Algumas pessoas dizem que se Manuel Chang regressar a Moçambique, vai ter uma vida difícil. Dizem que a imagem, a reputação e o bom-nome do Chang caíram na sarjeta e, por isso, já não tem cara para aparecer em público. E essas pessoas acreditam que isso pode ser suficiente para ele morrer de depressão. Como se ele estivesse preocupado com imagens, reputações e bons-nomes!
Outras dizem que aqui o Chang vai confiar mais nos seus inimigos do que nos seus amigos. Dizem eles que os seus amigos, com os quais engendrou a fraude, vão encomendar a sua morte para que este não abra a boca. Por isso, acreditam eles, Chang estará em maus lençóis. Mentira!
Alguém se lembra da chegada triunfal de Anibalzinho vindo do Canadá? Então, a de Chang será muito mais triunfal do que aquela. Aquele ministro de bandeira-na-bunda terá muito trabalho nesse dia para ornamentar a pista com tapete vermelho e organizar os grupos de marrabenta, nyau, xigubo, nhambaro, tufo, etecetera. O país vai parar. A bandeira estará à uma haste acima do mastro.
Nada vai acontecer! Chang vai beber vinho verde com atuns e lagostas com os seus comparsas. Vai curtir malta Bilene, Bazaruto, Tofo, Quirimbas, Mamoli, Medjumbe, Ibo e quejandos. Os bradas dele vão festejar maningue. Alguém acha mesmo que Chang escolheu ser extraditado para Moçambique para ter uma "vida de cão"? Alguém acha mesmo que essas correrias de resgate são para prendê-lo?
Com Chang não será diferente! Vai ser julgado, assim como nos filmes de comédia, e, para não fugir a moda, vai ter uma prisão convertida em multa por um montante que nem chega para comprar uma latinha de atum "bom amigo" no contentor do maliano. Não será diferente! Se até aquela senhora do fundo agrário está aqui numa wella dando palestras sobre gestão financeira, por quê seria diferente agora?
Uma das sortes do Chang é ser tipo chinês. É fácil encontrar um gajo parecido com ele e ensaiar uma morte e um funeral, como nos filmes, e no dia seguinte ouvirmos que foi nomeado, para um ministério, um assessor parecido com Chang (com barba, bigode e meize).
Isto é um paraíso... experimenta roubar para ver! Mas, rouba bem.
- Co'licença!
Na semana passada, alguém recuperou uma intervenção do Governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela, e pô-la a circular como se fosse uma espécie de “Ted Talk” seminal sobre os efeitos nefastos da corrupção burocrática no investimento estrangeiro. Mas era uma ladainha corriqueira sobre o assunto. Funcionários obrigam os investidores a olearem a máquina para que seus processos andem. Os investidores são uns santos sempre com boas intenções, merecedores de todo o tipo de hossanas, incluindo tapetes vermelhos fiscais. Zandamela olha para a corrupção burocrática sem dissecar suas causas sistémicas. Não diz nada de novo. Seu discurso foi, no entanto, partilhado de todos os lados, como algo genial. Na verdade, a corrupção burocrática aumentou tremendamente em Moçambique. E esta é uma percepção isolada com base nas minhas observações: a crise do calote da dívida fez aumentar a corrupção; os esquemas e as boladas tornaram-se para muitos a principal fonte de rendimento, mecanismo funcional para a paz social.
O grande desafio de ser eu, Juma Aiuba, é convencer os demais que eu não sou nem membro nem simpatizante do partido RENAMO... nem do PAHUMO... nem do Eme-Dê-Eme... nem do PIMO.
Nesta empreitada está provado que o mais difícil não é convencer os meus amigos da FRELIMO que eu não sou da Oposição, mas - sim - convencer a própria Oposição de que eu não sou da Oposição. Ou seja, há, nos meus amigos simpatizantes dos partidos da Oposição, uma convicção muito grande e irrefutável de que eu, porque escrevo o que bem entendo sem resguardo, sou deles.
A crença de que gajos loucos como eu são da RENAMO, por exemplo, nasce da percepção errônea de que esses gajos escrevem contra a FRELIMO ou contra o governo do dia. Eu ainda não cheguei nesse patamar, e não gostaria de chegar. Eu não escrevo "contra" nem a "favor" de algo ou de alguém especificamente, eu apenas escrevo "sobre". É neste escrever "sobre" algo, que, por ser cidadão deste mundo globalizado e globalizante, me posiciono no "sim" ou no "não". Simples quanto isso!
Talvez isso responde a minha negação de escrever por solicitação ou pedido. É que eu não sou menino-de-recados de ninguém nem portador de mensagens alheias. Eu sou correio da minha própria consciência apenas. A minha escrita não me permite escrever por encomenda. Acho que perde a graça. Não consigo escrever o que não foi pensado por mim. A minha consciência é apartidária e sem fins lucrativos.
Garanto que ninguém gostaria de me ter como membro do seu partido, seja da Posição ou da Oposição. Eu não tenho disciplina partidária. Eu sou maningue complicado.
- Co'licença!
Aos africanos nossos irmãos, agredidos pela xenofobia na África do Sul"
"A história é uma ficção controlada" – Agustina Bessa Luís
Ontem diziam que o país estava em boas mãos porque o Presidente da República era uma pessoa experiente que passou por provação temporária no Ministério da Defesa. Diziam que segurança era estrategicamente bastante importante para qualquer governo. Diziam que era um gestor de carreira. E nós dissemos "Okay! Tem razão".
Ainda ontem diziam também que o partido nunca esteve em melhores mãos do que naquele momento porque o novo secretário geral, saído do congresso, era um indivíduo muito experiente que passou por várias posições no partido desde os órgãos de nível distrital, provincial e nacional. Portanto, um indivíduo que conhece a casa. Diziam que era um político de carreira. Também dissemos "Okay! Okay!"
Ainda no mesmo dia de ontem diziam que o Ministério dos Negócios Estrangeiros estava em boas mãos porque o novo ministro era um fulano maningue conhecedor de negócios e que fez muitas viagens ao estrangeiro para vender tábuas. Diziam que o tal fulano estava há bastante tempo no governo num ministério maningue estratégico. Diziam que tinha carreira ministerial. E nós, como sempre, dissemos "Afinal!? Então Okay! Tá certo!"
Mas hoje, dizem que não precisa ter experiência de nada para ser embaixador. Carreira já não conta mais. Dizem que um domador de cães para morderem manifestantes também serve para embaixador. Dizem que um viciado em chambocos também dá. Dizem que o mais importante é conhecer o objectivo da cooperação com o país em causa. Dizem que, se o objectivo da cooperação for comércio, o embaixador tem de ser um comerciante; se for energia, um electricista; se for pesca, um pescador; se for venda de madeira, um carpinteiro; se for saúde, um enfermeiro; se for educação, um professor; etecetera. Agora é que estamos baralhados... "Aí é!"
Assim qual é o objectivo da nossa cooperação com aquele pedófilo desabotoado que pesou para a nomeação daquele especialista em gritaria e kung-fu gratuito? Digam-nos também com que país temos cooperação na área desportiva para mandarmos o Abel Xavier, e na área cultural para enviarmos a Mulher Melancia.
Pois é! Agora está explicado o porquê de termos recentemente uma embaixadora acusada de falcatruas levianas e banais como, por exemplo, depositar orçamento da embaixada na sua conta pessoal. As vezes é culpa da tal nomeação por recompensa... "job for the boys".
- Co'licença!
Compreender os moçambicanos é uma tarefa que ainda não iniciou
É minha forte intuição que a academia moçambicana, principalmente dos ramos da psicologia, comunicação e ciência política ainda não dedicaram a necessária atenção para compreender a cosmovisão dos moçambicanos. Este pode, provavelmente, ser a causa que justifique o desencontro entre a academia e sua produção com a política e suas respostas.