A Insurgência em Cabo Delgado está a ser motivo para as Forças de Defesa e Segurança se aproveitarem da situação e, à margem da lei, estabelecerem mecanismos para usurpar cidadãos e empresas ao longo das estradas.
É um facto. Algumas empresas pagaram às FDS posicionadas no posto de controlo de Awasse, no distrito de Mocímboa da Praia, valores que variam entre 8 e 10 mil meticais, para garantir que a sua mercadoria fosse escoltada daquele posto policial até às zonas de Miangalewa e de Mocímboa da Praia. Hoje estas zonas são consideradas de alto risco e propensas a ataques pelos insurgentes.
Um motorista de uma companhia chinesa que opera em Cabo Delgado disse à “Carta” que as empresas vítimas são aquelas que, supostamente, não estão ligadas ao Governo.
A negociação sobre as cobranças é feita logo que o carro estaciona em Awasse, onde depois chegam os agentes que avisam os motoristas que a situação de segurança não é boa na região, e que para chegar ao destino em segurança, estes precisam de escolta, sendo que a mesma deve ser paga.
Ao motorista que se recusa é dado algum tempo e depois é-lhe dito para estacionar a viatura longe do posto policial, sob o risco de receber multa.
A fonte explicou que, depois da negociação, cujo resultado é partilhado com o patrão, os agentes nunca aceitam o dinheiro em transacções electrónicas, ou seja, preferem que o pagamento seja em dinheiro vivo e não por via m-Pesa ou banco. Ou seja: os fundos são primeiro transferidos via m-Pesa para o ajudante e este canaliza em mão aos beneficiários.
À “Carta”, a fonte disse mais: às empresas ligadas às multinacionais que pretendem explorar petróleo no rio Rovuma, aos carros das firmas Lalgy e Êxito Combustíveis não são cobradas taxas, supostamente, por estas terem ligações com o Governo.
Os motoristas que não conseguem pagar são obrigados a recorrer, como alternativa a partir de Awasse, à via Mueda-Muidumbe-sede até Xitaxi. (Carta)