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terça-feira, 03 setembro 2019 07:26

Visita Papal: Religiosos defendem que paz não virá com Papa, mas do povo moçambicano

Enquanto a maioria dos cidadãos defende que a vinda do Papa Francisco a Moçambique trará paz e reconciliação nacional, o Bispo da Igreja Anglicana, Carlos Matsinhe, defende que a almejada reconciliação da família moçambicana não virá com o Líder da Igreja Católica, mas sim com o povo moçambicano, que tem a obrigação de se reconciliar e fazer a própria paz. Segundo Dom Carlos Matsinhe, o Sumo Pontífice apenas deve ser visto como um “padrinho”, que vem reforçar os feitos do povo moçambicano.

 

“Acredito que a visita do Papa é uma bênção e traz consigo uma mensagem de paz e esperança. Tê-lo numa altura em que estamos a consolidar a paz é mais uma valia, sendo ele um apelo de Deus para que Moçambique se pacifique e se reconcilie. Porém, cabe ao povo moçambicano fazer a paz e reconciliação”, disse o Bispo à “Carta”, falando em torno da visita do Sumo Pontífice ao país, entre os dias 04 e 06 de Setembro próximo.

 

A opinião é também partilhada por um religioso da Igreja Presbiteriana de Moçambique (IPM), uma das maiores igrejas protestantes do país. O religioso entende que a visita não pode ser encarada como a vinda de um santo, pois, “só há um, que é o próprio Deus”. Tal como Matsinhe, este religioso defende que o Papa não trará paz aos moçambicanos, pois, esta deverá ser obra exclusiva dos moçambicanos.

 

O Papa Francisco chega a Maputo na noite da próxima quarta-feira para uma visita de três dias à República de Moçambique, onde para além de dirigir uma missa a ter lugar na manhã de sexta-feira, no Estádio Nacional do Zimpeto, irá manter encontros com o Chefe de Estado, Filipe Nyusi, e com jovens de diferentes congregações religiosas do país.

 

Tendo em conta que 55 por cento da população cristã moçambicana pertence às igrejas protestantes, a Comissão Interministerial para Grandes Eventos Nacionais e Internacionais garante estar a envolver todas as congregações religiosas para a organização da segunda visita apostólica ao nosso país, depois da do Papa João Paulo II, em 1988.

 

Entretanto, questionado pela “Carta” sobre o nível de envolvimento da sua confissão religiosa na preparação desta visita, Matsinhe revelou não ter recebido convite oficial para participar do acto, sobretudo o encontro da juventude com o Sumo Pontífice, porém, garante: “faremo-nos presentes até onde for possível porque estamos sempre abertos para apoiar”.

 

Mesma situação é descrita pelo religioso da IPM que garante também não terem recebido nenhum convite oficial para a participação da sua juventude no encontro a ter lugar na tarde da próxima quinta-feira.

 

Entretanto, a Coordenadora-geral da Comissão Interministerial para Grandes Eventos Nacionais e Internacionais, Vitória Diogo, assegura que as diferentes congregações religiosas do país foram convidadas, através do Conselho Cristão de Moçambique, órgão que integra todas as igrejas cristãs registadas no país.

 

Por seu turno, o representante da Igreja Católica na Comissão, Dom António Juliasse, garantiu que, até esta segunda-feira (02 de Setembro), os convites seriam enviados às Igrejas Protestantes.

 

Padre Couto entende que visita do Papa é especial ao país

 

Por seu turno, o padre católico Filipe Couto entende que a visita do Papa é especial porque não vem apenas por causa da comunidade católica, mas sim do povo moçambicano, pois, quer vê-lo a viver em paz. Por isso, o antigo Reitor da Universidade Eduardo Mondlane defende não haver problema em o Sumo Pontífice visitar o país em período eleitoral, tal como critica maior parte da sociedade. Afirma que seja ou não no período eleitoral, o importante é que o Papa “deve visitar o país e que coisas boas vão acontecer”. “Entretanto, se o povo quiser criticar é livre disso, o bom é que ele venha”, sublinhou Couto.

 

Quem também partilha desta visão é Saíde Abibo, do Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, que defende que a vinda do Chefe de Estado do Vaticano a Moçambique ultrapassa as dimensões da Igreja Católica, pelo que requer o envolvimento de todos.

 

“Não podemos fazer uma ligação da vinda do Papa com questões eleitorais, porque não vejo nenhuma relação entre os dois momentos, tendo em conta que este ano ocorreram vários fenómenos, como os ciclones que fustigaram parte do país”, explicou a fonte. (Marta Afonso)

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