O sociólogo e académico Elísio Macamo defende a necessidade das universidades não se limitarem a transmitir conhecimento ou habilidades técnicas, mas também a ensinar aos estudantes a pensarem por si próprios, dotando-os, para tal, da capacidade teórica, conceitual e metodológica de interpelação crítica da realidade.
Para Elísio Macamo, o ensino superior em Moçambique deve ser concebido não como a produção de soluções práticas para os problemas de desenvolvimento, mas como um espaço onde se cultiva o hábito e a postura de abordagem do mundo como um mistério a ser desvendado.“Isso pressupõe a resistência à ideia de que os problemas já são conhecidos.
Pessoas que pensam por si próprias são indispensáveis à sociedade, e as universidades comprometidas com esse desiderato são absolutamente necessárias”, disse o académico, que foi um dos oradores da segunda sessão do ciclo de palestras alusivo aos 25 anos da Universidade Politécnica, que decorreu recentemente, em formato híbrido.
O ciclo de palestras teve como lema “Celebrar a Universidade, Perspectivar o Ensino Superior no Século XXI”, e visava reflectir sobre a mobilidade e internacionalização em tempos de pandemia. A propósito, a académica Hilária Matavele apontou a falta de normas específicas nas instituições de ensino superior como um dos principais “entraves” à mobilidade académica.
“Temos instrumentos normativos (lei, regulamentos, entre outros) mas faltam normas de operacionalização. Há disparidades, por exemplo, nas unidades de crédito, há pessoas que fazem a mobilidade e quando regressam (à instituição ou ao País) não conseguem ter transferidas as aprendizagens”. Por isso, “é necessário melhorar e harmonizar o entendimento dos processos e conceitos, criar condições para a implementação em termos de capacidade, dar atenção às normas, principalmente as que dizem respeito às instituições, criar uma visão estratégica e reforçar as políticas nacionais e internacionais conducentes à promoção da mobilidade para que ela, de facto, ocorra”.
Ainda sobre este tema, a secretária-geral da Associação das Universidades de Língua Portuguesa (AULP), Cristina Sarmento, referiu que a pandemia está a afectar, negativamente, o processo de mobilidade académica na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).“Continuamos a ter a mobilidade, mas em formato virtual e híbrido. Por causa da Covid-19, os procedimentos administrativos e a emissão de vistos de viagem tornaram-se morosos. Estamos confiantes de que o processo de mobilidade não vai ser travado e temos a expectativa de que a pandemia vai abrandar, o que vai, certamente, facilitar a nossa movimentação”, sublinhou. (FDS)