No mundo da competição, os canais de notícias buscam apenas notícias sensacionais como escândalo, conflito, drama para atrair o público. Eles não dão uma cobertura justa às histórias existentes à medida que uma história nova implica mais tempo e recursos com a pesquisa jornalística. É devido a esta urgência e corrida pela instantaneidade que deixa cidadãos perplexos, cínicos e “cansados” com a política e os políticos.
O que resulta é que apesar de tanta informação a circular; apesar de tantos problemas por resolver, grande parte das notícias que os cidadãos consomem não apresenta qualquer tipo de solução. São diariamente problemas atras de problemas; por outro lado, os apparatchiks se esforçam em dominar as manchetes com as ditas “boas noticias”, em forte competição com o chamado jornalismo cívico, já ele extremamente desviado dos seus prolegómenos.
Como forma de enfrentar este “cansaço”, está a surgir uma nova abordagem jornalística que tem por objectivo dar resposta aos demais problemas sociais. Essa abordagem jornalística chama-se solutions journalism, ou seja, jornalismo de soluções. Começou nos EUA e rapidamente está se alastrando para Europa e America Latina.
O jornalismo de soluções é um relato rigoroso e baseado em evidências sobre as respostas aos problemas sociais. As notícias identificam as causas profundas de um problema social; destacam a resposta ou respostas para esse problema; apresentam evidências do impacto dessa resposta; e explica como e por que a resposta está a funcionar ou não. Quando possível, as notícias também apresentam uma abordagem que ajude as pessoas a melhor entenderem como sistemas complexos funcionam e como podem ser aprimorados.
Os proponentes do jornalismo de soluções distinguem a abordagem da chamada reportagem de “boas notícias”, que pode ser caracterizada por uma apresentação superficial de uma resposta sem uma análise cuidadosa ou um exame sobre se a resposta é ou não eficaz. As histórias de soluções avaliam as respostas que funcionam hoje, em oposição a teorias não testadas - e tendem a dar mais ênfase à inovação do que a pessoa ou instituição responsável por tal inovação. E é aqui onde reside a maior diferença entre jornalismo de soluções e relações públicas ou “encomendas noticiosas/propaganda”
Os defensores do jornalismo de soluções acreditam que ela fornece um importante sistema de feedback que permite à sociedade ver possibilidades confiáveis e responderem com mais sucesso aos desafios emergentes. Relatos convincentes sobre respostas a problemas sociais, dizem eles, podem fortalecer a sociedade aumentando a circulação do conhecimento necessário para o engajamento de cidadãos na solução dos seus problemas, tomando decisões apropriadas.
Na verdade, o que mais falta para um debate frutuoso são ideias de soluções e não necessariamente relatos de más notícias ou de insucesso.
Alguns estudos mostram que a simples reportagem de problemas tem o potencial de reduzir o senso de eficácia dos cidadãos, levando-os a se desvincular da vida pública. Num estudo de 2008, a Associated Press dos EUA concluiu que os jovens estavam cansados de notícias. Segundo o estudo, os jovens viam a maioria das notícias como sendo negativas e que não apresentavam uma solução concreta e prática. Tal resultou em "fadiga de notícias", onde as pessoas tendem a ignorar as notícias e desengajam-se.
O jornalismo de soluções postula que o relato de como os problemas estão sendo abordados pode aumentar o engajamento dos cidadãos, melhorar o senso de eficácia e promover o discurso construtivo em torno de questões controversas.
Os profissionais de jornalismo de soluções dizem que a abordagem aumenta e complementa o papel de vigilância tradicional da imprensa (WatchDog) ao apresentar aos cidadãos uma visão mais completa dos problemas e um conjunto de respostas a estes mesmos problemas. Além disso, eles dizem que pode aumentar o impacto do jornalismo investigativo, apresentando evidências de problemas resolvidos ou com propostas de soluções.
O jornalismo de soluções não é o mesmo que jornalismo cívico. Este último é um movimento que ganhou força nos Estados Unidos nos anos 90 ao defender um papel mais activo para o jornalismo no processo democrático.
Num contexto de grande incerteza e ansiedade, os cidadãos podem beneficiar deste tipo de jornalismo, encorajando-os a se engajarem na vida pública. Não é a consciência do desespero que engaja cidadãos. Pelo contrário, é a consciência das possibilidades que os motiva para o debate.