Há três anos, Maseru legalizou a produção agro-farmacéutica da cannabis. Em pouco tempo, deram entrada vários projetos de farmeiros que hoje estão a exportar para um mercado bem identificado no Canadá. A produção é feita em estufas usando-se as novas técnicas de “precision farming”. Isso envolve capital intensivo e o Governo local só está aprovando projectos cujo orçamento inicial são 50 mil USD. Isso significa que os camponeses locais não estão a tirar proveito dessa legalização e continuam a exportar ilegalmente para a RAS. Moçambique não deve legalizar o uso da cannabis para fins recreativos por enquanto. Ainda existem “camadas espessas de ignorância” sobre o assunto. Mas pode descriminalizar o cultivo para o agro-negócio e para a produção farmacéutica. Não precisamos de inventar a roda. Pode-se tentar uma iniciativa piloto.
Demarcar zonas exclusivas de produção, atribuir quotas aos produtores, controlar o escoamento para mercados identificados no estrangeiro. O Governo podia também incentivar o processamento industrial local para coisas como óleo, cremes e tecido. Identificar potenciais “trade offs” junto da indústria de medicina de ervas, cada vez mais robusta, sector aliás onde a tradicional indústria farmacéutica de vertente química está a penetrar. Há cada vez gente que prefere analgésicos naturais que os de origem química.
Os ganhos seriam enormes. Primeiro, controlava-se melhor o contrabando, trazendo-o para a formalidade. Há indicações de que só no ano passado, a nossa polícia destruiu 27 toneladas de cannabis apreendidas nas estradas e em plantações clandestinas. Uma grande fonte de receita para o Estado. Depois o Governo estaria a promover novas fontes de rendimento legal para os camponeses.
Em suma, trata-se de olhar para a cannabis como uma cultura de rendimento como o tabaco. Legalizando nessa perspectiva, o controlo da produção melhora, com ganhos para a economia e para a sociedade. Não fazer nada não é opção. É mindset de ignorância e preconceito