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quarta-feira, 20 julho 2022 07:07

Empreiteiros destituem seu Presidente Manuel Pereira por “abocanhar” negócios da classe

Empreeteros min

A Federação Moçambicana de Empreiteiros (FME), composta por 11 associações provinciais, deliberou em Assembleia Geral havida semana finda, em Maputo, pela destituição e, consequentemente, afastamento precoce de Manuel Pereira da presidência desta organização e todo o seu elenco do Conselho de Direcção.  A FME diz que concorreram para o afastamento do Presidente, o egoísmo, a arrogância, o autoritarismo e por usar a presidência para interesses da sua empresa, o Grupo Construtora do Mondego SA (que inclui a CETA), facto que, associado a outros problemas, ofuscou nos últimos anos a imagem da classe na sociedade.

 

Manuel Pereira foi empossado Presidente da FME em Dezembro de 2017, para um mandato de três anos renováveis. Em 2020, os membros da Federação deram mais um voto de confiança, mas, volvidos dois anos e metade, Pereira é afastado precocemente da presidência da FME pelos referidos motivos.

 

Na última Assembleia Geral, cuja mesa é presidida por Agostinho Vuma (também Presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique - CTA) estiveram representadas nove associações provinciais. Desse universo, oito representantes de associações votaram a favor da destituição de Manuel Pereira e uma se absteve. Na mesma reunião foi também decidida a criação de uma Comissão de Gestão liderada por Justino Chemane e coadjuvado por sete membros.

 

Com vista a apurar as razões da destituição de Manuel Pereira, “Carta” deslocou-se esta terça-feira (19) à FME, sediada em Maputo. Em entrevista exclusiva, o Presidente Interino Justino Chemane começou por explicar que a destituição do antigo presidente da Federação resulta da falta de execução do programa da agremiação em que constam os anseios da classe. 

 

“Primeiramente, a destituição deveu-se ao facto de o nosso programa estar a ser mal executado. Se você durante o seu mandato não consegue conviver com os seus pares é motivo de destituição. Então, uma das coisas que ele não conseguiu fazer é conviver com os outros. Nos últimos dias debate-se sobre a degradação das estradas no país. Alguma vez viram a Federação a apresentar o seu posicionamento? Não. Então, o que faz a direcção? Nada. Logo é uma matéria para a destituição. A Federação não está para defender interesses pessoais, mas sim de um grupo todo. Ora, ele tinha uma perspectiva individual e não para o colectivo. Como pode ver, a destituição dele foi decidida por oito associações, de nove presentes de um total de 11. Quer dizer que os membros não estavam a gostar da maneira como presidia a Federação”.

 

Na mesma entrevista, o vice-Presidente Interino, Bento Machaila, apontou que o sector da construção tem actualmente uma má fama por causa dos problemas como qualidade e a paralisação de obras. “Entretanto, não é linear que seja culpa dos empreiteiros. O líder nunca foi capaz de mostrar o posicionamento da classe, explicando o que está a acontecer exactamente. Como consequência, todos somos machados”, afirmou Machaila.

 

Segundo o vice-Presidente Interino, a decisão do Governo de proceder pelo ajuste directo no âmbito das obras da Covid-19, promovia a exclusão na classe. Mas mesmo ciente disso,ele, como presidente, não se manifestou porque a sua empresa se beneficiou disso. Ele via os seus colegas a serem prejudicados, mas ele se beneficiando. O mais agravante é que, em obras de construção de sanitários nas escolas, muitas empresas saíram daqui de Maputo para as províncias, incluindo a dele, e faziam a subcontratação a um preço que corresponde a 20% do orçamento. Quer dizer, a empresa contratada directamente ganhava mais do que aquela subcontratada. O cúmulo é que nessas subcontratações chamava os colegas de incompetentes”.

 

Para Machaila, este comportamento é de egoísmo. “Com isto tudo não se promove interesses da classe, pelo contrário é para matar. Isto significa promover-se a si. Então, chegamos à conclusão que usava o cargo para interesses pessoais”, afirmou o Presidente Interino da FME.

 

O antigo Presidente da Federação é acusado de falta de espírito de colectivismo. Não se reunia regularmente com os associados alegando estar em obras e, quando se reunia, impunha as suas ideias e não buscava consenso. “Ele era autoritário. Na política chama-se ditador. Era daqueles que pensava e logo mandava fazer”, afirmou Machaila. 

 

Doravante, a Comissão de Gestão da FME pretende resgatar a imagem da classe de cerca de 3 mil empreiteiros associados da Federação e trazer uma nova dinâmica na articulação com as entidades do Estado e as associações provinciais de empreiteiros, bem como organizar o processo de eleição de novos órgãos sociais da federação a ter lugar em data a anunciar.

 

Face às alegações da FME, o Jornal contactou o antigo Presidente para dar o seu contraditório, mas até ao fim desta terça-feira, Manuel Pereira não atendia às chamadas nem mensagens. (Evaristo Chilingue)

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