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segunda-feira, 09 maio 2022 07:23

Crescer 3,5% ao ano é "muito pouco" para Moçambique – analista

bancoSTAND

O economista-chefe do Standard Bank em Moçambique, Fáusio Mussá, considera "muito pouco" o crescimento económico previsto para o país e espera que o Governo implemente reformas que permitam um promover “um recomeço".

 

As últimas previsões que traçou apontam para um crescimento de 3,7% ao ano até 2025, ou seja, "é muito pouco", referiu em entrevista à Lusa, tendo em conta o ponto de partida: Moçambique tem um Produto Interno Bruto (PIB) semelhante ao do Alentejo para cerca de 30 milhões de habitantes, a maioria em pobreza extrema.

 

"Temos um exemplo de um passado recente em que Moçambique crescia a uma média anual de 7%, durante mais de uma década" e, ainda assim, "a pobreza quase que não se reduziu".

 

Segundo o analista, "claramente, nos próximos anos vai ser difícil ver um aumento substancial do emprego com o tipo de investimentos que Moçambique espera receber", megaprojetos de grande impacto na economia, mas poucos postos de trabalho, que só se vão multiplicar com o desenvolvimento do resto da cadeia de valor, com pequenas e médias empresas.

 

"Vai levar muito mais tempo para que, de facto, o crescimento económico comece a produzir mais inclusão, menos pobreza", referiu.

 

O tempo que vai levar poderá ser mais curto se houver reformas que ajudem a gerir melhor as finanças públicas - como previsto com o novo programa de apoio financeiro do Fundo Monetário Internacional (FMI).

 

"Acredito que Moçambique está à beira de um novo recomeço, mas isso significa olhar para o futuro com muita coragem, porque os desafios são muito grandes", disse.

 

Para Fáusio Mussá, "há aqui uma questão de comportamento que tem de mudar e obviamente que o enfoque das reformas" que têm sido apresentadas "é claramente na melhoria da governação e no combate à corrupção".

 

"Agora, uma coisa é nós termos isto no papel, outra coisa é, de facto, haver mudança e eu estou encorajado por sinais claros de que a intenção é caminhar para essa mudança", referiu.

 

Questionado sobre quais são esses sinais, Fáusio Mussá exemplificou com o relatório divulgado na última semana em que é o próprio Governo a reconhecer os seus erros: a aplicação indevida de 30 milhões de euros de doadores (incluindo o Fundo Monetário Internacional, FMI, que este ano retoma os programas financeiros com Maputo) para combater a covid-19.

 

"É um documento em que o Governo identificou uma série de anomalias para que isso não se repita no futuro" e noutros dossiês "há medidas concretas. Já há ações em tribunal, há julgamentos em curso", como no caso das dívidas ocultas, apontou.

 

"Há uma série de elementos que me permitem ter confiança de que se pretende este novo recomeço", frisou o especialista.

 

Confrontado com a história recente de falta de credibilidade de Moçambique, nomeadamente com o escândalo das dívidas ocultas do Estado, desde 2016, disse ser "extremamente importante que não se repitam os erros do passado".

 

"Nós, se calhar, estamos ainda a ver os primeiros sinais dessas mudanças e o próprio programa com o FMI é um sinal forte de que se pretende caminhar" nesse sentido, referiu.

 

Fáusio Mussá apoia a ideia de um fundo soberano, que tem vindo a ser discutida no país, que permita "que as receitas do gás possam beneficiar gerações vindouras" e que sirva para criar algumas "almofadas fiscais para o país enfrentar possíveis situações de volatilidade do preço de matérias-primas".

 

O banco Standard Moçambique prevê taxas de crescimento do PIB de 2,8% para este ano (descontando já o impacto da guerra na Ucrânia e riscos inflacionários globais), 3,7% no próximo, 4,1% em 2024 e 4,3% em 2025. (Lusa)

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