Continua visível a renitência dos cidadãos moçambicanos, em particular da capital do país, em relação ao cumprimento das medidas de prevenção contra o novo coronavírus, que já infectou mais de 45 mil pessoas, das quais perto de 500 perderam a vida. Só na província e cidade de Maputo, o novo coronavírus já infectou mais de 28 mil pessoas, sendo que mais de 400 morreram.
Com o recolher obrigatório em vigor na região do Grande Maputo (cidades de Maputo e Matola e distritos de Boane e Marracuene), desde o passado dia 05 de Fevereiro, entre as 21:00 horas e as 04:00 horas, “Carta” saiu à rua para perceber como os cidadãos têm cumprido esta e outras medidas de prevenção contra o vírus.
Tal como se vem notando, desde a eclosão da pandemia, os cidadãos continuam a não usar a máscara, a não higienizar as mãos, assim como a ignorar o distanciamento físico, sobretudo, quando se procura por serviços bancários e/ou de emissão de documentos de identidade e de viagem. Alguns estabelecimentos comerciais já “arrumaram” os termómetros (para medição da temperatura) e outros já se esqueceram do álcool em gel e dos baldes com água e sabão para a higienização das mãos.
Questionados pela “Carta” sobre o não uso das máscaras, alguns respondem não estar em sítios aglomerados, pois, para eles, só nos transportes semi-colectivos há enchentes. Carla Matsinhe, de 28 anos de idade, residente no bairro das Mahotas, diz não usar a máscara porque a sufoca, pelo que só a coloca quando pretende tomar transporte ou entrar num estabelecimento comercial.
“Em cada bolsa tenho uma máscara, mas coloco quando chego na paragem para apanhar chapa ou quando vejo a Polícia. Não consigo ficar de máscara sempre na rua porque não consigo respirar”, disse ela à reportagem da “Carta”.
Já Jaime Cossa, residente no bairro T3, no Município da Matola, província de Maputo, garante estar a usar apenas máscara descartável porque não consegue usar a de capulana. Porém, a mesma é usada por mais de três dias e até é lavada, pois, diz não ter condições para comprá-la todos os dias.
“Já tive um primo que ficou contaminado com a Covid-19, por isso nunca saio sem máscara de casa, mas uso somente as máscaras descartáveis e lavo constantemente para não ter de comprar sempre. Quando saio à rua, minha maior preocupação são meus filhos que gostam de brincar na rua e não aceitam sair com máscaras e mesmo quando voltam para casa não têm hábito de lavar as mãos”, afirmou.
Por seu turno, Carlos dos Santos, de 26 anos de idade, desencoraja o uso de álcool em gel, porque, na sua óptica, queima as mãos, caso seja usado com muita frequência. “Para mim, a melhor forma de se prevenir é ficar em casa e devemos usar mais a água e o sabão”.
Francisco Mindo, residente no bairro Patrice Lumumba, também no Município da Matola, província de Maputo, exorta aos seus concidadãos a cumprirem com as medidas de prevenção, desencorajando, aliás, a realização de festas privadas, tendo em conta que, no momento das refeições, as máscaras são deixadas de lado.
Para Adelino Simão, residente no bairro Luís Cabral, a Polícia deve fazer-se presente em todos os bairros para garantir o uso obrigatório das máscaras, assim como a realização das inspecções aos estabelecimentos comerciais dos bairros periféricos, de modo a se aferir o grau de cumprimento das medidas de prevenção contra o novo coronavírus.
Refira-se que o recolher obrigatório, a partir das 21:00 horas, na região do Grande Maputo, continua sendo um sonho, pois, até essa hora, as pessoas continuam a lotar as paragens à espera de transporte para chegar às suas residências. (Marta Afonso)