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sexta-feira, 18 janeiro 2019 05:35

Cine Teatro África: uma “catedral” a cair aos pedaços

Samora e Graça, Marcelino e Pamela, e tantos outros casais da nomenclatura frequentavam, amiúde, o Cine África. Devido à sua “presença”, ao seu historial, e até mesmo à sua localização estratégica – em plena 24 de Julho – o ex-cinema Manuel Rodrigues passou a ser literalmente a nossa “catedral das artes”, logo após a Independência Nacional. Não havia artista ou banda que viesse a Moçambique e não actuasse primeiro no “África”, para uma plateia restrita – constituída por dirigentes e altas figuras do Estado – antes de realizar o (verdadeiro) espectáculo para o grande público. Foi assim com Martinho da Vila, com Billy Forrest, com Alcione, e com tantas outras estrelas.



Também a Companhia Nacional de Canto e Dança (CNCD), o nosso grupo artístico de bandeira, teve sempre ao longo dos seus 40 anos de existência aquela como sua casa de eleição. Bailados como “Ntsay”, “Em Moçambique, o Sol Nasceu” ou “A Grande Festa” foram todos ensaiados, estreados e exibidos no Cine África durante longas temporadas. Depois vieram outros tipos de eventos, tais como o Fama Show, de onde surgiram alguns dos nomes mais sonantes da actualidade. Lourena Nhate e Nelson Nhachungue são disso exemplos: despontaram no “África”.  No entanto, a grande verdade é que o Cine Teatro África está praticamente entregue à sua sorte neste momento. Encerrado para beneficiar de obras de reabilitação que se arrastam há mais dois anos – da responsabilidade do Ministério da Cultura e Turismo – o estado em que se encontra a nossa “catedral das artes” mete dó!

 

 “Carta” visitou a infra-estrutura para se inteirar do desenrolar das ditas obras. Do lado de fora, apesar de as paredes apresentarem uma pintura renovada, o chão encontra-se alagado devido ao vazamento de uma série de condutas. É, porém, no interior do edifício que o seu estado lastimável se torna mais evidente: tudo destruído. Paredes partidas, lixo por todo o lado, piso quebrado e empoeirado. Enfim, um cenário totalmente deplorável.

 

A “Carta” contactou a Direcção do Cine Teatro África para obter mais pormenores sobre as obras. Mais uma decepção: foi-nos dito que a única pessoa que nos podia falar a propósito do assunto se encontra, neste momento, de férias e – pasme-se – “não pode ser perturbada, sequer por telefone”. O guarda que zela pelo edifício lá nos confidenciou que, logo após a reabilitação ter arrancado, ainda em 2016 (conforme documenta a imagem) foi interrompida por alegada falta de fundos. Disse-nos ainda que não se prevê quando os trabalhos poderão retomar. A mesma fonte explicou-nos que já várias instituições religiosas apareceram no edifício, com pretensões de o arrendar (e, por conseguinte, dar seguimento à reabilitação), porém nenhuma delas teve sucesso. E, enquanto isso, a nossa bela e emblemática “catedral das artes” vai caindo aos pedaço. (Marta Afonso)

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