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quinta-feira, 24 agosto 2023 06:43

Governo decide classificar “Wiriyamu” como património cultural nacional

Wiriyamu massacre

Quase um ano depois de o Primeiro-Ministro de Portugal, António Costa, pedir, perante o Presidente da República, Filipe Nyusi, desculpas pelo massacre de Wiriyamu, o Governo aprovou, na última terça-feira (22), um Decreto que classifica o Local Histórico de Wiriyamu, localizado na Localidade de Muchenga, Posto Administrativo de Chiôco, Distrito de Changara, Província central de Tete, como Património Cultural Nacional.

 

Segundo o porta-voz da 30ª Sessão Ordinária do Conselho de Ministros, Inocêncio Impissa, o Decreto visa garantir a protecção adequada, conservação, gestão sustentável e a fruição, considerando o simbolismo, a importância política, cultural, social e o valor histórico nacional de que se reveste o Local Histórico de Wiriyamu na definição da identidade dos moçambicanos e o seu papel para a educação patriótica.

 

A 16 de Dezembro de 1972, durante a luta armada de libertação de Moçambique, sob dominação colonial portuguesa, cerca de 400 civis desarmados foram mortos em Wiriyamu por militares portugueses. Cinquenta anos depois do massacre, em Setembro de 2022 passado, o Primeiro-Ministro português, em visita oficial a Moçambique, pediu desculpas ao povo moçambicano. 

 

“Neste ano de 2022, decorridos 50 anos sobre esse terrível dia de 16 de Dezembro de 1972, não posso deixar aqui de evocar e de me curvar perante a memória das vítimas do massacre de Wiriyamu, acto indesculpável que desonra a nossa história”, afirmou Costa, em Maputo, citado pela Lusa.

 

Segundo o “Público”, o massacre foi dado a conhecer ao mundo por um jornalista inglês, Peter Pringle, num artigo do jornal “The Times”, em 1973, depois de a história ter sido denunciada por missionários estrangeiros a trabalhar na área de Wiriyamu. Entretanto, uma “investigação do historiador Mustafah Dhada, nascido em Moçambique e radicado nos EUA, concluiu que as tropas portuguesas dizimaram um terço dos 1350 habitantes de cinco povoações (Wiriyamu, Jemusse, Raichu, Juawu e Chaworha) integradas numa área que ele chama triângulo de Wiriyamu, que tem 40 povoações e que foram afectadas 216 famílias”.

 

Contudo, quase meio século sem falar do assunto, o governo português lembra o massacre e para além de pedir desculpas, o Primeiro-Ministro luso sublinhou: “as relações entre amigos são feitas assim, são feitas da gentileza de quem é vítima e faz por não recordar, mas também por quem tem o dever de nunca deixar esquecer aquilo que praticou e perante a história se deve penitenciar”.

 

O pedido de desculpas pelo massacre de Wiriyamu foi replicado, em Dezembro de 2022, pelo Presidente da Assembleia da República Portuguesa, Augusto Silva Santos. Entretanto, o pedido não foi bem-recebido pelo Presidente do Partido Chega. André Ventura alegou que o pedido de desculpas não representa o seu partido nem as forças armadas portuguesas, pois nunca e em nenhum momento, Moçambique se desculpou por milhares de soldados portugueses mortos durante a luta de libertação do país. (Evaristo Chilingue)

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