O autoproclamado pastor Paul Nthenge Mackenzie, que fundou a Good News International Church em 2003, compareceu esta terça-feira (02) em tribunal, na cidade costeira de Malindi. Ele é acusado de matar à fome mais de 100 fiéis da sua seita religiosa no Quénia, ao incitá-los a morrer de fome "para encontrar Jesus".
Nthenge, um dos dois líderes desta seita, será julgado por "terrorismo". O antigo condutor de táxi, que se tornou "pastor" de uma seita em 2003, é acusado de ter levado os seus fiéis a realizar um culto da fome até à morte, esperando a vinda de Jesus, que nunca mais aconteceu.
Pelo menos 109 membros da sua seita foram encontrados mortos em valas comuns no sul do Quénia, na floresta de Shakahola, onde a comunidade se reunia, segundo escreve o Africanews.
A maioria das vítimas são crianças e o drama vai para além do culto da fome já que as primeiras autópsias revelaram duas mortes por asfixia. O balanço é ainda provisório, a exumação das valas comuns prossegue e muitas famílias aguardam ainda notícias dos seus familiares desaparecidos. De acordo com a mesma fonte, o pastor afirma que fechou a sua igreja em Agosto de 2019 e se mudou para a aldeia florestal de Shakahola, onde as autoridades encontraram valas comuns em Abril. As autoridades foram criticadas por não terem reagido a múltiplas denúncias. Paul Mackenzi já tinha sido detido duas vezes desde 2017, mas liberto depois de ter pago uma fiança.
O drama levantou um debate sobre a regulamentação dos cultos no Quénia, um país maioritariamente cristão (cerca de 85 por cento da população), onde estão recenseadas cerca de 4.000 igrejas segundo dados oficiais. Até agora, as tentativas de regulamentação falharam, devido a uma forte oposição, nomeadamente, em nome da liberdade de culto.
O presidente William Ruto prometeu medidas contra aqueles que "usam a religião para promover uma ideologia obscura e inaceitável", comparando-os a "terroristas".
O ministro da Administração Interna do Quénia, Kithure Kindiki, reconheceu a existência de possíveis falhas e anunciou que o governo decidiu criar uma comissão de investigação.
O outro pastor envolvido no ″massacre″, Ezekiel Odero, o mais famoso do país, um rico e famoso televangelista, também compareceu esta terça-feira no tribunal de Mombasa, a 100km a sul de Malindi, após a sua prisão na semana passada em conexão com o caso.
Fiéis vulneráveis
Odero é suspeito de assassinato, auxílio ao suicídio, sequestro, radicalização, crimes contra a humanidade, crueldade infantil, fraude e lavagem de dinheiro. Cliff Ombeta, um dos advogados de Odero, disse a repórteres ao chegar ao tribunal que não havia evidências ligando o pastor às descobertas de Shakahola. "As provas devem ser trazidas. É um caso em que você deve provar", disse ele.
Uma multidão de apoiantes de Odero reuniu-se do lado de fora do tribunal, cantando e rezando, enquanto alguns choravam. Além das acusações de terrorismo que os procuradores planeiam apresentar, Mackenzie é acusado de assassinato, sequestro, crueldade contra crianças, entre outros crimes, em documentos judiciais vistos pela AFP.
O ex-taxista entregou-se em 14 de Abril depois que a polícia, após uma denúncia, entrou pela primeira vez na floresta de Shakahola, onde cerca de 30 valas comuns foram encontradas.
Os procuradores associaram Odero e Mackenzie, dizendo em documentos judiciais que eles compartilham um "histórico de investimentos empresariais", incluindo uma estação de televisão usada para passar "mensagens radicalizadas" aos seguidores.
Na sua apresentação ao tribunal, Odero disse que queria "desassociar-se fortemente" de Mackenzie e discordava de seus ensinamentos. Questões foram levantadas sobre como Mackenzie, um autodenominado pastor com histórico de extremismo, conseguiu escapar da aplicação da lei.
Lembre-se que, no caso de Moçambique, os bispos da Igreja Católica queixaram-se há uma semana da proliferação de seitas religiosas no país, uma situação que no seu entender está a atrapalhar vários crentes.
O surgimento e a proliferação de seitas religiosas em Moçambique foi um dos temas da recente conferência de imprensa realizada em Maputo, para o balanço da reunião dos bispos católicos ocorrida na província de Maputo de 17 a 25 de Abril.
″Nos últimos tempos estão a multiplicar-se congregações que não são do ramo católico, nem protestantes, mas são seitas que estão a chegar de todos os lados. Temos visto pequenas comunidades, onde por exemplo um crente desiste e abre a sua congregação. Isto é uma preocupação porque atrapalha os nossos cristãos″, disse o bispo Inácio Lucas.
Há também o radicalismo e o extremismo nas igrejas, segundo os bispos, que sugerem a criação de um gabinete nacional para combater os fenómenos. Até 2019, mais de mil confissões religiosas não estavam registadas em Moçambique. Na altura, o governo manifestou-se preocupado com a proliferação de confissões religiosas cuja finalidade é ganhar dinheiro. (Carta)