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quarta-feira, 04 janeiro 2023 07:47

Tragédia humanitária no vizinho Malawi: cólera já matou mais de 600 pessoas e milhares de moçambicanos podem estar em perigo

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Os últimos dados do Ministério da Saúde indicam que, até segunda-feira (2), o país registou 18.222 casos de cólera e 620 mortos, representando uma ameaça grave à saúde pública. O surto actual começou em Março do ano passado e, desde lá até cá, a doença foi-se alastrando pelos 28 distritos do país. As autoridades anunciaram que, só no domingo, 1º de Janeiro, o país registou um total de 366 novos casos e 19 novas mortes.

 

Enquanto isso, há temores de que os casos aumentem ainda mais, até ao fim da época chuvosa em Março próximo, devido às graves condições de higiene e saneamento no país e, provavelmente, neste momento em que está a ler este artigo, um malawiano deve estar a morrer de cólera ou a contrair a doença, num contexto dramático sem precedentes.

 

O cenário de aumento de novos casos e de mortes é baseado em previsões meteorológicas que apontam para a ocorrência de possíveis cheias e inundações, incluindo ciclones, que poderão afectar Malawi e outros países da SADC até Março próximo. Presume-se que alguns moçambicanos que vivem e trabalham no Malawi, maioritariamente no sector informal, possam estar inclusos no número de vítimas.

 

No entanto, como maior parte dos moçambicanos que vivem no Malawi (cerca de 50 mil) se fazem passar por malawianos, é difícil saber se estão ou não com cólera e muito menos determinar o número de eventuais casos e de mortos.

 

Para conter a propagação da cólera, o governo malawiano adiou, por duas semanas, a abertura do segundo semestre nas escolas primárias e secundárias nas cidades de Lilongwe e Blantyre, medida descrita como inoportuna pelos activistas dos direitos da educação. A ministra da Saúde, Khumbize Chiponda, justificou em comunicado divulgado na segunda-feira que o adiamento se deve "ao recente e contínuo aumento do número de casos e mortes de cólera", no que a ONU considera ser o maior surto a atingir o país em dez anos.

 

A decisão do adiamento da abertura dos estabelecimentos de ensino gerou uma confusão, uma vez que alguns alunos já haviam partido para as suas escolas, principalmente internatos, nas duas cidades.

 

O activista Benedicto Kondowe disse que, num cenário em que o governo considera pertinente fechar as escolas devido ao surto, seria melhor fechar todos os estabelecimentos de ensino porque assim será mais fácil ajustar o calendário escolar.

 

Ao saber da notícia, alguns pais e encarregados de educação que pretendiam deixar os seus filhos em internatos nas cidades de Lilongwe e Blantyre foram obrigados a dar meia-volta, alguns dos quais no meio do caminho para a escola.

 

Desde o início do surto em Março do ano passado, o distrito de Mangochi, junto à fronteira com Moçambique, registou o maior número de casos com 4.251 e 85 mortos, seguido de Blantyre, a capital comercial do Malawi, com 2183 casos e 105 mortos e Salima com 1.796 casos e 49 mortos, dados que estão em permanente evolução.

 

O governo malawiano tomou várias medidas, entre as quais, a proibição da venda de alimentos nas instalações das escolas primárias e secundárias e instou as instituições a estarem alertas e encaminharem imediatamente para a unidade sanitária mais próxima quaisquer casos de diarreia aquosa.

 

Os sintomas da cólera incluem diarreia aguda, vómitos, fezes profusas de "água de arroz" e desidratação. A oposição sugeriu ao governo para declarar estado de desastre nacional devido à cólera. Por seu turno, os líderes do sindicato dos professores dizem que, se as autoridades não melhorarem os protocolos de higiene, a situação de cólera poderá ficar fora de controlo.

 

"O saneamento é um problema em algumas escolas. Pedimos aos professores que monitorem seriamente os níveis de saneamento, pois sabemos que a doença se espalha rapidamente quando há falta de higiene"- diz a organização.

 

Segundo o ministério da Saúde, a cólera continua se espalhando, principalmente porque as pessoas não cumprem as medidas preventivas que incluem lavar as mãos com sabão antes de preparar os alimentos e observar os padrões de higiene individual e alimentar.

 

A instituição acrescenta que o aumento no número de mortes é resultado da relutância das pessoas em se apresentar às unidades sanitárias quando apresentam sintomas de cólera, seja por crenças religiosas ou por mera negligência.

 

A cólera é transmitida através de ingestão da água contaminada ou do consumo de alimentos contaminados e causa diarreia aguda. Em todo o mundo, a doença afecta entre 1.3 milhão e 4 milhões de pessoas a cada ano, causando até 143 mil mortes.

 

Malawi é um pequeno país com parte do seu território encravado em Moçambique, entre as províncias do Niassa, Tete e Zambézia, e é considerado um dos países mais pobres do mundo, com um sistema de saúde altamente precário. A OMS ainda não proibiu viagens de e para Malawi devido à cólera e, neste momento, o país está a implorar junto dos doadores para o fornecimento de mais vacinas orais contra a doença. (Carta)

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