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26 de Fevereiro, 2025

Sem justiça e sem abrigo: Mulher foge da suposta tentativa de homicídio na Matola e denuncia a impunidade

Aos 43 anos, Luísa Zeferino Bandeira vive um pesadelo que parece não ter fim. Após mais de 22 anos de relacionamento, a mulher denuncia constantes ameaças de morte e tentativas de homicídio por parte do seu companheiro, Carlos Mavie, pai dos seus dois filhos menores, de 10 e seis anos.

 

Em conversa com “Carta”, Luísa afirmou que a violência, que se tornou parte da sua rotina, atingiu um dos momentos mais críticos na madrugada do último sábado (22). Segundo conta, tudo começou quando Mavie, embriagado e trazendo uma garrafa de bebida espirituosa, reagiu com fúria ao descobrir que um inquilino da residência, que estava dentro do prazo de pagamento, havia partido com o consentimento da esposa.

 

“À 1h da madrugada, ele chegou bêbado e começou a agredir-me verbalmente. Depois, jogou a bebida em mim, pegou água e também despejou sobre mim. A seguir, empurrou-me contra o fogão eléctrico previamente ligado por ele. Os meus filhos gritavam desesperados. O mais velho correu para chamar a Polícia, enquanto eu tentava escapar. Mas ele veio atrás de mim com uma faca, dizendo que me mataria e depois tiraria a própria vida”, contou Luísa, visivelmente abalada.

 

A cena foi testemunhada pelos jovens que passavam pela rua, que intervieram e conseguiram desarmar Carlos Mavie, antes que o pior acontecesse. Pouco depois, chegaram dois agentes da Polícia acompanhados pelo filho mais velho da vítima, que buscara ajuda. No entanto, a resposta policial deixou Luísa sem chão. “Disseram que não podiam prendê-lo por ser perigoso, a Polícia tinha medo dele por lhes ter ameaçado atropelar.”

 

Mesmo diante da violência explícita e da arma branca apreendida (faca), os agentes alegaram que não poderiam deter Mavie, justificando que ele seria “perigoso”. Sentindo-se totalmente desamparados, após passarem a noite na esquadra sob sugestão policial, Luísa e os filhos foram obrigados a não regressarem à casa e a permanecer apenas com a roupa do corpo.

 

“Agora ele está lá, na nossa casa, a viver com outra mulher, enquanto eu e os meus filhos estamos desabrigados, sem nada. Tivemos de recorrer à igreja, onde estamos alojados em condições precárias, dependendo da caridade para comer e nos cobrir”, relata a mulher, com a voz embargada.

 

A situação dos menores é igualmente alarmante. Sem um lugar seguro para viver e sem acesso a recursos básicos, as crianças ainda não conseguiram iniciar o ano lectivo. Luísa também denuncia que Mavie tem impedido que os filhos tenham atendimento médico, além de negar a paternidade.

 

Por duas vezes, ela já procurou ajuda na justiça, mas nada foi feito. “Ele auto intitula-se de intocável, sempre diz que nada lhe vai acontecer, nem se me matar. Já recorremos à justiça, mas nada acontece. Não sei mais a quem pedir ajuda. Só queria um pouco de justiça e protecção para mim e para os meus filhos”, desabafa.

 

A reportagem da “Carta” contactou o marido “agressor”, mas não teve sucesso. (Lúcia Mucave)

 

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