O presidente da Renamo, Ossufo Momade, considerou ontem que as vozes críticas à sua liderança estão à procura "de legitimidade” para alcançar posições políticas dentro da principal força política da oposição moçambicana, defendendo a necessidade de “disciplina”.
“Assistimos membros a desfilarem pelas televisões e pelos tribunais à procura de legitimidade para alcançar posições político partidárias. Quanto a nós, trata-se de uma fracassada tentativa de inventar a roda, já inventada”, declarou Ossufo Momade, durante o discurso de abertura do Conselho Nacional da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) em Maputo.
Momade, que está na liderança do partido desde a morte do líder histórico da Renamo Afonso Dhlakama (2018) e cujo mandato expirou em 17 de janeiro, é externa e internamente criticado devido a alegada inércia face a supostas irregularidades nas eleições autárquicas moçambicanas de outubro passado, sendo também acusado de negligência face à situação dos guerrilheiros do partido desmobilizados à luz do acordo de paz.
Uma das vozes mais críticas à liderança do partido é Venâncio Mondlane, deputado da Renamo e ex-candidato do partido à autarquia de Maputo nas últimas eleições autárquicas.
Venâncio Mondlane, que já anunciou publicamente a intenção de se candidatar à presidência do partido, apresentou, recentemente, à justiça uma providência cautelar que exigia a anulação de decisões tomadas pelo atual líder da Renamo, sob o argumento de estar fora do mandato, um ofício rejeitado pelo Tribunal Judicial da Cidade de Maputo.
Mondlane tinha também intentado uma outra providência cautelar, exigindo a marcação do próximo congresso do partido, mas este processo não foi julgado porque o deputado chegou a acordo com a direção da Renamo para a realização da reunião magna da organização, entre 15 e 16 de maio.
No seu discurso ontem, Ossufo Momade rejeitou as acusações que lhe são imputadas, considerando que há uma “agenda externa” ao partido promovida por alguns membros.
“Lamentamos que tais membros tenham investido o seu tempo e inteligência para imputar a fraude eleitoral ao partido e, em particular, ao seu presidente, de tal forma que se esqueceram de onde viemos e para onde vamos”, frisou o dirigente, acrescentando que a agenda da Renamo é clara: “alcançar o poder e servir o povo moçambicano”.
A reunião do Conselho Nacional da Renamo, que antecede o congresso eletivo, foi marcada por escaramuças entre os seguranças do partido e um grupo de jovens apoiantes de Venâncio Mondlane nas primeiras horas do dia.
Os jovens tentavam manifestar-se à porta da sala onde decorre a reunião do Conselho Nacional da Renamo no Hotel Glória, na capital moçambicana, quando os seguranças do partido os expulsaram à força e rasgaram os cartazes que empunhavam, de apoio à candidatura de Venâncio Mondlane.
Numa carta aberta divulgada no sábado, Venâncio Mondlane, que não faz parte do Conselho Nacional e que não foi convidado para a reunião de hoje, exigiu que o órgão reprove a proposta de perfil de candidato à presidência do partido apresentada pela Comissão Política, considerando que esta viola os estatutos.
Segundo Venâncio Mondlane, membro do partido desde 2018 e que já foi assessor político de Ossufo, a Comissão Política da Renamo propôs, entre vários requisitos, que os membros do partido que queiram candidatar-se tenham pelo menos 15 anos de militância.
Três militantes já anunciaram que pretendem concorrer à liderança da Renamo, num ano em que Moçambique realiza eleições gerais, incluindo presidenciais: o irmão do líder histórico do partido Elias Dhlakama e o ex-deputado Juliano Picardo, além de Venâncio Mondlane.
Moçambique realiza em 09 de outubro eleições gerais, incluindo presidenciais.(Lusa)