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segunda-feira, 08 fevereiro 2021 07:23

Saída da Vale é o começo do fim do negócio de carvão em Moçambique – defende ONG

Kuwuka, uma organização da sociedade civil que debate a exploração dos recursos minerais no país, entende que a intenção da empresa Vale Moçambique (manifestada em comunicado, a 20 de Janeiro último) de se retirar do negócio do carvão, em Moatize, província de Tete, pode ser prenúncio do fim do negócio daquele minério.

 

Representada pelo seu Presidente, Camilo Nhancale, a Kuwuka fundamenta a sua tese com a alegação apresentada pela Vale Moçambique, nomeadamente, a intenção de se tornar numa empresa menos poluente. A esta razão, o nosso entrevistado acrescentou um segundo motivo, a queda do preço do carvão mineral no mercado internacional, facto que tem vindo a prejudicar a empresa nos últimos anos.

 

“Olhando para os desenvolvimentos dos últimos anos, a intenção da Vale não é muito surpreendente, porque, como sabe, há cinco anos os preços do carvão ao nível internacional baixaram muito e, nestes últimos tempos, temos estado a acompanhar relatórios referindo que a empresa tem tido prejuízos nas suas operações. Como consequência, nos anos passados, a Vale chegou a demitir muitos trabalhadores”, disse Nhancale.

 

Entretanto, a mineradora não destaca, em comunicado, a fraca rendibilidade do negócio como motivo para a sua saída. Diz apenas pretender “tornar-se carbono neutra até 2050 e em reduzir 33% de suas emissões de escopos 1 e 2 até 2030”.

 

Sobre essa questão, o nosso interlocutor, que também é activista social, entende fazer sentido a justificação da Vale e lembrou que a redução da emissão de gases é uma medida enquadrada no Acordo de Paris, assinado em 2015, a fim de conter, a partir de 2020, o aquecimento global abaixo de 2º C, preferencialmente em 1,5º C, e reforçar a capacidade dos países de responder ao desafio, num contexto de desenvolvimento sustentável.

 

Aliado a essa realidade, Nhancale sublinhou que o carvão mineral é de facto um dos grandes poluentes do meio ambiente no mundo. A combustão do minério provoca gases que poluem a atmosfera e agravam o efeito estufa, aumentando, consequentemente, o aquecimento de que tanto se fala nos últimos tempos.

 

Perante essas realidades inquestionáveis, nomeadamente, prejuízos com a desvalorização do carvão mineral a nível internacional e questões ambientais, o nosso entrevistado afirma estarmos perante o início do fim do negócio de exploração do carvão em Moçambique.

 

“A intenção da Vale é uma transição para o fim do negócio de exploração do carvão em Moçambique, porque a questão da transição energética é irreversível. É verdade que foram colocadas metas de até 2050, que podem não ser atingidas. Mas, neste momento, a tendência mostra que houve uma redução da procura e, consequentemente, baixa de preços no mercado internacional. Isto deixa o negócio não lucrativo e se é assim uma empresa como a Vale diz que não vale a pena continuar”, afirmou Nhancale.

 

Diante desse desafio iminente, o activista apela aos decisores políticos do país a atrair investimento capaz de transformar o carvão mineral, que actualmente é exportado em bruto, em aço, uma das principais matérias-primas para a construção civil.

 

Lembre-se, antes de retirar o investimento no negócio, a Vale Moçambique assinou, na data acima mencionada, um acordo com a Mitsui, permitindo que as partes estruturem a saída da última empresa da mina de carvão de Moatize e do Corredor Logístico de Nacala, como um primeiro passo para abandonar a exploração do carvão mineral em Tete, mas ainda sem datas fixadas para tal processo. (Evaristo Chilingue)

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