Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

BCI
quinta-feira, 17 outubro 2019 05:33

Ecos da votação em Nampula: Delegados de Candidatura acusados de atrasar o processo

Passam mais de 24 horas, depois da realização das VI Eleições Gerais e III das Assembleias Provinciais, em todo o território nacional. Em Nampula, sobretudo na sua capital, a morosidade e o elevado número de votos especiais foram apontados como as principais manchas do processo, que pretendia eleger, pela primeira vez, o Governador provincial.

 

Até às 18 horas do dia 15 de Outubro, hora em que devia encerrar o processo de votação, eram visíveis enormes filas de eleitores, aguardando pelo seu momento de exercer o seu direito cívico. “Carta” testemunhou tais situações nos Postos de Votação instalados no Instituto Industrial e Comercial de Nampula, Pavilhão dos Desportos e EPC Parque dos Continuadores. Situação igual verificava-se também na EPC Namicopo-Sede, onde até às 16:20 horas, as nove mesas de voto instaladas naquele posto de votação ainda registavam filas de votação, com mais de uma centena de eleitores.

 

 

A “Sala da Paz”, plataforma das organizações da sociedade civil que monitoram o processo eleitoral, revela, por exemplo, ter registado presença de eleitores até depois das 18 horas na EPC de Limoeiros, no centro da cidade de Nampula, e de outra fila de eleitores na EPC de Nacuache, no distrito de Érati, até perto das 20 horas.

 

Eduardo Costa, eleitor daquele posto de votação, disse à “Carta” que a enchente se devia à lentidão que se verificava no processo de votação. “Cheguei às 13:00 horas, mas até agora só vi poucas pessoas a saírem da sala”, disse à nossa reportagem.

 

À nossa reportagem, Hélder Bambo, presidente de uma das Mesas de Votação instaladas no Pavilhão dos Desportos, explicou que a lentidão se deveu, em grande parte, aos Delegados de Candidatura que passavam quase maior parte do tempo a discutir que a tratar questões do processo eleitoral.

 

“Os Delegados impediam quase tudo. Ora discutiam, ora diziam que não encontravam os nomes dos eleitores, o que atrasava o processo. Tu podias ditar o nome, um dizia que não ouviu e quando repetisses, outro dizia a mesma coisa, o que tornava o processo muito lento. Mas, conseguimos atender todos os eleitores até às 18:00 horas”, garantiu a fonte, acrescentando que o facto contribuiu para o tardio apuramento de votos.

 

“Carta” registou diversas situações de desentendimento de Delegados de Candidatura, que levaram alguns eleitores a não votar. Duas situações foram registadas no Pavilhão de Desportos, onde igual número de eleitores foram impedidos de votar porque os seus cartões de eleitores não apresentavam carimbos. Durante a discussão, testemunhou “Carta”, os Membros das Mesas de Votação (MMV) defendiam que os referidos eleitores deviam exercer o seu direito porque os seus nomes constavam dos cadernos eleitorais, mas os delegados de candidatura não aceitavam que tal acontecesse.

 

Situação similar aconteceu numa das Mesas de Voto instaladas no Instituto Industrial e Comercial de Nampula, onde o delegado de candidatura da Renamo impediu um eleitor de exercer o seu direito cívico por não ter apresentado cartão de eleitor, apesar de este ter levado consigo a cópia daquele documento, cédula pessoal e ter-se confirmado que o mesmo estava inscrito naquela Assembleia de Voto. Os MMV, delegados de candidatura da Frelimo, MDM e AMUSI e os observadores eleitorais ali presentes tinham dado luz verde para que o jovem votasse, mas o delegado da Renamo negou que tal acontecesse.

 

Aliás, na mesma Assembleia de Voto, o repórter da “Carta” quase era impedido de exercer o seu direito cívico, pelo Delegado de Candidatura da Renamo, alegadamente porque saiu de Maputo para encher votos em Nampula.

 

O chamado show dos delegados de candidatura continuou durante a noite, onde contam observadores da “Sala da Paz”, que numa das mesas instaladas em Carrupeia, um dos delegados de candidatura pedia, repetidamente, a repetição da contagem dos votos. Aliás, até às 7:00 horas desta quinta-feira, algumas Mesas ainda não tinham terminado de preencher os editais, devido à demora durante a contagem dos votos.

 

Votos especiais “desequilibram” contas

 

Outro facto registado pela “Carta” é o elevado número de votos especiais verificados em algumas Mesas de Votação. Do levantamento feito, “Carta” constatou que, em algumas Mesas, o número de votos especiais correspondia quase à metade do número de votantes inscritos nessas mesas.

 

Nas Mesas instaladas no Pavilhão dos Desportos, a nossa reportagem deparou-se com duas mesas em que houve registo de mais de 100 votos especiais. Na primeira, estavam inscritos 800 eleitores, porém, 466 não foram votar, entretanto, a urna produziu 479 votos, ou seja, mais 145 eleitores votantes não inscritos naquele posto.

 

A outra Mesa registou 128 votos especiais, depois de 345 eleitores terem ficado em casa, dos 800 que eram esperados naquele dia. Votaram naquele dia 464 eleitores. Nas outras mesas, os números variam entre 13 a 23 votos especiais. Aliás, o caso inédito foi registado na Escola Industrial e Comercial de Nampula, onde apenas uma mesa (03001-01) não registou nenhum eleitor especial.

 

Hélder Bambo, que foi o único Presidente de Mesa que aceitou falar à nossa reportagem, disse à “Carta” que a existência de diversos eleitores que gozam de votos especiais foi motivo de muita discussão entre os MMV e os Candidatos de Candidatura, pois, os homens contratados pelo Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (STAE) para assegurar o processo diziam que não havia limitação do número de votos especiais, enquanto os delegados defendiam que havia um número limite.

 

“Não conseguíamos deixar agentes da Polícia, Observadores e até Jornalistas não votarem porque já temos um número elevado de votos especiais. Durante a formação não fomos informados nada acerca deste aspecto”, explicou a fonte.

 

Outros casos    

                                               

A “Sala da Paz”, em Nampula, fala de casos de tentativa de enchimento de urnas, registados no princípio da tarde, na Escola 07 de Abril, na cidade de Nampula, por um observador eleitoral, cuja organização não foi revelada. Outros dois casos aconteceram no distrito de Angoche, na Escola Primária de Farlahi. Aliás, de acordo com aquela plataforma de observação eleitoral, em Angoche, registou-se também a vandalização da residência e viatura oficial do Chefe do Posto Administrativo de Namaponda.

 

Ainda em Namaponda, a “Sala da Paz” revela que o processo de contagem e apuramento não chegou ao fim, devido ao desentendimento entre MMV e os Delegados de Candidatura, o que obrigou que as urnas fossem levadas para os órgãos de administração distrital.

 

Aquela plataforma de observação eleitoral fala de situação de corte de energia, em Murrapaniwa e de oscilação da corrente eléctrica, em Nampaco, bairros da cidade de Nampula, durante o processo de contagem dos votos.

 

Entretanto, a Polícia da República de Moçambique, em Nampula, na voz do seu porta-voz, Zacarias Nacute, faz um balanço positivo do processo, porém, sublinha o registo de algumas situações de perturbação no distrito de Nacala-Porto, onde a população colocou barricadas na via pública durante o processo de contagem de votos, o que levou à detenção de cinco pessoas; a tentativa de introdução de boletins de voto na urna na EPC de Nalia, na Ilha de Moçambique.

 

Refira-se que recensearam, na província de Nampula, um total de 2.361.973 eleitores, e foram instaladas 3.486 Mesas de Voto a nível de toda a província. Na capital provincial estavam instaladas 564 Mesas de Voto, que esperavam receber 416.386 eleitores. (Abílio Maolela, em Nampula)

Sir Motors

Ler 2755 vezes