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terça-feira, 19 novembro 2019 16:12

Dívidas ocultas: Principal arguido nos EUA conta início de contactos com suspeitos moçambicanos

Jean Boustani

O principal arguido nos Estados Unidos numa investigação sobre as “dívidas ocultas de Moçambique” disse na segunda-feira que introduziu a ideia de investimento numa reunião com o Ministério da Ciência e Tecnologia, onde conheceu Teófilo Nhangumele, em 2011.

 

O cidadão libanês Jean Boustani, de 41 anos, disse, na sua primeira intervenção em julgamento, que a sua primeira viagem a Moçambique foi em março de 2011, numa apresentação realizada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia moçambicano.

 

Como negociador da Privinvest, “a maior construtora naval privada do mundo”, Jean Boustani disse que estava “muito interessado” em “oportunidades de desenvolvimento” em África e aproveitou um convite feito por uma “agente de negócios” chamada Basetsana Thokoane, antiga agente dos Serviços Secretos da África do Sul.

 

Jean Boustani afirmou que mantinha um contacto profissional frequente com Basetsana Thokoane, a quem chamava de “Bassi”, uma intermediária de negócios ou lobista para a Privinvest, que lhe “apresentava ideias de negócios na África”.

 

Segundo o depoimento, a agente de negócios sul-africana avançou com propostas sobre a Namíbia, Quénia, Tanzânia, Nigéria e Moçambique.

 

Foi por intermédio de Basetsana Thokoane que o arguido afirmou ter conhecido Rosário Mutota, antigo agente do Serviço de Informação e Segurança do Estado de Moçambique (SISE) e o “parceiro de negócios”, Teófilo Nhangumele, numa reunião acolhida pelo Ministério da Ciência e Tecnologia.

 

Jean Boustani contou em tribunal que conheceu o ministro, Venâncio Massinga (falecido), que lhe fez “uma apresentação sobre as oportunidades em Moçambique”. O libanês disse que Rosário Mutota (ou Cipriano Sioínio Mutota) tinha uma “parceria de negócios” com Teófilo Nhangumele.

 

Boustani disse que na primeira reunião com moçambicanos, “passou muito tempo” com o ministro e com Teófilo Nhangumele sobre oportunidades no país: das “descobertas de reservas de gás natural, explorações de petróleo, minas, turismo, agricultura, indústria”.

 

O arguido narrou que os moçambicanos estavam “com vontade, esperançosos e pujantes para atrair investidores estrangeiros”. “Porque também me informaram sobre a sua riqueza, gás, recursos naturais e ‘offshore’, era crucial para eles que começassem a focarem-se em proteger os recursos e como desenvolver a economia azul”, disse Jean Boustani, sublinhando que o país tinha “três mil quilómetros de linha costeira”.

 

Em 2011, Jean Boustani apresentou a Privinvest: “quem somos, o que fazemos, o que podemos fazer, qual é o nosso valor acrescentado”, no setor das construções navais, segundo disse no depoimento de segunda-feira.

 

Na primeira impressão, Jean Boustani classificou que Teófilo Nhangumele era “muito educado, muito inteligente, profissional e um homem agradável”.

 

“A primeira vez que me foi apresentada uma oportunidade em Moçambique foi, claro, graças à Bassi”, disse o arguido, explicando que Moçambique e África do Sul são países fronteiriços, “muito próximos politicamente e culturalmente” e que “partilham muita história comum”.

 

Segundo o arguido devido ao processo de descolonização dos países africanos, Basetsana Thokoane conheceu pessoas que “se escondiam e se refugiavam em Moçambique” ainda nos “tempos da independência política”. “Ela disse-me que Moçambique estava a prosperar, porque tinham encontrado reservas maciças de gás natural e petróleo”, contou Jean Boustani, referindo-se ao período entre 2010 e 2011.

 

Detido numa prisão de Brooklyn, nos Estados Unidos, desde 02 de janeiro, Jean Boustani iniciou na segunda-feira um depoimento conduzido pelo seu advogado, Michael Schachter e voltou a declarar-se inocente de dois crimes de que é acusado: conspiração para cometer fraude e conspiração para cometer lavagem de dinheiro.

 

Jean Boustani era o representante da empresa de construção naval Privinvest, fornecedora de serviços e equipamentos de três empresas públicas moçambicanas que assumiram empréstimos internacionais de cerca de 2,2 mil milhões de dólares (dois mil milhões de euros) e que entraram em incumprimento, levando à descoberta das dívidas ocultas de Moçambique. (Lusa)

 

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