O responsável da Aon sublinhou que “há boas perspetivas de evolução” quanto ao perfil de risco do país, tendo em conta os entendimentos políticos, mas para que o ‘outlook’ se altere é necessário haver “consistência no tempo” e estabilidade a nível dos indicadores. Nos vários indicadores de risco que a Aon mede, numa escala de 1 (baixo) a 6 (muito alto), os riscos permanecem elevados e alguns agravaram-se desde 2017 no que diz respeito à interferência política na economia, interrupções na cadeia de distribuição, riscos legais e regulatórios e violência.
“No caso de Moçambique somos sempre muito cautelosos. Os níveis de risco dos indicadores são normalmente altos ou muito altos e não têm sofrido alterações muito significativas nas análises trimestrais”, indicou João Mendonça. As empresas incorporam também estes sinais de alerta scos nas suas decisões de investimento. “A maioria das empresas e dos agentes económicos já incorporam um agravamento de riscos, custos logísticos, custos de financiamento e até de remunerações” quando decidem investir em Moçambique, segundo o especialista da Aon. “Estas situações pontuais vêm agudizar um pouco o sentimento de insegurança”, mas não são uma surpresa total para as empresas. Em fevereiro, pela primeira vez, em fevereiro, os insurgentes visaram uma petrolífera norte-americana, a Anadarko, em duas incursões separadas das quais resultaram um morto e seis feridos.
João Mendonça destacou que, embora não haja consenso sobre as motivações dos atacantes - há quem defenda que são extremistas ligados a grupos islâmicos radicais, mas também quem suspeite de interesses económicos – existe “alinhamento politico” para encontrar soluções que ajudem a resolver o problema. “Politicamente, há vontade de resolver [o problema], existe alinhamento entre o governo e partidas da oposição e isso certamente ajuda”, comentou o analista. Desde outubro de 2017, os ataques de grupos armados não identificados já provocaram mais de 160 mortos e um número indeterminado de feridos, entre aldeãos, atacantes e forças de segurança. Centenas de casas tradicionais (de palha e adobe) e outras infraestruturas comunitárias foram incendiadas e saqueadas e muitas pessoas fugiram receando novas agressões.
O Tribunal Judicial da Província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, começou no início de março a julgar um grupo de suspeitos de envolvimento nos ataques armados naquela região. O caso envolve 34 arguidos (23 moçambicanos e 11 tanzanianos) e é o segundo a chegar à barra do tribunal em Pemba, capital provincial de Cabo Delgado.
O primeiro julgamento arrancou em outubro, com 189 arguidos que enfrentam acusações de homicídio qualificado, posse de armas proibidas, associação para delinquir contra organização do Estado, instigação ou provocação à desobediência coletiva e perturbação da ordem e tranquilidade públicas.
Estão também detidos dois jornalistas, Amade Abubacar e Germano Daniel Adriano, cuja libertação já foi pedida por organizações nacionais e internacionais de defesa dos direitos humanos. As ONG têm manifestado preocupação com a violação dos direitos humanos por parte das Forças de Defesa e Segurança na resposta aos ataques, preocupações que foram confirmadas no relatório anual do Departamento de Estado dos Estados Unidos sobre direitos humanos no mundo que denunciou "prisões arbitrárias, perseguições a civis e encerramento de mesquitas". (Lusa)