Tive, há pouco mais de 20 anos, o privilégio de ser convidado pelo Prof. Bernhard Weimer (BW) para assisti-lo numa missão a Pemba, capital da província de Cabo Delgado. Claro que aceitei o convite, não apenas pelo que ganharia pela assistência, mas sobretudo pela oportunidade que teria de aprender questões teóricas e práticas de descentralização, de gestão pública, de um galáctico, de verdade e não ‘fake’.
Nessa missão a Pemba, o nosso trabalho começou com um ‘almoço a dois’, ocasião na qual reiterou, detalhadamente, o que esperava de mim. E para acompanhar esse almoço o Prof. BW pediu uma cerveja 2M, das pequenas, e dois copos. Ele próprio serviu, de forma equilibrada e justa.
Claro que isso foi como que uma violência, em pleno fim-de-semana, para um jovem jornalista que já frequentava algumas fartas recepções…
Da comitiva, mas com estatuto naturalmente diverso, estavam outros dois “pesos pesados”, nomeadamente Aguiar Mazula (antigo ministro da Defesa, do Trabalho e da Administração Estatal, de quem ando a aprender há dois anos, primeiro na CRED e agora na CREMOD, de que ele é Coordenador Técnico) e Máximo Dias, político e advogado, já falecido, com quem mantive uns tantos saudáveis contactos profissionais, primeiro como jornalista e depois como seu par na advocacia.
Com o Professor BW tivera o primeiro contacto 1-2 anos antes da ‘Operação Pemba’, quando ele coordenava o Projecto de Desenvolvimento Municipal (PADEM), na Cooperação Suíça. Desde então, nunca mais nos desligamos, já que fomos cruzando caminhos e falando habitualmente, mesmo quando o Prof. BW decidiu fixar a sua residência em Vilankulo, na província de Inhambane.
Em 2014/2015, o Prof. BW foi consultor sénior da IBIS, hoje Oxfam IBIS, no processo de desenho do Programa Acesso à Informação e Engajamento dos Cidadãos (AICE), desta vez sendo eu…Chefe da Equipa. E, próprio de gente grande, o Prof. BW fazia sempre questão de me chamar “Chefe Ericino”. Era, de facto, “Chefe Ericino”, uma vez que era Director do Programa Acesso à Informação, sucedido pelo Programa AICE, de que também fui Director nos seus primeiros 3.5 anos.
Ou seja, o acidental estatuto de chefia era por inerência de funções, mas quem comandava o barco, de facto, era o Prof. BW. Não é, pois, por acaso que o Programa AICE tinha indicadores qualitativos e quantitativos de outra galáxia, como gostava de dizer o Eng. Paulo Brito, um dos membros da equipa do Programa AICE. Recordo-me que quando a pessoa que tinha que fazer a aprovação final do Programa AICE demorava a fazê-lo por conta de questionamentos que não cabem nestas linhas, o Prof. BW “matou o assunto” com um longo e-mail agridoce, qual aula sobre a essência da teoria de mudança.
Em 2024, em particular, foram tantos os momentos de qualidade intelectual com o Prof. BW, ao nível da CREMOD, com a qual ele interagia ora como perito convidado, ora como consultor-especialista de Finanças Públicas sob a égide do Banco Mundial. E, quando ele se achava em Maputo, continuávamos com as nossas conversas, enquanto tomávamos um cafezinho.
No meu inbox, tantos artigos, análises e estudos do Prof. BW, muito deles não publicados, incluindo o Peace Component que idealizáramos, sem sucesso, para o Programa AICE. Claro que Markus, seu filho, saberá como dar melhor destino ao acervo do Prof. BW.
E, corrigindo uma imprecisão, registada acima, acabámos, na verdade, nos desligando formalmente no último sábado, 15, quando o Prof. BW partiu deste mundo, na sua amada Vilankulo. Mas, materialmente, quem bebeu do “poço” que ele era jamais dele se desliga em absoluto.
Prof. BW, claro que vamos, um dia, colocar em dia a conversa sobre estabilidade social e política de Moçambique, ainda que sejam adoptados modelos diferentes daqueles que defendias.
Esta manhã, os restos mortais do distinto economista e cientista político alemão, que escolheu Moçambique como sua segunda pátria, foram a enterrar em Vilankulo.
Rest in Power, Professor Bernhard Weimer!!!