O preço do carvão mineral no mercado internacional está a cair drasticamente nos últimos 12 meses, afectando o negócio da Vulcan que explora o minério em Moçambique. Para minimizar o impacto, a empresa está a rever os contratos com vários fornecedores de bens e serviços. É que só num ano, o preço caiu 289 USD por tonelada, situando-se actualmente em 147 USD por tonelada. Sem grande valor no mercado global, as exportações do carvão tendem também a cair, o que em última análise prejudica a economia nacional.
Dados do site Trading Economics ilustram que, no fim de Abril de 2022, ano em que a indiana Vulcan iniciou as operações de extracção de carvão mineral no distrito de Moatize, província de Tete, centro do país (depois da saída da brasileira Vale), o preço do minério no mercado internacional era de 328 USD por tonelada. Entretanto, de Maio a Julho, o carvão valorizou-se consideravelmente, tendo atingido 408 USD, 387 e 405 USD por tonelada, respectivamente.
No fim de Agosto de 2022, o preço do carvão mineral subiu ainda mais, para 436 USD por tonelada, mas de lá a esta parte o valor do minério caiu drasticamente, situando-se, até meados de Agosto de 2023 corrente, em 147 USD por tonelada, o que representa uma queda de 289 USD por tonelada, mais que a metade do preço praticado em igual mês de 2022.
A queda drástica começou a verificar-se no princípio de 2023, porque de Setembro a Dezembro de 2022, o preço médio em cada fim do mês foi de 395.5 USD por tonelada. Em Janeiro de 2023, porém, o preço caiu para 236 USD por tonelada. O fenómeno foi agravando para 189 USD em Fevereiro e 180 USD por tonelada em Março. Em Abril, o valor do carvão verificou ligeira subida, tendo o preço se situado em 191 USD por tonelada, mas em Maio o preço quedou ainda mais, para 131 USD por tonelada, 127 USD em Junho de 2023, 137 USD no fim de Julho e até ao dia 17 de Agosto corrente, o preço do minério situava-se em 147 USD por tonelada no mercado internacional.
Com baixo valor no mercado internacional, a exportação do carvão mineral caiu no primeiro trimestre de 2023, de acordo com dados publicados há dias pelo Banco de Moçambique, no Relatório Trimestral da Balança de Pagamentos. Nesse informe, o Banco de Moçambique mostra que as receitas das exportações do carvão mineral caíram de 540 milhões de USD no primeiro trimestre de 2022, para 460 milhões de USD, uma redução em 80 milhões de USD. Quer dizer, a economia perdeu 80 milhões de USD, em receitas.
O Banco Central refere que a queda do preço do carvão mineral (entre outras principais commodities) no mercado internacional reflecte as perspectivas de refreamento do crescimento da economia mundial, facto que é justificado pelo aumento da oferta destas mercadorias no mercado internacional, impulsionado pelo consumo da China.
“O decréscimo deveu-se ao efeito combinado da descida do preço no mercado internacional e do volume exportado, em 19,2% e 10,7%, respectivamente. A queda do volume deste mineral pode estar relacionada com questões geológicas no processo de extracção, que culminou com a obtenção de uma espécie de produto de menor valor comercial no mercado internacional na principal mina”, lê-se no Relatório Trimestral da Balança de Pagamentos referente ao primeiro trimestre de 2023.
Para minimizar o impacto gerado pela queda do valor do carvão no mercado internacional e não só, a Vulcan está a rever os contratos com as empresas que fornecem produtos e serviços para a realização do seu negócio em Moatize. Essas medidas estão a afectar negativamente os fornecedores locais, que viram os seus contratos baixarem consideravelmente.
Para obter o real impacto das medidas tomadas pela Vulcan, “Carta” tem vindo, há duas semanas, a contactar o Presidente do Conselho Empresarial de Tete, órgão que representa a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), a nível provincial, mas até domingo (03), Hermínio Nhantumbo continuava sem responder as nossas perguntas, apesar de promessas.
O Jornal sabe, porém, que a Vulcan é parceira da CTA e, nesse contexto, o CEPI tem vindo a agendar uma reunião com o representante da mineradora, mas, aparentemente, não está tendo sucesso.
Anoop Kumar, o Director Geral da Vulcan, num breve contacto com "Carta" em Tete, prometeu responder dentro de dias a questões colocadas sobre as operações da mineradora em Tete, entre as quais a alegação generalizada sobre sua preferência a fornecedores indianos em detrimento de moçambicanos e sul africanos, que mantiveram, durante anos, negócios com a Vale.
Desde Abril de 2022, a Vulcan é a empresa que opera a Mina Carvão Moatize, uma subsidiária 100% da Vulcan International, com ligações accionistas de uma das maiores produtoras de aço do Médio Oriente, que tem um portfólio diversificado de produtos e alcance de mercado global em mais de 25 países e em seis continentes. Além disso, possui operações globais em ferro, aço e mineração. (Carta)