em miúdos: não há consenso – pelo menos por enquanto – na interpretação do que significa o estado de emergência, e como efectivamente a população se deve comportar “socialmente” de hoje em diante. Até mesmo porque esta é a primeira vez que é decretado um estado de emergência no país.

E não é só no concernente a este ponto que não existe consenso. Por exemplo, para muitos é pouco credível que num vasto território como o moçambicano existam apenas oito casos de infecção confirmados e, ainda por cima, todos eles confinados à capital do país – mesmo admitindo que não estamos ainda numa fase de pico da pandemia.
A capacidade das nossas autoridades de saúde – concretamente no que à testagem diz respeito – essa sim, é que é constantemente posta em causa sempre que se fala nesse número irrisório e se compara com o que está a acontecer no mundo e mais especificamente nesta parcela do nosso continente.

Uma coisa porém é certa: as pessoas estão cada vez mais conscientes da imperiosidade de procederem a uma higienização pessoal constante (especialmente no que à lavagem das mãos diz respeito). Hoje em dia já é comum ver-se, pelo menos, água e sabão à entrada não só de instituições públicas, mas sobretudo de estabelecimentos comerciais, para uso dos utentes.

 

Também a questão do distanciamento social tem vindo a ser minimamente cumprida.


Mas lá está: como se sabe, é relativamente reduzida a quantidade de famílias moçambicanas que se faz a essas superfícies comercias para fazerem as suas compras do dia-a-dia. A grande maioria continua(rá), por uma série de razões mais do que óbvias, a socorrer-se dos mercados informais, onde como é sabido é um “Deus nos acuda” – não há cá água nem sabão para ninguém. E muito menos se cumpre o tal distanciamento social.

Portanto, é extremamente importante que independentemente das medidas decretadas e ontem ratificadas pelo parlamento, quem de direito venha constantemente a terreiro prestar esclarecimentos à população sobre procedimentos básicos e atitudes a tomar face a uma eventual escalada da pandemia nos próximos dias e/ou semanas.


E isso não deve ser feito por “importação” deste ou daquele modelo que se aplica neste ou naquele país, mas sim tendo em conta o desenrolar da situação na nossa realidade concreta durante os próximos 30 dias em que irá durar o estado de emergência.


É absolutamente necessário que a cada dia que passe não só o comportamento das nossas populações, como também os resultados práticos do estado de emergência, sejam estudados a fundo para que seja possível ir corrigindo o que deve ser corrigido. E que haja uma boa capacidade de comunicação por parte das autoridades, acima de tudo…(HL)

Sir Motors

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