O início de produção e liquefacção do Gás Natural Liquefeito (GNL), na Bacia do Rovuma, na província de Cabo Delgado, arranca dentro de 24 meses, enquanto o Instituto Nacional de Petróleos (INP), que regula, fiscaliza e administra a indústria do sector desafia-se em vários domínios, desde técnicos até humanos.
Conferenciando, recentemente, em Maputo, o Presidente do Conselho de Administração (PCA) do INP, Carlos Zacarias, explicou que após o lançamento, em Janeiro passado, na Coreia do Sul, do casco da Plataforma Flutuante do GNL do consórcio liderado pela italiana ENI, na Área 4, segue-se o início da montagem dos módulos de superfície do empreendimento para o projecto Coral Sul FLNG.
Finda a montagem, “esperamos que no próximo ano a Plataforma seja rebocada para Moçambique, instalada e, em seguida, aconteçam os testes para que entre finais de 2021 e princípios de 2022, comecemos a ter a produção de gás e sua liquefacção”, acrescentou Zacarias.
Com o início de produção do projecto Coral Sul FLNG, com uma capacidade de liquefacção de gás natural de 3,4 milhões de toneladas por ano (MTPA) e cujo investimento é 7 mil milhões de USD, Zacarias reafirmou, na ocasião, o impacto económico do empreendimento para o país.
“Nessa altura, nós passaremos praticamente de um país pequeno produtor a nível regional, para entrar na lista dos grandes produtores e exportadores de gás natural. Isso a partir de 2022”, destacou.
Antes de falar dos desafios do INP, Zacarias lembrou que em implementação na Bacia do Rovuma estão também outros dois projectos, nomeadamente o projecto Mozambique LNG, liderado pela francesa Total. Esse projecto, que prevê arrancar em 2023, conta produzir 12,8 MTPA por ano, num investimento global de 23 mil milhões de USD. Na Bacia do Rovuma, está também o projecto Rovuma LNG, liderado pela americana ExxoMobil e ENI, com um investimento estimado em 23.6 mil milhões de USD e, a partir de 2024, prevê produzir anualmente 15.2 MTPA.
Perante esses projectos, dos quais um está quase a iniciar, Zacarias apontou que o principal desafio do INP, entidade governamental que regula, fiscaliza e administra a indústria é assegurar a sua implementação de acordo com cronograma e orçamento previsto.
“Nós não queremos passar por uma situação em que um determinado projecto prevê um orçamento total de cinco milhões de USD, por exemplo, mas devido a vários factores passa para 20 milhões de USD. Portanto, no final do dia, todos nós acabamos perdendo”, clarificou Zacarias.
Outro desafio que o INP enfrenta nas vésperas do início da produção dos projectos da Bacia do Rovuma é a capacitação dos recursos humanos afectos à instituição. “Com cerca de 80 colaboradores, maioritariamente jovens, é necessário treinar as pessoas, enquadrá-las devidamente, possibilitando a instituição que seja de facto um regulador com a competência necessária”, disse o PCA do INP.
Do rol dos desafios, Zacarias mencionou a necessidade de a instituição que dirige garantir que os projectos em referência contribuam social e economicamente para o desenvolvimento do país, para além dos quase 100 mil milhões de USD de receitas ao Estado previstas durante a vida de todos os três projectos.
“Temos o grande desafio de fazer com que esses projectos tragam uma mais-valia para o país, em termos de formação, emprego, envolvimento das empresas nacionais no fornecimento de serviços e bens”, afirmou a fonte.
Mesmo sem mencionar, o PCA do INP está ciente de que outro desafio é o Governo acabar com a insegurança protagonizada por insurgentes desde Outubro de 2017 em Cabo Delgado, o que leva as multinacionais a contratar seguranças privadas, facto que em última análise irá acarretar custos incalculáveis ao Estado.(Evaristo Chilingue)