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BCI
quinta-feira, 17 março 2022 07:52

As máscaras das crianças, escreve António Prista

Desde o início da pandemia que a obrigatoriedade das crianças usarem máscaras nas escolas tem sido um assunto muito polémico. Entre algumas evidências da sua utilidade e os medos, a opção que pareceu sensata às autoridades sanitárias mundiais e nacionais pendeu para que até aos   12 anos o uso de máscara fosse adoptada tendo em atenção factores contextuais. A pesquisa desse assunto não encontra uma orientação taxativa que determine com exatidão o que se deve fazer. No nosso caso, o MISAU recomendou o seu uso a partir dos 12 anos, o que, por razões que desconheço, não foi seguido pelo Ministério de Educação, que determinou o obrigatório uso de máscara em todas as escolas e por todos os alunos independentemente da idade.  

 

São múltiplas as razões que se prendem com as hesitações e falta de consenso. As evidências científicas sobre a eficácia  e os malefícios são pouco robustas. Os poucos estudos apresentam grandes limitações. Sabe-se que o número de casos em crianças, bem como o seu grau de risco, é relativamente baixo, e suspeita-se que a habilidade das crianças para cumprirem com os procedimentos do uso de máscara de forma eficaz é muito duvidosa ou mesmo inexistente. Por outro lado são relativamente elevadas as  incertezas sobre os possíveis efeitos nefastos que no entanto são mais dedutivas que fruto de evidências.

 

Num quadro de tanta incerteza e controvérsia, e na grande possibilidade que a colocação de máscara em crianças possa ter grandes efeitos negativos,  há  algum consenso sobre o facto do uso da máscara neste grupo populacional só deva ser feita quando a situação epidemiológica seja de nível de risco elevado. Embora não haja dados objectivos, é de suspeitar que, nas nossas condições, as crianças usem a máscara de forma incorrecta e susceptível ao favorecimento da  propagação.

 

Ora em Moçambique o uso de máscara por crianças tem sido obrigatório independentemente do quadro da pandemia, isto é, o número de hospitalizações e casos não determina a regra adoptada. Isso acontece praticamente desde há dois anos. No momento actual, em que o número de casos e internamentos é quase nulo, as nossas crianças continuam a usar máscara o dia inteiro, abarcando com as consequência negativas e não se protegendo de coisa nenhuma. 

 

Assim, me parece ser de bom senso retirar essa proibição. Se os adultos podem estar em bares e festas fica  difícil entender que as crianças sejam impedidas de brincar livremente, acto indispensável ao seu desenvolvimento. Mais difícil ainda é entender como a orientação do Ministério de Saúde não é seguida nas escolas já que este último é o órgão que reúne competências no domínio da saúde. E não obstante a fraca evidência, há que considerar que vários estudos têm encontrado relatos de crianças que se queixam de grande desconforto,  irritação, dificuldade respiratória, distração e baixa aceitabilidade social provocados pelo uso prolongado da máscara.

 

Se no momento actual é recomendável usar máscara, então o seu uso vai se tornar perpétuo pois dificilmente teremos um quadro epidemiológico mais favorável daqui  para a frente. 

 

Fica a reflexão.

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