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terça-feira, 24 setembro 2019 07:17

Ciclone Kenneth: O retrato do dia-a-dia das famílias afectadas e que se sentem abandonadas

Passam aproximadamente cinco meses, desde que o ciclone Kenneth sacudiu a província de Cabo Delgado, com maior impacto nos distritos de Macomia, Ilha do Ibo e cidade de Pemba, e na zona norte da província de Nampula, tendo morto 38 pessoas e desalojado cerca de 170 mil pessoas, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC).

 

Foi a 25 de Abril que o país registou a passagem do segundo ciclone, em 41 dias, neste caso o Kenneth, depois de ter registado o memorável ciclone Idai, que fustigou a zona centro, com maior incidência para a cidade da Beira, tendo causado a morte de 603 pessoas e milhares de desalojados.

 

Um total de 32.034 casas parcialmente e 2.930 totalmente destruídas foi o retrato dado em relação do “desempenho” daquele evento natural, que também deixou abaixo salas de aulas, unidades sanitárias, postes de energia e uma ponte metálica sobre o rio Muagamula (distrito de Muidumbe), que deixou isolados cinco distritos do norte daquela província (Mueda, Muidumbe, Palma, Nangade e Mocímboa da Praia).

 

Uma das casas que ficou parcialmente destruída é da família Fernandes, residente no bairro Natite, na capital provincial de Cabo Delgado, que desde aquele fatídico dia nunca mais teve tecto.

 

Com uma criança paralítica, de nove anos de idade, de nome Fernanda Álvaro Fernandes, a família, visitada recentemente pela “Carta”, revela estar a viver dias difíceis, devido à falta de apoio das autoridades.

 

Segundo Magalhães Fernando, Chefe da família, o ciclone Kenneth deitou abaixo a sua casa de tipo 01 e levou todos os seus bens. Hoje, Magalhães Fernando e a família (esposa e dois filhos) vivem numa casinha emprestada pelo irmão.

 

“Durante o processo de levantamento, várias organizações passaram pela nossa residência para recolher os nossos dados, mas só foi para recolher dados mesmo porque nunca mais apareceram”, revela a fonte.

 

Fernando acrescenta ainda que a sua situação se torna mais dramática, devido à sua cor (mestiço), pois, “as pessoas pensam que tenho muito dinheiro e que facilmente me irei recompor, o que não constitui a verdade. O ciclone Kenneth tirou-nos tudo que construímos com muito suor”, desabafa.

 

Durante a conversa com a nossa reportagem, o pai de Fernanda Fernando partilhou a estória da sua filha, tendo dito que, em 2010, quando ela nasceu submeteu todos documentos necessários para receber ajuda, na Direcção Provincial do Género, Criança e Acção Social de Cabo Delgado, mas até ao momento nada aconteceu.

 

Na entrevista à “Carta”, Magalhães Fernando revelou ainda que, neste período de campanha eleitoral, a sua residência tem sido usada pelos partidos políticos para a realização de comícios naquele bairro da cidade de Pemba, por encontrar-se desabitada. Nas suas actividades, a fonte diz que os partidos recorrem à energia da sua casa, pois, a instalação principal não foi afectada. Também tem sido usada por malfeitores na calada da noite.

 

Referir que esta é uma parte do que se vive na capital provincial de Cabo Delgado e distritos de Macomia e Ilha do Ibo, fortemente atingidos pelo ciclone Kenneth, que a 25 de Abril sacudiu aquela região do país.

 

Relativamente a esta situação, “Carta” procurou ouvir a Direcção Provincial do Género, Criança e Acção Social em Cabo Delgado, para perceber as condições em que vivem as famílias afectadas pelo ciclone Kenneth, em particular esta família, com uma menor que necessita de cuidados especiais, mas esta não se mostrou disponível, alegadamente porque os responsáveis do pelouro encontram-se com agendas lotadas, em particular partidárias (campanha eleitoral). (Omardine Omar)

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