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quinta-feira, 29 dezembro 2022 07:10

Barão de drogas na AR: SERNIC "apaga" deputado dos arquivos e Frelimo mantém silêncio

O famigerado barão de drogas da AR morreu hoje. Ou seja, foi apagado da história. Sua vida foi supersónica, sofregamente vivida entre um misto de frenética e anónima exposição mediática e um silêncio altamente ensurdecedor do Partido Frelimo. 

 

O barão nasceu de uma narrativa anónima, mas com origem nos meandros do SERNIC (Serviço Nacional de Investigação Criminal), na Zambézia. Ontem, o SERNIC em Maputo declarou que nunca houve um deputado mencionado em investigação sobre tráfico de drogas. Seis semanas depois, o SERNIC em Maputo decidiu reagir, numa clara fuga para frente. Mas quem acredita neste SERNIC? Uma entidade que já teve operacionais mergulhados na indústria dos raptos?

 

Este caso ainda vai fazer correr tinta e, por mais que se queira esconder a identidade do referido deputado-barão, seu nome já é conhecido nos meandros públicos, pois as evidências que levam a ele são claras. A narrativa anónima com origem nos meandros do SERNIC, na Zambézia, rezava assim:

 

O Porto de Macuse, na Zambézia é uma das “novas portas” de entrada de drogas pesadas em Moçambique. O Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) na Zambézia prendeu dois supostos membros da extensa rede “com tentáculos políticos de grande envergadura”. Entre os detidos está um antigo comandante da base naval em Macuse e proprietário de três embarcações rápidas e um professor da Escola Secundária Bonifácio Gruveta de Macuse.

 

O Porto local é usado para escoar drogas pesadas, como heroína e metanfetaminas, que depois são distribuídas para as cidades de Quelimane, Nampula e Cidade da Beira. O esquema passa pela recolha da droga no alto-mar, que chega através de navios e o grupo, com recurso a três embarcações a motor, dirige-se ao local e recolhe as substâncias para o exterior, onde o professor, ora detido em plena sala de aula, tinha como principal papel levar as drogas na sua viatura para as cidades acima mencionadas.

 

O SERNIC interceptou uma viatura que transportava as substâncias psicotrópicas vinda da rota do Supinho. Durante a operação, houve uma forte troca de tiros em plena madrugada, levando as autoridades a efectuar as detenções no dia seguinte.

 

Após investigação, o SERNIC concluiu que o esquema envolve um representante do povo na “casa do povo”, eleito a partir do círculo eleitoral da Zambézia. Duas semanas depois desta narrativa ter circulado de forma viral nas redes sociais, nomeadamente a 1 de Dezembro, o deputado Venâncio Mondlane fez uma interpelação na Assembleia da República, trazendo, essencialmente, a seguinte informação:

 

  1. i) Que o SERNIC na Zambézia estava disponível a ajudar a AR na identificação do tal deputado “bem destacado” AR.
  2. ii) De acordo com a informação fornecida pelo SERNIC da Zambézia, esse deputado é membro da Comissão Permanente da AR.

 

Venâncio Mondlane desafiou a Assembleia da República a fazer um ofício dirigido ao SERNIC da Zambézia para identificar o deputado. A 23 de Dezembro, a AR anunciou a abertura de uma Comissão de Inquérito para averiguar as alegações e identificar o deputado em causa. A Comissão, composta por 7 deputados (3 da Frelimo, 2 da Renamo e 1 do MDM), vai revelar os seus resultados no próximo dia 2 de Fevereiro.

 

“Carta de Moçambique” analisou os dados disponíveis e chegou a uma conclusão sobre a identidade do deputado. Uma conclusão óbvia: ele é o único membro da Comissão Permanente da AR, como deputado da Frelimo eleito pelo círculo eleitoral da Zambézia. “Carta” estranha o silêncio do Partido Frelimo quanto a este assunto. As alegações que envolvem o referido deputado atingem também o partido no poder. Mas a Frelimo manteve-se no silêncio, adensando a suspeita de que, a ser verdade o que se alega contra o seu destacado membro, tem conhecimento dessas actividades e pactua com elas.  

 

Aliás, seria completamente inverosímil que Injojo pudesse estar metido em negócios ilegais de grande gravidade sem a anuência do Partido. As alegações sobre a existência de um barão de drogas na AR são de grande gravidade e colocam em causa a imagem do Parlamento perante a sociedade e do Estado moçambicano no concerto das nações.

 

Ontem, este caso teve um contorno hilariante. Leonardo Simbine, o porta-voz do SERNIC em Maputo, declarou à imprensa que não há nenhum processo em investigação relacionado com deputados envolvidos no tráfico de drogas através do Porto de Macuse.

 

Estranho. Demasiado estranho. O desmentido do SERNIC adensa mais a poeira aos olhos da opinião pública. Desde cedo que se alegou que a informação inicial decorria de uma investigação do SERNIC. Esta informação inicial foi posta a circular há cerca de 6 semanas. Durante todo esse tempo, o SERNIC não veio desmentir qualquer alegação sobre a existência de qualquer investigação. Mesmo quando Venâncio Mondlane mencionou inúmeras vezes o nome da entidade em sede da Assembleia da República. E, de repente, quando se anuncia a data do arranque dos trabalhos da comissão de inquerito, o SERMIC vem dizer que tudo era mentira! Ninguém acredita!. (Marcelo Mosse)

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