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quinta-feira, 05 setembro 2019 07:07

Acesso à água: O “drama” que se vive em Nacala-Porto

Um adágio popular diz que “sem água não há vida”. E a “Carta” testemunhou esse facto na cidade de Nacala-Porto, na província de Nampula. Mulheres e crianças daquele ponto do país “sofrem” dia-a-dia atrás do precioso líquido e, entre as razões elencadas, está o facto de, alegadamente, a população daquele distrito optar sempre na oposição.

 

Durante os últimos dias, “Carta” esteve em Nacala-Porto e, durante uma semana, acompanhou o “drama” a que estão submetidas as mulheres e crianças daquele ponto do país para ter acesso ao líquido precioso.

 

Em Nacala-Porto é comum ver mulheres e crianças, caminhando longas distâncias para ter acesso à água potável. Entretanto, relatos que nos chegam são mais dramáticos. Falam de mulheres que se têm envolvido sexualmente com seguranças de algumas residências com fontenárias, para que possam aceder à água.

 

Rabia Mussagy, nome fictício, contou à nossa reportagem que vivia no bairro Kuissine Ajulo, um bairro dos arredores de Nacala e que não tem acesso à água, desde a sua criação. Rabia Mussagy disse que percorre mais de 10 Km diariamente à procura de água potável, sendo que às vezes deve envolver-se com “guardas” em troca do precioso líquido.

 

Outra mulher, de 19 anos de idade, Amina Rajabo, nome fictício, contou à nossa reportagem que são vários casos, embora ela nunca tenha aceitado submeter-se a tal situação, mas que já era normal naquela urbe as mulheres passarem por aquele constrangimento.

 

Entre os bairros mais críticos que a “Carta” visitou e acompanhou de perto o “drama” que as populações vivem estão: Kuissine Ajulo, Nemeefica, Janga 1 e 2. No bairro Nemeefica, por exemplo, verificamos que a situação é mais crítica, devido à falta de higiene, levando a população a sofrer diversas doenças, como o surto de “tunguiasse”, mais conhecida por “matequenha”, causada por pulgas e que ficam no interior dos dedos do pé, com tom amarelado e com uma ponta-negra.

 

A situação no bairro de Nemeefica é crítica e, embora haja abundância de vários frutos e produtos alimentares, a água é escassa. Em Nacala-Porto é normal encontrar hospitais e unidades sanitárias sem água e com abundância de insectos, devido à falta de água para fazer limpeza.

 

Segundo apurámos, Nacala-Porto tem três subestações de abastecimento de água para 41 bairros existentes, habitados por 225,034 pessoas, de acordo com os dados do último censo populacional de 2017. As fontes contaram-nos que a situação é sensível porque as 50 fontenárias existentes foram todas construídas nas residências de líderes comunitários e administrativos próximos ao partido Frelimo.

 

As fontes garantem ainda que a captação da água que abastece o sistema é feita na Barragem de Nacala, com capacidade actual de 4.0 Milhões de m³ e espera-se que venha a dispor de uma capacidade de 7.5 Milhões de m³. A capacidade máxima de captação é de 250 m3/h.

 

De acordo com o técnico que aceitou falar à nossa reportagem, para além da torre de distribuição R5 que recebe água do R3-R4 por bombagem, através de duas electrobombas tipo NK com caudal e altura nominal de 250 m3/h e 60 m.c.a. respectivamente., a distribuição de água é também feita por gravidade para as zonas baixas (Cidade Baixa), através das estações de bombagem e R1-R2. A extensão total de rede de distribuição é de 106.0 km, variando de diâmetros de 400 a 60 mm em material de abastecimento maioritariamente.

 

Entretanto, conforme apurámos, a situação é crítica porque, alegadamente, 60 por cento da água existente é para irrigação do carvão mineral que é para posterior exportação. O resto dos 40 por cento é para o consumo da população e, devido à centralização das fontenárias na casa da “elite local”, a população acorda e dorme a correr atrás do precioso líquido.

 

No entanto, as autoridades locais não aceitaram tratar dos aspectos constatados pela nossa reportagem e que são sobejamente conhecidos pelas autoridades. (Omardine Omar)

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