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domingo, 21 agosto 2022 13:55

Quelimane em festa recebe novamente sua igreja Nossa Senhora do Livramento, agora Centro Cultural dos Bons Sinais

A igreja de Nossa Senhora do Livramento, em Quelimane, retomou hoje, na celebração dos 80 anos da cidade, o porte e a imponência que a caracterizou no passado, uma das mais raras expressões setecentistas em Moçambique, recuperando seu estilo na corrente barroca.

 

O início da sua construção é contemporânea do ano da Independência dos EUA (1776) e a sua conclusão anterior à Revolução Francesa de 1789 e ao Grito de Ipiranga da Independência do Brasil de 1822, três importantes marcos da História Mundial.

 

A igreja de Nossa Senhora do Livramento, mandada construir pelo governador e capitão-mor general Baltazar Pereira do Lago, em 1776, e só concluída em 1786 pela mão do governador António de Mello e Castro, encerra 246 anos de História sendo comparada por alguns historiadores à Ermida de Nossa Senhora da Nazaré de Luanda (1664) e à Nossa Senhora do Pópulo em Benguela (1748).

 

A fundação da paróquia de Nossa Senhora do Livramento tem uma data remota incerta. Calcula-se que no século XVII, provavelmente em 1610, fora criada sob orientação dos Jesuítas, uma primeira igreja da paróquia  de Quelimane, facto histórico relatado pelo padre António Gomes, vigário daquela paróquia, que a ela se refere como paróquia de Quelimane, na célebre Viagem de Quelimane ao Monomotapa datado de 1648.

 

 

A igreja de Nossa Senhora do Livramento viria a ser Monumento Nacional pela Portaria de 3 de Agosto de 1943. Em 2016, um pequeníssimo grupo de zambezianos visitou a Catedral Velha, como passou a ser conhecida e carinhosamente tratada a partir de 1974, em oposição à Catedral Nova, então construída e em funcionamento.

 

O que pudemos assistir era simplesmente aterrador e inacreditável. Votada ao esquecimento como igreja em 1974, perdeu a sua importância e foi levada ao abandono.

 

(...)

 

Um grupo de naturais e amigos teve a iniciativa de recuperar o empreendimento. Em 2017, foi criada a Associação dos Bons Sinais, uma associação sem fins lucrativos com uma finalidade ampla: salvar o mais importante património da cidade, e outros por identificar, promover todo o tipo de manifestações culturais e também praticar acções de solidariedade nesta terra que nos unia a todos. Para além de outras ações, abraçou a reconstrução da Igreja, que hoje se reinaugura.  

 

(...) 

 

Não é a primeira vez que antigas igrejas e conventos se transformaram em universidades, escolas, hospitais, espaços de cultura e arte, pousadas e centros de desporto e lazer, como escreveu D. António Luciano dos Santos, Bispo de Viseu, que na então Igreja de Nossa Senhora do Livramento rezou e celebrou a Fé com seu povo. Com efeito, a casa que foi de Deus, hoje, está a tornar-se a casa dos Homens. Não será mais uma igreja mas a cátedra nos seus alicerces a transmitir conhecimento, sabedoria, arte e cultura. De novo terá vida e dará muito a todos, continuará a ser espaço de alimento, de transmissão de valores, mas agora como Centro Cultural Bons Sinais.

 

Ainda não totalmente concluída, queremos criar no Centro Cultural Bons Sinais um acervo documental da História de Moçambique, da História da Zambézia e da História do Vale do Zambeze. O seu passado longínquo. E o seu passado recente. Queremos fazer deste espaço público um ponto de encontro de pessoas de bem e que no seu caminhar as pegadas deixadas sejam de flores, de esperança, de paz e de amor.

 

Queremos que o Centro Cultural Bons Sinais seja um espaço público onde se promova a educação patriótica, e a construção da cidadania moçambicana. Queremos fazer deste espaço público um lugar de busca permanente da reconciliação. Como disse Nelson Mandela: mentes que procuram vingança destroem os estados, enquanto as que procuram a reconciliação constroem nações… fim de citação.

 

 

Queremos fazer do Centro Cultural Bons Sinais uma fortaleza inexpugnável a todo o tipo de intolerância seja ela política, religiosa, étnica, linguística ou cultural. Queremos que o Centro Cultural Bons Sinais seja um espaço de inclusão onde se cultive a tolerância, se promova o diálogo e se construam pontes. Queremos fazer do Centro Cultural Bons Sinais um bastião irredutível contra a violência seja ela física, seja ela verbal.

 

Neste desiderato recordamos as palavras de Mia Couto quando diz, e passo a citar: a primeira violência não foi pegar em armas. Foi deixar de ouvir o outro, desumanizar, transformar o diferente em inimigo…. fim de citação.

 

No mesmo diapasão as palavras de Sua Santidade o Papa Francisco na Conferência da Juventude da União Europeia em Praga, sobre o valor da inclusão onde disse e passo a citar: não vos deixeis arrastar por ideologias míopes que pretendem mostrar-nos o outro, o diverso como inimigos. O outro é uma riqueza. Nenhuma discriminação contra ninguém, por nenhuma razão. Sejamos solidários com todos; não só com o que se parece comigo… fim de citação.

 

Comunicação apresentada por Abdul Carimo Mahomed Issá, em nome da Associação dos Bons Sinais, por ocasião da Abertura do Centro Cultural Bons Sinais. Quelimane, 21 de Agosto de 2022.

 

Excerto. Título da nossa responsabilidade.

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