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BCI
segunda-feira, 30 março 2020 07:16

Funcionários da Gungu TV alegadamente torturados

É uma situação que contada parece mais uma peça teatral da Companhia Teatral Gungu. Mas não. Aconteceu. E aconteceu num dia em que a Edilidade da capital do país lutava com os vendedores informais, da baixa da cidade.

 

Foi no passado dia 13 de Março, por volta das 16:00 horas, que cinco agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM), afectos à 1ª Esquadra da PRM, na Cidade de Maputo, torturaram dois funcionários da Companhia Teatral Gungu, alegadamente porque pretendiam extrair confissões dos mesmos.

 

Conforme consta numa participação submetida à Procuradoria-Geral da República, a nível da Cidade de Maputo, os cincos agentes, um deles identificado por Luís Caranguejo, terão “chamboqueado” um dos colaboradores que, segundo apuramos, havia sido operado no ano passado.

 

Segundo consta do documento em nossa posse, nesse dia, o referido funcionário foi agredido com 16 chambocos, 10 nas nádegas e seis em diferentes partes do corpo. Durante a agressão, diz a nota, “um dos agentes terá pego numa lâmina e cortado certas partes do corpo”. A nota sublinha que a tortura se prolongou até às 10:00 horas do dia 14 de Março.

 

Conforme contam colegas próximos dos funcionários torturados, que trabalham naquela companhia teatral há mais de seis anos, tudo começou quando a direcção da empresa, alegadamente, notou o desaparecimento de certo equipamento de produção de programas televisivos, tendo sido acusado o referido funcionário por ter sido um dos primeiros a chegar naquele local de trabalho.

 

Nesta senda, narram as nossas fontes, os responsáveis da instituição encontraram no “desaparecimento” do equipamento, uma forma de se “livrar” de alguns funcionários, visto que a pressão dos trabalhadores já era maior, devido aos atrasos salariais, falta de contratos de trabalho (de funcionários com mais de três anos), despedimentos constantes e sem justa causa, a falta de pagamento da segurança social obrigatória e pagamento de salário em numerário para fugir ao fisco.

 

Segundo apuramos, os dois jovens terão sido torturados na 1ª Esquadra da PRM, por recomendação da direcção da Companhia, actualmente representada pela actriz Joanete Rombe, porém, garantem as fontes, com anuência do proprietário, Carlos Gilberto Mendes, actual Secretário do Estado do Desporto, conforme demonstram as mensagens trocadas entre os funcionários violentados e o proprietário da instituição.

 

Numa das mensagens trocadas, um dos funcionários comunica que fora torturado pela Polícia e, em resposta, Gilberto Mendes diz: “porquê abriste, se o MC tinha dito para não mexeres? E porquê desapareceu o que tu querias ver e mais nada? Eu não vou interceder. O processo vai andar e vocês vão esperar pelo julgamento na cela. Depois de cumprirem os cinco anos de pena vão procurar saber quem foi o vosso colega que vos quis prejudicar. Eu não me posso sacrificar por você para ser apunhalado pelas costas”.

 

A versão da Gungu e arrogância da Joanete Rombe

 

Na tarde desta quinta-feira, a nossa reportagem entrou em contacto com Joanete Rombe para ouvir a versão da Direcção da Companhia e estação televisiva. Num tom agressivo e intimidatório, Rombe disse que tudo não passava de fofoca e que iria processar o nosso Jornal, caso o assunto fosse veiculado.

 

Rombe afirmou que os funcionários são “ladrões” e que irão responder em Tribunal porque o processo já estava a correr na polícia. Acrescentando, a fonte avançou que não estavam a pagar os salários, devido ao COVID-19.

 

Com tiques de arrogância, Rombe foi respondendo as nossas questões aos berros, durante os 30 minutos de conversa. Disse que na Companhia Teatral Gungu, assim como na Gungu TV, não havia despedimentos compulsivos e sem indemnização e que os referidos funcionários estavam de férias, uma versão que os visados não confirmam.

 

Rombe nega que tenha dado orientações aos agentes da PRM para que torturassem os funcionários em questão, mas reconhece que a Polícia terá levado os mesmos e que os advogados da instituição iriam mover céus e montanhas para que os funcionários pagassem o material em questão.

 

“Carta” procurou ouvir Carlos Gilberto Mendes, mas sem sucesso.

 

Comando Provincial da PRM na Cidade de Maputo

 

No intuito de entender o modus operandi dos agentes envolvidos, “Carta” interagiu com Leonel Muchina, Porta-voz da Corporação, na capital do país, tendo dito que não tinham registado essa ocorrência. Sublinhou: “em todas as Esquadras da Polícia da República de Moçambique não existe tortura”.

 

Muchina explicou que os processos recebidos nas Esquadras são encaminhados para o Serviço Nacional de Investigação Criminal para dar seguimento e que há respeito pelos direitos humanos. “Este não é nosso procedimento, não existe tortura em todas as esquadras do país”, assegurou a fonte.

 

Refira-se que o processo encontra-se a correr na Procuradoria-Geral da República, na Cidade de Maputo, há mais de uma semana, tendo inclusive os funcionários em questão reunido provas e exames feitos num médico legista. (Omardine Omar)

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