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quarta-feira, 05 janeiro 2022 06:33

Combate ao terrorismo em Cabo Delgado: lideranças religiosas rejeitam atribuição dos actos terroristas à religião muçulmana

Líderes religiosos baseados em Cabo Delgado assinaram nesta segunda-feira, em Pemba, a declaração inter-religiosa de Pemba composta por 15 pontos. O documento é fruto de um seminário intitulado "religião como parte da solução do conflito" em Cabo Delgado e decorreu entre os dias 14, 15 e 22 de Dezembro do ano passado.

 

A declaração foi assinada pelos Sheik Nzé Assuate, do Conselho Islâmico de Moçambique, Dom António Juliasse Sandramo, da Igreja Católica, Sheik Nassurulahe Dulá, do Congresso Islâmico de Moçambique e o Pastor Alberto Sabão, do Conselho Cristão de Moçambique.

 

Assinaram igualmente o Sheik Abdul Latifo Incacha, da Comunidade Islâmica de Cabo Delgado, Sheik Victorino Luís Promoja, da União de Jovens Muçulmanos e Sheik Ismail Selemane, do Conselho dos Alimos de Cabo Delgado.

 

Segundo consta na declaração, a província de Cabo Delgado encontra-se mergulhada numa crise humanitária profunda causada pela violência terrorista, representando uma regressão dos indicadores de desenvolvimento. Para os líderes religiosos, a situação é agravada pelas consequências das medidas restritivas de prevenção contra a pandemia da Covid-19 e vários outros factores preocupantes, como as desigualdades sociais, e as polarizações étnicas e religiosas que ameaçam o actual contexto e convívio social.

 

Devido aos aspectos acima descritos, os líderes religiosos declaram a sua forte união perante qualquer ameaça de ruptura e repudiam os actos terroristas e extremistas, e comprometem-se a caminhar lado a lado em prol da paz e da fraternidade.

 

Eles juram igualmente continuar a trabalhar pelo verdadeiro sentido da religião, de modo que a sociedade não olhe a religião como causa de qualquer conflito, em particular a religião islâmica, a mais afectada pelos preconceitos.

 

Dos consensos alcançados no seminário, destaque vai ainda para a rejeição de quaisquer actos terroristas atribuídos à religião muçulmana e qualquer afirmação que associe tais actos aos princípios do Islão.

 

Na sua declaração, comprometem-se também a mobilizar e sensibilizar os adolescentes e jovens através de mensagens que desencorajam a adesão ao extremismo e a qualquer tipo de violência, bem como a colaborar com o governo, as instituições e organizações para o estabelecimento da paz na província de Cabo Delgado.

 

De referir que esta declaração surge numa altura em que mais de 10 lideres religiosos que se dedicam ao Islão foram acusados e detidos pelo Ministério Público em Cabo Delgado e, posteriormente, soltos sob Termo de Identidade e Residência por insuficiência de provas. (Carta)

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