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segunda-feira, 10 outubro 2022 04:13

Combate ao terrorismo: General Eugene Nkubito é novo Comandante do Contingente ruandês em Cabo Delgado

O major-general Eugene Nkubito é o novo comandante da força-tarefa conjunta das Forças de Segurança do Ruanda (RSF) em Cabo Delgado, norte de Moçambique. Nkubito substitui o major-general Innocent Kabandana recentemente promovido a tenente-general pelo presidente Paul Kagame.

 

Em entrevista ao diário ruandês NewTimes, após o desembarque em Afungi, no distrito de Palma, a 26 de Setembro, de uma equipa deste jornal, Nkubito foi parco em palavras sobre o seu perfil, mas preferiu em PowerPoint dar o roteiro sobre as realizações das Forças de Segurança do Ruanda, a situação de segurança actual, a missão das suas forças, bem como os desafios no terreno. No final, talvez depois de detectar que alguns jornalistas queriam fazer perguntas, ele disse: "Isto não é uma conferência de imprensa", e saiu da sala. E o encontro terminou.

 

Quatro dias depois, os jornalistas ruandeses voltaram a encontrar o major-general Eugene Nkubito durante um programa de assistência médica conduzido pelas equipas médicas das forças de segurança ruandesas e moçambicanas em Quionga, 47 quilómetros a norte de Afungi.

 

Apesar do calor sufocante do meio-dia, o veterano "guerreiro" forjado e temperado em longas batalhas não parecia um homem pronto para passar à reserva. O general que completou 56 anos na terça-feira, 4 de Outubro, tem uma carreira militar de 35 anos.

 

Pai de três filhos, duas meninas e um rapaz, ingressou no então Exército de Resistência Nacional (NRA) de Uganda, em 1987, aos 21 anos. Três anos depois, em Outubro de 1990, como sargento, juntou-se a outros ruandeses na luta pela libertação do Ruanda.

 

Quatro anos depois, ele e outros finalmente impediram o genocídio de 1994 contra os tutsis. Nkubito estava no batalhão de 600 homens e mulheres que iniciou o contra-ataque para acabar com o Genocídio a partir da sua base no edifício do Parlamento (antigo Conselho Nacional de Desenvolvimento ou CND), em Abril de 1994.


Os 600 soldados chegaram lá em 28 de Dezembro de 1993. A sua principal missão era proteger os políticos da Frente Patriótica do Ruanda (RPF) em Kigali.

 

Este pequeno número de tropas do Exército Patriótico do Ruanda (RPA), que só tinha armas leves, foi cercado por mais de 10.000 soldados do governo e milícias posicionados a algumas centenas de metros de distância em todas as direcções. Apesar dos perigos, as tropas do RPA constantemente saíam de sua base, atacavam o exército do regime genocida e salvavam centenas de vidas.

 

Na altura, com apenas 100 soldados, Nkubito, então Capitão, comandava a Companhia Sede encarregue da segurança da sua base, em pleno território inimigo. Eles vigiaram e defenderam a sua base ferozmente, realizando operações extraordinárias contra o exército do regime genocida, as Forças Armadas Ruandesas, até que os reforços chegaram em 11 de Abril de 1994.

 

A sua experiência na luta pela libertação faz com que ele e muitos outros oficiais ruandeses como ele se destaquem nas missões actuais.

 

A missão de Nkubito nos distritos de Palma e Mocímboa da Praia, área sob responsabilidade das suas forças, é, em geral, a "estabilização" após a derrota dos terroristas. Com centenas de pessoas a regressar às suas aldeias, Nkubito está a fazer todo o possível, em colaboração com as forças moçambicanas e as autoridades locais, para garantir que as pessoas estejam seguras e devidamente atendidas, incluindo o fornecimento de cuidados médicos gratuitos muito necessários.

 

Consciente de que os terroristas continuam à espreita em distritos como Macomia e Nangade, Nkubito está sempre alerta. Mas ele não está, de forma alguma, intimidado pela tarefa em suas mãos.

 

Escreve o jornal ruandês que, depois de libertar Ruanda, a sua geração de oficiais sabe o que é preciso para ter um país estável e pacífico. Eles estão preparados para dar tudo de si em Moçambique.

 

"Estou optimista de que vamos cumprir a missão. A segunda e a terceira fases não foram fáceis. A quarta é de estabilização e é uma fase que já fizemos. Sabemos como é. Sabemos o que é necessário para nós fazermos isso, e estamos preparados para fazê-lo", disse Nkubito.

 

"Se eles [terroristas] se atreverem a voltar, eles devem encontrar-nos prontos para eles."

 

Antes da sua nova missão em Moçambique, Nkubito, que possui um Diploma de Pós-Graduação em estudos de segurança pela Universidade do Ruanda e um Diploma em Gestão e Administração de Empresas pela Universidade Internacional de Cambridge no Reino Unido, foi Comandante da Primeira Divisão, supervisionando a Província Oriental do Ruanda e Kigali. Anteriormente, ele também foi Comandante da Segunda Divisão e Comandante da Divisão da Força-Tarefa, em momentos diferentes. Comandou ainda quatro brigadas diferentes, bem como o 11º e o sétimo batalhões da RDF, em épocas diferentes.

 

O fervoroso torcedor do APR FC e do FC Barcelona participou em vários cursos militares, incluindo o Curso de Comando e Estado-Maior Sénior e vários Cursos de Manutenção da Paz da ONU no Quénia. Também tem experiência em operações internacionais de manutenção da paz.

 

Em 2012, comandou um contingente ruandês sob égide da Missão das Nações Unidas e da União Africana em Darfur (UNAMID). Alguns anos depois, ele também foi representante sénior do Ruanda na Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul (UNMISS) e Comandante do Sector de Juba.

 

Em Cabo Delgado, uma das coisas que lhe ocupa a cabeça é: "Como foi possível a situação chegar a este ponto?" A causa ou a raiz do terrorismo ligado ao Estado Islâmico em Cabo Delgado está sempre na sua mente.

 

"Esta é uma lição aprendida e devemos entender completamente o porquê e garantir que isso nunca aconteça no Ruanda. É uma lição que deve ser aprendida com Moçambique. Há lições do que aconteceu na República Centro-Africana, Sudão do Sul e o que aprendemos com Darfur [no Sudão]. Hoje estamos em Moçambique. Todas essas situações são diferentes."

 

As forças ruandesas chegaram a Moçambique em Julho do ano passado, a pedido de Maputo, para combater os terroristas em Cabo Delgado. (Carta)

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