As autoridades destacaram soldados durante a noite para uma cidade industrial perto da capital para reprimir os protestos anti-governamentais na última monarquia absoluta da África, disseram activistas pró-democracia na terça-feira.
Os protestos costumam ser raros no e-Swatini, mas nas últimas semanas ocorreram violentas manifestações anti-monarquia em algumas partes do país.
"Os militares estão nas ruas. Ontem foi a pior noite de todos os tempos, em que um jovem foi baleado à queima-roupa pelo exército e alguns estão no hospital neste momento", disse à AFP Lucky Lukhele, porta-voz do agrupamento pró-democracia Rede de Solidariedade.
De acordo com várias fontes, as lojas foram saqueadas e incendiadas durante a noite em Matsapha, um centro industrial na extremidade oeste da capital Manzini.
Lukhele disse também que suas fontes militares lhe garantiram que o rei Mswati III havia deixado o e-Swatini. Entretanto, uma fonte próxima ao governo disse à AFP que os relatos da fuga do Rei do país eram "notícias falsas".
O governo proibiu os protestos na semana passada, com o comissário da Polícia Nacional, William Dlamini, alertando que foi declarada "tolerância zero" em relação às manifestações. O Rei, coroado em 1986 quando tinha apenas 18 anos, foi criticado por seus excessos, enquanto a maioria dos habitantes vive abaixo da linha da pobreza.
Lembre-se, em 2019, o país foi abalado por uma série de greves de funcionários públicos que acusaram o monarca de esvaziar os cofres públicos à custa de seus súbditos.
Manifestantes exigem resignação do Rei
De acordo com testemunhas e imagens divulgadas nas redes sociais e grupos do WhatsApp, os manifestantes saquearam camiões que transportavam mercadorias da África do Sul, bloquearam estradas com barricadas em chamas e incendiaram supermercados.
Os líderes dos protestos apelidados de campanha Kungahlwa Kwenile apelaram aos cidadãos a queimar propriedades e negócios associados ao Rei. A campanha, cujos líderes procuraram permanecer anónimos, publicou as suas mensagens nas redes sociais e no Swaziland News, um jornal crítico do governo publicado na África do Sul.
"Ao lançarmos a campanha 'Kungahlwa Kwenile', queremos que todo o país esteja em chamas a partir de terça-feira. As pessoas devem ter como alvo as propriedades e negócios do Rei Mswati, como florestas de Montigny, reservas de caça, propriedades de parlamentares e propriedades do governo, entre outros. Todas as estradas devem ser bloqueadas em todo o país na noite de terça-feira", lia-se na campanha.
Os protestos surgem em resposta a um decreto do governo que proíbe os cidadãos de se manifestarem e entregar petições a funcionários do governo. Nas últimas semanas, estudantes e grupos de jovens marcharam exigindo reforma da polícia e liberdades democráticas.
Na semana passada, os protestos espalharam-se no meio rural do país, exigindo democracia multipartidária em regiões tradicionalmente leais ao Rei.
"O governo indicou que as reuniões de entrega de petições estavam degenerando em desordem e se tornando epicentros da violência", disse o comissário nacional de polícia num comunicado, acrescentando que a polícia estava "preparada e totalmente comprometida" para fazer cumprir a ordem.
Entretanto, observadores disseram que esta declaração foi interpretada como um "grito de guerra", alimentando ainda mais a raiva.
Líderes da campanha de Kungahlwa Kwenile disseram que os protestos de terça-feira foram a primeira "fase" das manifestações, acrescentando "este é apenas um aviso que durará duas semanas". Se o governo do e-Swatini não iniciar negociações com os cidadãos, a campanha terá como alvo as escolas.(F.I)