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sexta-feira, 10 janeiro 2020 03:06

Mais um jovem raptado em Macomia

Um jovem de cerca de 30 anos, foi raptado há dias por indivíduos desconhecidos no bairro Nanga B, arredores da vila de Macomia, em Cabo Delgado. O facto ocorreu numa noite em que de um carro “misterioso” saíram várias pessoas armadas, irromperam pela residência do jovem adentro e raptaram-no.

 

Trata-se de Mussa Muinda, que há mais seis meses vivia naquele bairro depois de ter fugido da aldeia Ilala, sua terra natal, dos ataques dos insurgentes, tal como muitas outras pessoas.

 

Mussa Muinde foi raptado três dias depois de ter contraído matrimónio, numa cerimónia localmente conhecida por harussi.


Não se conhecem ainda as causas do rapto, mas suspeita-se que o mesmo esteja relacionado com a situação de insurgência em Cabo Delgado.

 

Uma fonte, próxima de Mussa Muinde, explicou à “Carta” que, nos últimos tempos, o jovem andava muito isolado, triste e cabisbaixo, porque era acusado de manter contacto com um amigo, que supostamente se havia filiado ao movimento insurgente na aldeia Ilala. Porém, ao que se soubesse Muinde jamais se aliou ao grupo.

 

Quando em 23 de Agosto de 2018, entraram pela primeira vez na aldeia Ilala, os insurgentes queimaram inclusive a casa de Mussa Muinde, tendo este escapado por um triz, sendo depois perseguido por um dos insurgentes. Nessa ocasião – conta uma fonte –  Muinde teria escapado porque conseguiu subir numa mangueira próxima da sua casa, mas mesmo assim quase morria asfixiado devido ao fumo.

 

Outra fonte em Macomia acredita que o rapto de pessoas no distrito de Macomia está ligado a uma onda de inveja e vingança orquestrada localmente. Porém, as autoridades (neste caso os serviços secretos e as forças de defesa e segurança) não se dão tempo de investigar as acusações, apenas levam as pessoas e muitas vezes as mesmas nunca mais voltam. É assim que desapareceram muitas pessoas no distrito de Macomia.

 

Mussa Muinde, que até já participou em actividades como de Censo populacional e recenseamento eleitoral, concluiu a sua 10ª classe, na Escola Secundária Comunitária Padre Paulo de Macomia.

 

Também em circunstâncias pouco claras, foi levado, supostamente pelas forças de defesa e segurança um outro cidadão: Manane Anfai, natural da aldeia Pequeue, posto administrativo de Quiterajo.


Fontes explicam que este foi levado da aldeia Pangane, pouco depois de ter chegado de Pequeue e dali desentendeu-se com um membro da estrutura de base e este acusou-o de ser elemento da insurgência. Resultado: foi levado pelas FDS e quase um mês depois não se sabe do seu paradeiro.

 

Mamane Anfai, além de ter exercido actividades de Chapa 100 no troco Macomia-Pequeue, foi colaborador de língua Kimuane na rádio Nuro, um órgão que divulga evangelho em Macomia.


Depois do ciclone Keneth, Mamane destacou-se na canalização de vários apoios às comunidades da zona costeira de Macomia, através dos donativos angariados pela rádio Nuro, no âmbito do apoio às vítimas do ciclone Keneth.

 

Deslocações só com guia de marcha

 

Viver em comunidades que foram vítimas de insurgentes tem sido um martírio. Conforme contam as fontes que ainda lá vivem, elas lá permanecem porque não tem onde ir.


Contudo, para alguém se deslocar a uma outra região é preciso pedir autorização ao secretário do bairro, ao qual se deve pagar uma quantia para que seja passada uma guia de marcha que depois deve ter um visto do chefe do posto policial e respectivos contactos telefónicos.

 

Os cidadãos que por vários motivos forem interpelados pelas autoridades devem explicar donde vêm. Porém, se ao ligar-se para o local de proveniência, as autoridades (desse local) mesmo conhecendo o indivíduo, afirmarem que o mesmo saiu sem autorização é motivo de suspeita de estar a colaborar com insurgentes.

 

O sistema de guia de marchas também tem sido aplicado para obter tratamento médico, no quartel militar na aldeia Cogolo, o único local médico que até antes das últimas chuvas dava os primeiros socorros à população. Devido à insurgência, os centros de saúde de Pequeue, em Quiterajo, Mucojo-sede e Naúnde em Macomia, estão fechados e o pessoal exerce as suas actividades na sede do distrito de Macomia. (Carta)

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