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sexta-feira, 12 julho 2024 14:13

Adelson: a história de um jovem inconformado que trocou emprego seguro pela aventura do empreendedorismo, escreve Salim Cripton Valá

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Conheci o Adelson Chissano em 2019, um jovem de 26 anos que nasceu em Maputo, fazendo parte de uma empresa que prestava serviços de limpeza à Bolsa de Valores de Moçambique (BVM). Ele é órfão de pai desde os 11 anos e, desde então, foi criado por sua mãe, a Sra. Delfina Mugabe, uma pequena agricultora produtora de bata-doce, cenoura, feijão-verde, pimento, milho e amendoim, inicialmente no Bairro de Albasini, no Município de Maputo, e nos últimos anos em Bobole e Manhiça, na província de Maputo. Adelson tem mulher e dois filhos, está a frequentar a 11ª classe e alimenta o sonho de um dia ser um engenheiro informático.

 

Tomei a decisão de escrever esta peça hoje (NE: ontem, neste caso), dia 11 de Julho de 2024, porque o Adelson veio despedir-se de mim, dizendo que partia com o coração triste, pelo tempo que passou a trabalhar na BVM, mas que “tinha de ir tomar conta, pessoalmente, dos seus negócios”. A pouco mais de um mês, ele me falou da ideia de focar-se nas suas micro-empresas, e assim poder melhor gerir o que é seu, incluindo as possibilidades futuras de ampliar, diversificar e aprofundar os seus negócios. 

 

O meu amigo Adelson tem actualmente três fontes de renda, nomeadamente um pequeno negócio de venda de electrodomésticos diversos, um local de venda de comida e uma casa arrendada, tendo planos de no futuro ampliar o negócio na área imobiliária e abrir uma empresa de limpeza. Actualmente já emprega 4 trabalhadores, e a medida que os negócios crescerem, tem intenção de contratar mais trabalhadores.

 

Devo reconhecer que, em parte, fiquei triste porque Adelson é uma pessoa muito importante para mim, fazendo parte de um grupo restrito de que dependo todos os dias para ter um bom clima de trabalho, mas igualmente porque o seu semblante alegre, o ambiente de empatia que gerava e a sua predisposição para apoiar foi sempre seu apanágio. Mas também fiquei feliz porque acredito que o Adelson ganhou maturidade, reflectiu e pensou muito, ficou com muitas dúvidas, lutou contra os seus próprios medos, escutou vozes a apelidarem-no de irresponsável ou maluco, mas não desistiu do seu propósito. Manteve-se firme na sua decisão de avançar, e mostrou-se preparado para as suas consequências.

 

A forte convicção do meu amigo

 

Na longa conversa que tivemos hoje, percebi que nada nem ninguém poderá demover Adelson da sua decisão de embarcar na viagem do empreendedorismo, por ter a força mental de entender que pode criar algo com esforço próprio, ganhar dinheiro para melhorar a sua condições de vida, e a dos seus, e ainda gerar emprego e renda para outros moçambicanos. Ele tem consciência que terá de trabalhar muito, enfrentará obstáculos, terá de se reinventar, adaptar-se, ter quedas, aprender a aprender, perceber as demandas dos clientes, mas não terá como recuar, pois não existe um Plano B. Os seus negócios tem de dar certo pois já não existe o salário mensal a funcionar como almofada.

 

Fiz algumas perguntas directas ao Adelson, como as que a seguir se apresentam. Mas afinal o que te moveu a largar um emprego aparentemente seguro e ser atraído pelo vírus do empreendedorismo? Porque sair da sua “zona de conforto” e abraçar actividades económicas privadas, quando muitos concidadãos reclamam pelo ambiente de negócios constrangedor? Não tens medo de cair na empreitada complexa que abraçaste, e carregar o duplo peso do insucesso nos negócios e dos críticos maliciosos que vão-se rir por teres tentado ser um homem rico? 

 

De forma resoluta e sem pestanejar, Adelson me respondeu:

 

“(i) acredito que posso fazer algo diferente do que já fiz, que vai exigir mais esforço e criatividade, para ganhar mais dinheiro para mim e a minha família; (ii) acho que devo crescer mais, trabalhando para mim, e tirar proveito do meu potencial humano e do que muito que aprendi nestes últimos anos; (iii) sinto que posso ser mais ousado, e posso estabelecer projectos que podem começar pequenos mas vão crescer, e possam beneficiar a sociedade, os clientes e os trabalhadores que eu empregar; (iv) quero fazer algo para permitir que a minha mãe, que muito se sacrificou para nos fazer crescer e educar, possa se reformar e não ter necessidade de acordar muito cedo para ir à machamba, e; (v) vou lutar para trazer mais bem-estar para a minha família e para que os meus filhos possam ter mais oportunidades em relação as que eu tive.”   

 

O meu jovem amigo frisou que não tinha receio de tropeçar, uma e outra vez, pois isso faz parte do jogo, e que o mais importante é não desistir, aprender com as lições e adoptar a estratégia de melhoria contínua. Referiu que para ter os seus negócios a correr nunca teve nenhum crédito, tendo optado por poupar e investir, começando pequeno e ir crescendo à medida que vai conhecendo e dominando cada negócio concreto.

 

Adelson mostrou interesse pela necessidade de formalização dos seus negócios, de garantir a saúde e higiene no trabalho e de adoptar a abordagem ambiental, social e de governação nas empresas. Tem estado a estudar muito sobre como melhorar a gestão das empresas, o assunto das finanças e contabilidade, a questão dos recursos humanos, o tópico do marketing, os mecanismos para conhecer as preferências dos clientes e consumidores, a relação com os fornecedores e o imperativo de respeitar a lei e a regulamentação atinente aos negócios que desenvolve.

 

O jovem empreendedor sublinhou que aprendeu muito no período em que esteve a prestar serviços na BVM, tendo destacado os seguintes pontos de aprendizagem: (a) a importância do empreendedorismo para o desenvolvimento económico, e que é importante cada pessoa empreender; (b) através de um negócio, é possível ganhar dinheiro e ter orgulho de ter algo seu que resulte da sua dedicação e empenho; (c) aprendeu a poupar e a investir em pequenos negócios, tendo até comprado algumas acções da HCB; (d) ter o foco no trabalho, evitar estar todo o tempo a reclamar e a queixar-se, procurando fazer algo para desenvolver a sua vida como, por exemplo, estudar e fazer negócios; (e) nada poderemos fazer de diferente se não apostarmos na mudança, e se não estivermos dispostos a sacrificar algo para a sua materialização.

 

Adelson Chissano mostrou que está disposto a assumir riscos, mesmo num ambiente que muitos entendem ser desfavorável. Ele mostrou predisposição para “pôr a mão na massa”, criar a sua empresa, gerar novos postos de trabalho e melhorar a sua qualidade de vida com o seu trabalho e esforço. Ele mostrou ter faro para o negócio, que preocupa-se com a excelência e auto-superação, e assume que procura recompensas porque toma iniciativas e assume riscos.

 

A lição que aprendi

 

Eu aprendi muito nesta tarde ao conversar com o meu jovem amigo Adelson! Fiquei contagiado com a sua atitude firme, com a sua ousadia, a sua forma simples e simultaneamente peculiar de encarar o seu futuro nos negócios.

 

Perguntei aos meus botões” quantos Adelsons temos pelo nosso Moçambique adentro? Quantos micro-empresários temos, como o Adelson, a ousar, inovar e gerar valor no nosso país? Quantos concidadãos temos que acordam cedo e vão à labuta, sem passarem o tempo a criticar o Governo e as suas políticas?

 

Este artigo é para todos os homens e mulheres anónimos, os muitos Adelsons que não querem pactuar com a inércia e a mediocridade, e que muito lutam para manter erguido o nosso Moçambique. Eu “tiro o meu chapéu” ao Adelson Chissano e todos os Adelsons que estão espalhados pelo país, que nos ensinam que as dificuldades e o desejo de crescer removem o primeiro obstáculo, que é o mental e de atitude.

 

Ainda no seu emprego, Adelson apercebeu-se dos problemas existentes e transformou-os em oportunidades de negócio. Onde outros só enxergam constrangimentos e bloqueios, o jovem sem o ensino médio concluído concebeu e implementou projectos económicos que hoje exigem a sua presença directa e permanente.

 

A visão, a crença, a coragem e a determinação fizeram mover o Adelson. Percebi que ele não tem tudo idealizado e concebido, mas tem o essencial para avançar nesta etapa, e vai poder ajustar as velas durante a navegação. Não tem todas as respostas para o que possa acontecer no futuro, mas está disposto a aprender durante a viagem.

 

Adelson não recebeu nenhum crédito, nem teve capacitação para ser eleito micro-empresário! Ele prometeu um dia, quando as circunstâncias o permitirem, vir ao Mercado de Capitais e a Bolsa de Valores financiar-se.

 

É pela atitude e garra de moçambicanos como o jovem Adelson Chissano que acredito no futuro do meu país! E tenho esperança que essa nova geração de jovens vai contribuir para mudar a narrativa de desenvolvimento em Moçambique, onde em vez de se falar muito da pobreza, desigualdades e desemprego, vamos ver um Povo altivo a caminhar seguramente pela história, porque confiante na sua visão e nas suas capacidades e potencialidades.

Sir Motors

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