O dia 22 de Março de 2020 ficará nos anais da história da República de Moçambique. Foi no final da tarde desta data, num domingo ensolarado, que o Ministro da Saúde, Armindo Daniel Tiago, comunicou a nação que o país já tinha registado o seu primeiro caso do novo coronavírus, a pandemia que eclodiu na República Popular da China, em Dezembro passado, e que já matou mais de 13 mil pessoas, em mais de 300 mil casos confirmados.
Eram 17:00 horas, quando o titular da pasta da Saúde tornou pública a novidade que nenhum cidadão queria ouvir: “Moçambique registou o primeiro caso confirmado de COVID-19, uma condição causada pelo Coronavírus (SARS-CoV-2)”.
Provavelmente, terá sido a pior conferência de imprensa a ser enfrentada pelo novo Ministro da Saúde, logo nos seus primeiros dois meses de estreia na função. O anúncio foi acompanhado em directo nas três principais televisões do país, nomeadamente, Televisão de Moçambique (TVM), Televisão Miramar e Soico Televisão (STV).
Enquanto decorria a conferência de imprensa, as redes sociais, nomeadamente, o Facebook e o WhatsApp, ficavam inundadas de fotografias das telas dos televisores e vídeos, com o governante a anunciar a “má notícia”. Imediatamente, começaram as reacções e os debates em torno das consequências que esta doença poderá trazer no tecido social moçambicano, desde o controlo da sua propagação (já especulação dos preços dos produtos básicos de higiene) até à queda da nossa economia (associações empresariais começam a reportar prejuízos e também já se verifica especulação dos preços dos produtos alimentares).
Meio ao questionamento às explicações de Armindo Tiago (não clarificou a idade do paciente, sua identidade e muito menos morada), uma campanha foi levada a cabo por diversos usuários das redes sociais. Trata-se da campanha “fique em casa”. A campanha aconselha os cidadãos moçambicanos a ficarem em casa, de modo a evitar a contaminação pelo novo coronavírus, uma medida que está a ser adoptada em todos os países do mundo.
“Fica em casa. África não tem hospitais com estrutura para atender a todos”, diz um dos cartazes posto a circular. Outro diz: “Fique em casa, que ele vai embora”, enquanto o terceiro refere que o “Falido se recupera. Falecido não. Fique em casa!”. Estas são algumas das mensagens partilhadas nas redes sociais.
O facto é que a doença se propaga com maior facilidade em ambiente de maior concentração. O vírus causador do Covid-19 é transmitido, principalmente, por contacto com gotículas respiratórias. Segundo o jornal espanhol EL PAIS, citando resultados da pesquisa efectuada por uma equipa do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos da América, o novo coronavírus permanece três horas suspenso no ar, quatro horas no cobre das moedas, um dia inteiro no cartão bancário e de dois a três dias no plástico ou no aço inoxidável de uma torneira.
Lembre-se que, na passada sexta-feira, 20 de Março, o Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, suspendeu a organização e participação de eventos com mais de 50 pessoas e mandou encerrar as escolas de todos os sub-sistemas de ensino (do pré-escolar ao ensino superior) por um período de 30 dias, com efeito desde ontem, como forma de conter a propagação da pandemia.
Algumas empresas fecharam as portas e adoptaram o teletrabalho, como forma de conter a propagação do vírus no ambiente de trabalho. Alguns cidadãos já aventam a possibilidade de se declarar o Estado de Emergência, como forma de obrigar os cidadãos a permanecerem nas suas residências. Aliás, neste domingo, “Carta” testemunhou casos de alguns cidadãos que se encontravam aglomerados em barracas, em alguns bairros da periferia da capital do país.
Para além de apelos para que se fique em casa, os internautas partilham também mensagens de sensibilização sobre as diversas formas de prevenção da doença, como lavar as mãos com água e sabão ou álcool em gel; cobrir o nariz e boca ao espirrar ou ao tossir; evitar aglomerações se estiver doente; manter os ambientes bem ventilados; e não compartilhar objectos pessoais.
Entretanto, neste primeiro dia de cumprimento das medidas anunciadas pelo Chefe de Estado, os transportes públicos continuavam iguais a si próprios: superlotados. “Carta” observou, logo nas primeiras horas desta segunda-feira, diversos autocarros “apinhados” de gente, com destino aos seus postos de trabalho.
Esta é uma parte do retrato dos primeiros momentos, após o anúncio do primeiro caso positivo do Covid-19, nome científico da doença causada pelo novo coronavírus. Desde o anúncio do primeiro caso que os cidadãos têm intensificado as suas “acções de solidariedade”, facto verificado há um ano, aquando da passagem do ciclone Idai pela zona centro do país, com maior incidência para a cidade da Beira, capital provincial de Sofala. (A.M.)