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quinta-feira, 09 abril 2020 08:59

Covid-19: Hotelaria e turismo experimentam piores dias em Moçambique

Encerramentos, suspensões de actividades, fornecimento de serviços a meio gás e diminuição do número de trabalhadores sãos os cenários que caracterizam a actualidade da indústria hoteleira e turismo no país, principalmente na cidade de Maputo. Em causa, estão os efeitos provocados pelo novo coronavírus (ou Covid-19), uma doença já declarada pandemia. Por ser altamente contagioso, o vírus que eclodiu na China, em Dezembro passado, levou os dirigentes em todos os quadrantes do globo a tomar medidas para contê-lo. Uma das medidas tomadas foi a restrição, ao mais alto nível, da circulação de pessoas – a seiva da indústria hoteleira e turística.

 

É que sem circulação é difícil deslocar-se dum ponto para o outro (fazer turismo). Sem actividade turística, não há alojamento em hotéis. Na falta de hotelaria, a restauração é limitada. Com limitações, toda esta cadeia de negócios não flui e a consequência é o prejuízo. Com vista a minimizar as perdas (antes da falência), os empresários moçambicanos que operam naqueles sectores estão, neste momento, a encerrar e suspender o fornecimento de alguns serviços.

 

É o caso do Hotel VIP, uma instância hoteleira de cinco estrelas, que encerrou as suas instalações por um tempo indeterminado. No local, “Carta” constatou que o hotel encerrou mesmo cinco dias depois do anúncio do primeiro caso de infecção por Covid-19 em Moçambique, facto ocorrido a 22 de Março passado. Para a informação dos clientes, a VIP Hotels deixou um comunicado: “Estimado cliente, devido à pandemia Covid-19 que infelizmente chegou ao nosso país, informamos que vamos encerrar as nossas instalações temporariamente, a partir do dia 28 de Março, contando voltar a servi-lo assim que a situação estiver controlada”, lê-se no comunicado, datado de 23 de Março, fixado numa das portas frontais.

 

Numa ronda pelo coração da capital do país, “Carta” constatou ainda que o Hotel Terminus e o Radisson Blue também estão fechados por um tempo indeterminado, facto que levou o último estabelecimento a encerrar o bar, ginásio e piscina. Por sua vez, o Hotel Avenida “informa a todos que, em cumprimento do Decreto de nº 12/2020, em vigor, todos os bares se encontram encerrados”, excepto “o Room Serviço que se mantém 24 horas sem qualquer limitação”.

 

Mesmo sem gravar entrevista, uma fonte do Hotel 2001 disse que o negócio da restauração na estância reduziu 75% e o de alojamento em 90%. Em causa apontou os efeitos da Covid-19 que não só assola o país, mas o mundo inteiro.

 

Às moscas estão também os renomados hotéis Affec Gloria,Polana Serena e Pestana Rovuma. Sem depoimentos, por indisponibilidade das gerências, in loco, verificou-se que em verdade a indústria hoteleira enfrenta dias difíceis no país, facto que certamente baixa confiança do negócio no futuro. Todavia, durante a ronda, o jornal constatou que não são apenas os hotéis prejudicados pela crise, mas também os restaurantes. A meio gás, funcionam o Snack Bar Djambo, Mundus entre outros. Já o South Beach é exemplo dos que encerraram logo após o início da crise em Moçambique.

 

Ao lado do South Beach está o Sagres que prefere funcionar a conta-gotas. No local, a gerente do restaurante, Lurdes Fernandes, não escondeu a lamentação: “O movimento reduziu 80%. Como vês, tantas mesas, mas só duas ou três é que estão ocupadas. É uma situação que vai afectar o pagamento a fornecedores, salários e obrigações fiscais”, queixou-se a fonte que, para minimizar o impacto, disse ter mandado grande parte dos trabalhadores para as férias.

 

Sem deslocação de pessoas, principalmente para fora do país, o funcionamento das agências de viagens é também titubeante. Segundo o Presidente da Associação de Agentes de Viagens e Operadores Turísticos de Moçambique (AVITUM), Noor Momade, todos os 98 membros da agremiação estão estagnados. Em causa está a falta de clientes.

 

“Está um caos. As agências estão fechadas. Algumas já estão a despedir trabalhadores. Por causa dos efeitos da crise, mandamos uma carta ao Governo, com vista a pedir incentivos, desde o adiamento do pagamento dos impostos, uma linha de financiamento e demais impulsos laborais. A reacção favorável do Governo é a única esperança para salvar as empresas bem como os postos de trabalhos”, afirmou Momade.

 

Da cadeia de negócio na hotelaria e turismo, estão afectados ainda os transportes, desde rodoviários, fluviais e aéreos. Dados facultados recentemente pelos Aeroportos de Moçambique indicam que, devido a fortes medidas restritivas tomadas pelos países, a procura pelo transporte aéreo diminuiu drasticamente em Março passado. A instituição registou, em Janeiro, uma demanda de 172 mil passageiros, mas no mês passado o número caiu para 88 mil passageiros (quase 50%).

 

O transporte rodoviário é outro subsector largamente afectado pela crise. Neste caso, o destaque vai para o serviço de táxi. Pedro Ngulele é um taxista afecto ao Hotel VIP. Disse à “Carta” que com a crise já não há trabalho. “Mesmo sem clientes, a gente vem ficar, como é habitual, esperando que alguém ligue. Mas dependendo daqui, não há clientes. O hotel está fechado. Mesmo sem clientes, tenho a obrigação de pagar pela licença, combustível. Mesmo sem trabalho a família quer pão”, lamentou Ngulele.

 

Da crise provocada pela pandemia, a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) antecipou, em estudo divulgado há dias, que o impacto no sector empresarial moçambicano poderá rondar entre 234 milhões de USD e 375 milhões de USD. Dessas estimativas de perdas, a CTA demonstra na análise que o sector do turismo figura como o mais afectado com perdas estimadas entre 53 milhões de USD e 71 milhões de USD. Em conversa com “Carta”, o Presidente do Pelouro da Cultura e Turismo, na CTA, Rui Monteiro, observou que esses valores podem ser ultrapassados caso a crise se prolongue por mais de três meses.

 

Monteiro reiterou a necessidade de o Governo olhar o estudo com atenção, de modo a adoptar melhores medidas fiscais, aduaneiras, laborais e financeiras, com vista a assegurar a sobrevivência das empresas e garantir a recuperação das suas actividades.

 

Por sua vez, o Presidente do Pelouro da Cultura na CTA afirmou que a reacção do Governo é a única esperança dos operadores da indústria hoteleira em Moçambique, pois mesmo que tomem medidas paliativas como encerrar, suspender e diminuir os trabalhadores, os prejuízos continuam enormes para a classe. (Evaristo Chilingue)

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