A terceira greve nacional dos médicos entra hoje no seu quarto dia, numa altura em que a maior parte dos médicos denuncia intimidações, coerções e ameaças de processos disciplinares a serem instaurados pelas Direcções dos hospitais.
“A greve está a decorrer dentro do previsto e, até esta terça-feira, tínhamos um nível de adesão de 85% dos médicos em todo o país, sendo que os restantes profissionais estão a prestar serviços mínimos. No entanto, vários colegas estão a sofrer ameaças e intimidações por parte dos seus superiores”, explicou o Porta-voz da Associação Médica de Moçambique, Napoleão Viola.
Por outro lado, Viola garante que neste momento alguns médicos estão a trabalhar em escalas para garantir os serviços mínimos nos hospitais como previsto aquando do anúncio da greve. Entretanto, repudiam o facto de o Governo optar em chamar os médicos militares um pouco por todos os hospitais do país para prestarem atendimento aos pacientes.
“O que nós temos estado a fazer quando chegam os médicos militares para trabalhar é nos retirarmos para dar espaço a eles para continuarem com o trabalho porque não nos agrada em nada esta situação, porém, a continuarmos assim, poderemos paralisar todas as actividades do Sistema Nacional de Saúde Pública”.
“Repudiamos ainda o facto de o Governo estar a passar uma imagem de que nós os médicos somos insensíveis. Nós temos estado a ceder a algumas propostas que o Governo coloca na mesa, no entanto, cedemos quando há propostas concretas, como foi o que aconteceu em relação aos enquadramentos”, garante Viola.
Por outro lado, Viola lamenta o facto de, até aqui, muitos médicos não terem recebido os salários do mês de Novembro.
Entretanto, nesta terça-feira, na sessão do Conselho de Ministros, o titular da pasta de Saúde, Armindo Tiago, disse que o Governo apoia e solidariza-se com os profissionais de saúde que estão nas unidades sanitárias a cumprirem o seu dever e juramento e aquilo que se chama de sacerdócio médico.
“Aos colegas que estão na greve, o nosso apelo é no sentido de o mais rapidamente possível entenderem que a família da saúde quer a acção de cada um de nós para que em conjunto possamos responder aos interesses da saúde da nossa população, aliás, a nossa razão de ser profissionais de saúde. O Governo, no âmbito da sua boa-fé, está sempre disponível a continuar o diálogo como a melhor forma de resolver os problemas que colocam, mas o mais importante é perceber que as acções do Governo foram tomadas no contexto das limitações que o orçamento impõe e a necessidade de ver os funcionários públicos considerados da mesma forma”.
O ministro da Saúde reiterou que os médicos devem terminar a greve e voltar ao funcionamento normal. “Nós estamos a fazer uma avaliação diária do nível da adesão à greve, podemos dizer que a greve é sobretudo da região metropolitana de Maputo, um pouco a nível da cidade da Beira e existem províncias onde praticamente não há greve, como Cabo Delgado, Niassa e Quelimane, onde no primeiro dia da greve nenhum médico faltou nos hospitais”.
Refira-se que esta não é a primeira vez que os médicos realizam greve mediante “ameaças”. Em 2013, os médicos sofreram intimidações quando também reivindicavam pelos seus direitos e melhores condições salariais. (Marta Afonso)