O porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), Matthew Saltmarsh, afirmou, nesta terça-feira, em Genebra, que a violência em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, já forçou quase 1 milhão de pessoas a fugir nos últimos cinco anos.
Entretanto, os dados do ACNUR apontam que o número vem aumentando após cinco anos de conflito em Cabo Delgado e a instabilidade já se alastra às regiões vizinhas de Nampula e Niassa e até agora apenas 60% do valor necessário para ajuda humanitária foi financiado.
Segundo Saltmarsh, um facto trágico é que o conflito não abrandou e milhares de famílias ainda são forçadas a deixar as suas casas por causa de ataques de grupos armados não estatais.
"A violência extrema e o deslocamento tiveram um impacto devastador sobre a população. As pessoas testemunharam seus entes-queridos sendo mortos, decapitados e estuprados, e suas casas e outras infra-estruturas reduzidas à cinza. Homens e rapazes também foram incorporados à força em grupos armados. Os meios de subsistência foram perdidos e a educação paralisada, enquanto o acesso a necessidades como alimentação e saúde foi dificultado. Muitas pessoas foram novamente traumatizadas depois de serem forçadas a se mudar várias vezes para salvar suas vidas", refere Saltmarh, citado num comunicado de imprensa.
Contudo, volvidos cinco anos, após o início dos ataques armados no norte do país, a situação humanitária em Cabo Delgado continuou a deteriorar-se e os números de deslocados aumentaram 20 por cento, representando 946.508 no primeiro semestre deste ano.
"O conflito já se espalhou para a província de Nampula, que já testemunhou quatro ataques de grupos armados no mês de Setembro, afectando pelo menos 47.000 pessoas e deslocando 12.000", diz o documento.
"As pessoas deslocadas estão com medo e com fome. Elas não têm medicamentos e vivem em condições de superlotação com quatro a cinco famílias dividindo o mesmo tecto. Algumas dormem ao relento. A falta de privacidade e a exposição ao frio durante a noite e a outros elementos durante o dia criam preocupações adicionais de segurança e saúde, principalmente para mulheres e crianças".
Entretanto, o documento diz ainda que, apesar dos constantes deslocamentos em Cabo Delgado, algumas pessoas regressaram às suas casas onde consideram áreas seguras. Porém, Palma foi palco de ataques mortais em Março de 2021, que deslocaram a maioria das 70.000 pessoas do distrito. (Marta Afonso)