A reacção do Observatório Cidadão para Saúde (OCS) surge no âmbito da greve desencadeada no passado dia 07 de Dezembro, pelos médicos, em todo o país. De acordo com esta associação, a greve dos médicos coloca em causa o atendimento adequado dos pacientes, visto que muitos serviços foram interrompidos, obrigando os utentes com mínimas condições a recorrerem ao sector privado ou a remarcarem as consultas para uma outra época, agravando o seu estado de saúde.
A associação vai mais além e faz uma análise do problema, em que entende que, apesar de serem legítimas as reivindicações dos médicos, a greve viola os direitos dos utentes e usuários dos serviços de saúde, que ficam privados da assistência médica e medicamentosa.
"A greve dos médicos é legítima, até porque foi aprovado um estatuto pelo parlamento e que até hoje não é cumprido pelo Governo”, disse o coordenador do pilar de Participação Pública do OCS, António Mate.
Segundo Mate, o assunto dos médicos data há bastante tempo, concretamente desde 2014, quando este grupo de profissionais iniciou a sua reivindicação, sendo esta a 3ª greve da classe na história do país.
Ele foi mais longe ao afirmar que Moçambique apresenta um grande défice dos recursos humanos para responder à demanda do Sistema Nacional de Saúde (SNS), agravando-se actualmente com a greve dos médicos, o que significa que, além deste problema, há um outro que é causado por esta paralisação das actividades por parte desta classe.
Em Moçambique um médico está para dez mil habitantes
Recorrendo a dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Observatório Cidadão para Saúde diz que em média 2.3 médicos estão para 1.000 habitantes, mas em Moçambique o panorama a que se assiste é de 0.8 (aproximadamente a 1) médico está para 10.000 habitantes. Isto significa que, para se poder chegar ao rácio mais distante recomendado pela OMS, deve-se aumentar a capacidade 10 vezes mais em termos de pessoal médico para se chegar à margem de 2.3 médicos para mil habitantes.
“Com estes dados, dá para perceber o caos que é instalado, primeiro com estes rácios importantes que o país deve alcançar, mas que não está a conseguir. Por isso, temos uma fraca cobertura dos médicos a nível do país. Mas temos um outro aspecto que foi discutido no Plano Económico e Social e Orçamento do Estado (PESOE 2023), que prevê o enquadramento do pessoal médico, com destaque para mais profissionais estrangeiros em detrimento dos nacionais”, explica Mate. (Marta Afonso)