Por Dick Gulela
O engenheiro Venâncio Mondlane começou muito bem o seu trabalho político, moveu massas em todos os cantos do País, dançou com muita gente, mostrou conhecer a realidade do País, impressionou-nos com o seu conhecimento de número, ele que é engenheiro florestal, prometeu reflorestar a vida dos moçambicanos com mudas de esperança e queria fazer isso com as pás do partido “Podemos.
É candidato do “Podemos”, mas nos últimos dias ocupa-se com o “Devemos”. “Devemos paralisar as fronteiras”, “Devemos ficar em casa”, “Devemos parar o país”, “Devemos sacrificar as nossas vidas e exigir a verdade eleitoral”, “Devemos parar os automóveis nas estradas”, “Devemos jantar cedo e usar as panelas como batuques”, “Devemos sacrificar as nossas vidas nas ruas”.
Esse “Devemos” fez subir a maré, os peixinhos que repousavam debaixo dessa maré viraram tubarões e há muitos inocentes a morrerem. Nem Venâncio Mondlane é capaz de parar essa maré: ele, hoje, é apenas uma simples onda. E uma onda não comanda a coreografia da maré furiosa.
O “Devemos” de Venâncio Mondlane já enviou jovens inocentes, em caixões, para cemitérios, esse “Devemos” já encheu famílias de luto e entristece-me mais, porque usa o nome de revolução para justificar a morte de gente inocente e pobre! Há famílias que, depois de verem os seus mortos, são obrigadas a fazer “vaquinhas” nas redes sociais para funerais. Não “Podemos”, aqui, também, ignorar e fechar os olhos à carga exagerada e desumana da nossa polícia.
Quem não sentiu aquele blindado na Eduardo Mondlane por cima de si? O próprio polícia luta contra o “Devemos” de Venâncio Mondlane quando está metido dentro do uniforme; ao fim do dia, quando está em casa a “curtir” a sua folga, também, obedece a esse “Devemos”: fica do lado dos manifestantes.
A polícia atira contra os manifestantes e mata sem pestanejar, os manifestantes disparam pedradas e matam. Assistimos, no fundo, a uma guerrilha, miseravelmente, de pobres que disputam uma colher cheia de acusações. Pobres que se atacam pela diferença de trajes, pobres que se caçam em nome do “Devemos”.
A população ecoa “Devemos resistir e avançar”, “Devemos lutar”, “Devemos marchar”, “Devemos enfrentar tudo” e a polícia com armas em punho e cápsulas de gás lacrimogéneo grita “Devemos manter a ordem”, “Devemos fazer a nossa parte”, “Devemos acabar com a desordem”. É a luta de todos nós “Devemos” e “Podemos”.
E nesse “Devemos”, infiltram-se os que criam suas agendas e põem-se a saquear bens, a montar portagens com cancelas que nos tiram o sossego, a atacar autocarros com gente inocente e vandalizar lojas de gente tão pobre, tão sem nada. A luta de Venâncio Mondlane não pode ser somente a de “Devemos”, porque isso só atiça a população.
Venâncio Mondlane já não consegue, no fundo, parar os seus “Devemos”. A cada live, Venâncio Mondlane pensa que dirige os jovens, mas eles têm um “Devemos” deles e agem como acham bem e, como não podia deixar de ser, usam, ao fim de tudo, a máscara do “Podemos e Devemos” de Venâncio Mondlane.
As lives de Venâncio Mondlane viraram verdadeiros espaços de lamentações fúnebres. Em todas as lives, Venâncio Mondlane lamenta mortes de manifestantes e polícias, invoca a paz e logo, de seguida, atira mais um “Devemos”. Até quando os borbulhosos “Devemos” de Venâncio Mondlane?
Posso ser visto como um crápula, mas antes de qualquer “Devemos”, antes de qualquer “Podemos”, antes de qualquer bala, antes de qualquer pedra carregada de fúria, antes de qualquer live de ordens com fases e etapas, antes de qualquer estratégia de parar a economia, antes disso tudo: o “Devemos” e o “Podemos” mais importante que temos de preservar é a vida. E a vida não pode ser classificada pelo uniforme que usamos.