Líderes religiosos baseados em Cabo Delgado assinaram nesta segunda-feira, em Pemba, a declaração inter-religiosa de Pemba composta por 15 pontos. O documento é fruto de um seminário intitulado "religião como parte da solução do conflito" em Cabo Delgado e decorreu entre os dias 14, 15 e 22 de Dezembro do ano passado.
A declaração foi assinada pelos Sheik Nzé Assuate, do Conselho Islâmico de Moçambique, Dom António Juliasse Sandramo, da Igreja Católica, Sheik Nassurulahe Dulá, do Congresso Islâmico de Moçambique e o Pastor Alberto Sabão, do Conselho Cristão de Moçambique.
Assinaram igualmente o Sheik Abdul Latifo Incacha, da Comunidade Islâmica de Cabo Delgado, Sheik Victorino Luís Promoja, da União de Jovens Muçulmanos e Sheik Ismail Selemane, do Conselho dos Alimos de Cabo Delgado.
Segundo consta na declaração, a província de Cabo Delgado encontra-se mergulhada numa crise humanitária profunda causada pela violência terrorista, representando uma regressão dos indicadores de desenvolvimento. Para os líderes religiosos, a situação é agravada pelas consequências das medidas restritivas de prevenção contra a pandemia da Covid-19 e vários outros factores preocupantes, como as desigualdades sociais, e as polarizações étnicas e religiosas que ameaçam o actual contexto e convívio social.
Devido aos aspectos acima descritos, os líderes religiosos declaram a sua forte união perante qualquer ameaça de ruptura e repudiam os actos terroristas e extremistas, e comprometem-se a caminhar lado a lado em prol da paz e da fraternidade.
Eles juram igualmente continuar a trabalhar pelo verdadeiro sentido da religião, de modo que a sociedade não olhe a religião como causa de qualquer conflito, em particular a religião islâmica, a mais afectada pelos preconceitos.
Dos consensos alcançados no seminário, destaque vai ainda para a rejeição de quaisquer actos terroristas atribuídos à religião muçulmana e qualquer afirmação que associe tais actos aos princípios do Islão.
Na sua declaração, comprometem-se também a mobilizar e sensibilizar os adolescentes e jovens através de mensagens que desencorajam a adesão ao extremismo e a qualquer tipo de violência, bem como a colaborar com o governo, as instituições e organizações para o estabelecimento da paz na província de Cabo Delgado.
De referir que esta declaração surge numa altura em que mais de 10 lideres religiosos que se dedicam ao Islão foram acusados e detidos pelo Ministério Público em Cabo Delgado e, posteriormente, soltos sob Termo de Identidade e Residência por insuficiência de provas. (Carta)