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sexta-feira, 28 agosto 2020 06:16

Economista do CIP exige responsabilização de quem autorizou pagamentos indevidos no INSS

Celeste Bandze, economista investigadora no CIP

Perante críticas do auditor independente às contas do Instituto Nacional de Segurança Social (INSS) referentes ao ano de 2019, em que, tal como no ano anterior, a instituição despendeu milhões de Meticais para pagamentos, quase na totalidade, a obras inacabadas, a economista do Centro de Integridade Pública (CIP), Celeste Banze, exige responsabilização dos autores.

 

No Relatório e Contas de 2019, o auditor independente expõe que o INSS gastou quase 1.3 mil milhões de Meticais para pagar uma obra que, para cúmulo, se encontra parada há mais de quatro anos e para a qual existe um processo de disputa com o Empreiteiro.

 

Face a essa realidade, que choca a milhares de contribuintes do INSS, a economista e pesquisadora do CIP, Celeste Banze, questiona: “Quem autorizou o pagamento desse valor? Para que obra? E porquê?”.

 

Antes de exigir a responsabilização do sujeito que defraudou os fundos públicos para fins obscuros, Banze felicita o INSS pela publicação dos relatórios e contas e diz que a atitude demonstra transparência, embora questionável, pois, não é visível no relatório o autor dos pagamentos e justificação dos destinos. E, de facto, o informe é omisso em relação a esses pormenores.

 

À busca desses detalhes, “Carta” contactou, no início desta semana, o Director-Geral do INSS, Alfredo Mauaie, mas mostrou indisponibilidade para abordar o assunto.

 

Por soar à corrupção (aliás, o Presidente do Conselho de Administração do INSS, Francisco Mazoio, encontra-se, desde o ano passado, encarcerado por alegados crimes do género praticados na instituição), a investigadora do CIP sublinhou que não basta publicar as contas, mas importa agregar aos informes maior transparência.

 

Depois de conhecido o autor dos pagamentos, Banze exige que seja responsabilizado e que a prática recorrente e criticável não volte a acontecer, por manchar a imagem do INSS.

 

Pagamentos obscuros retiram confiança dos contribuintes

 

Num outro desenvolvimento, a economista apontou que, por conta daqueles pagamentos milionários sem a devida justificação, a despesa total do INSS, referente a 2019, cresceu significativamente face ao ano anterior e num ano em que os lucros da instituição caíram e se situaram abaixo da despesa.

 

O informe, do qual já noticiamos, mostra que, no ano em análise, os lucros do INSS caíram em 8.24%, de 7.8 mil milhões de Meticais em 2018, para 7 mil milhões de Meticais, em 2019, mas as despesas correntes do período cresceram para 7.2 mil milhões de Meticais contra 6 mil milhões registados em 2018.

 

A investigadora realçou que o crescimento acentuado dos gastos é um fenómeno que se torna normal e preocupante nos últimos anos, em que a instituição alega estar em contenção. É que, fundamentou Banze, em 2018, também a despesa do INSS cresceu em cerca de 9,17% do que, em 2017, foi em cerca de 3,59%.

 

Como consequência desses desempenhos, a nossa entrevistada antecipa um INSS insustentável e, por isso, menos fiável aos contribuintes. “A crescente subida da despesa, perante menos renda, cria pressão sobre a sustentabilidade do INSS e, como consequência, põe em risco o cumprimento das suas obrigações para com os cidadãos”, afirmou Banze.

 

Mau desempenho poderá continuar nos próximos anos

 

Em entrevista ao nosso jornal, aquela investigadora do CIP antecipa que o mau desempenho do INSS seja pior nos próximos exercícios económicos, por causa da crise pandémica que levou milhares de moçambicanos ao desemprego. Ou seja, explicou a fonte, sem emprego, as empresas e trabalhadores paralisados não podem canalizar as suas contribuições à segurança social obrigatória.

 

Embora tenha lançado uma linha de financiamento a Pequenas e Médias Empresas, com destaque para o sector de hotelaria e turismo, avaliada em 600 milhões de Meticais, Banze diz esperar por mais acções robustas e enérgicas por parte do INSS, com vista a salvar o seu activo, os empregos.

 

A propósito dos empregos, a nossa interlocutora referiu-se ao estudo da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), publicado em Junho último, segundo o qual, cerca de 30 mil contratos de trabalho haviam sido suspensos e, considerando este ritmo de evolução, estima-se que, até ao final do ano, este número aumente para 63 mil. A acontecer, anotou Banze, isto poderá impactar negativamente no desempenho do INSS, por isso é chamado a contribuir para manutenção dos empregos.

 

No Relatório e Contas de 2019, os administradores do INSS apontam outro factor que poderá denegrir o desempenho da instituição neste ano, com o pagamento das pensões. Os gestores do INSS prevêem que, no contexto da Covid-19, em casos de doença e morte atestados para atribuição dos subsídios, poderá existir um impacto financeiro na ordem de 57 milhões de Meticais, um montante que corresponde a cerca de 30% do plano de tesouraria para estas despesas no exercício de 2020. (Evaristo Chilingue)

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