Membros seniores da Renamo, o mais antigo partido da oposição, criticaram, esta quarta-feira, o uso da Polícia da República de Moçambique (PRM), em particular da temida Unidade de Intervenção Rápida (UIR), como meio de resolução dos problemas internos do partido.
A crítica, feita à margem da IV Conferência Nacional da Associação dos Combatentes da Luta pela Democracia (ACOLDE), que decorreu ontem, em Maputo, surge na sequência da intervenção, semana finda, da Polícia antimotim – considerada braço armado da Frelimo – para escorraçar os ex-guerrilheiros da Renamo que se encontravam acampados na sede nacional da Renamo e no Gabinete do Presidente daquele partido político.
O facto ocorreu na quarta-feira da semana passada por volta das 14h00, tendo culminado com o ferimento de alguns ex-guerilheiros e a detenção de outros. O gás lacrimogéneo e as balas de borracha (e também reais) foram o meio encontrado pela temida UIR para pôr fim aos mais de 15 dias de acampamento daquele grupo.
Desde a polémica e surpreendente intervenção, as instalações da Renamo continuam sob vigilância da UIR, facto que preocupa membros do partido. Segundo o ex-Secretário-Geral da Renamo, André Magibire, a Polícia “assaltou e ocupou” a sede nacional da “perdiz”, facto que, para aquele político, “não faz absolutamente nenhum sentido”.
“Eu sou membro da Comissão dos Assuntos Militares, mas todo o expediente está na Sede Nacional e eu não tenho como ir à sede nacional para ter o meu expediente para compelir o meu relatório”, afirmou Magibire.
Para Manuel Bissopo, outro antigo Secretário-Geral da Renamo, a intervenção da Polícia foi patrocinada pela própria direcção do partido. “A Polícia foi solicitada, não sei quem foi, mas ficou mal, porque pela grandeza e história da Renamo não podia ser daquela maneira”.
Bissopo entende: “a liderança do partido tem de ter a capacidade de dialogar com os combatentes e encontrar os caminhos simples que podem unir o partido para os próximos desafios”.
Com a UIR instalada na sede da Renamo há mais de uma semana, Elias Dhlakama, irmão do falecido presidente da Renamo Afonso Dhlakama, suspeita que informações sensíveis do partido tenham caído em mãos erradas.
“Hoje, a Polícia [UIR] tem todo o segredo da Renamo, deve ter tirado todas as informações dos gabinetes da Renamo. Não seria chamar o vizinho para resolver o problema de uma casa, o vizinho vai aproveitar no máximo”, considera o ex-candidato à presidência do partido, sem especificar o vizinho que se pode aproveitar da situação.
Refira-se que, até hoje, não se conhece a razão da intervenção da Polícia na sede da Renamo e muito menos o responsável pela sua mobilização. No entanto, sabe-se que foi mobilizada minutos depois de os antigos combatentes terem invadido o Gabinete de Ossufo Momade, facto que leva alguns membros da Renamo a concluírem que tenha sido o seu Presidente a pedir socorro à unidade policial mais violenta do país.