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Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

13 de Março, 2025

Descalabro ambiental no Parque Nacional de Maputo

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O Parque de Maputo é considerado uma das regiões de biodiversidade mais ricas do Mundo, oferecendo uma combinação de planícies, lagos, pântanos, cadeias de montanhas e florestas de dunas costeiras ao longo de praias de areia branca e fina e um mar azul turquesa. A vida selvagem – terreste e marítima – em constante crescimento, é o testemunho de duas décadas de trabalho árduo de conservação. Infelizmente, esta região também é uma das mais ameaçadas… sobretudo pela ganância dos privilegiados do sistema.

Em Dezembro de 2021, o Conselho de Ministros decretou a criação do Parque Nacional de Maputo, criando uma área protegida com mais de 1.700.000 hectares, integrando a Reserva Especial de Maputo e a Reserva Especial da Ponta do Ouro, que compreende as praias de Techobanine, Maderjanine, Mamoli, Malongane e Ponta do Ouro.

Esta iniciativa do Governo reconhece a importância de conservar a biodiversidade desta região e o seu potencial turístico e o impacto positivo que ambos podem ter no Orçamento do Estado, à semelhança de países como a Tanzânia e o Quénia, onde, em 2023, o turismo contribuiu com mais de $3.4 mil milhões e $7 mil milhões de dólares americanos, respectivamente. Comparativamente, em 2023, o turismo contribuiu com pouco mais de $200 milhões para o Orçamento do Estado moçambicano. Sinal duma estratégia de turismo mal implementada e um potencial sub-explorado.

Em 2024, o Parque de Maputo apresentou a sua candidatura oficial à UNESCO para ser reconhecido como Património Mundial da Humanidade, um estatuto que traria notoriedade ao Parque, com impactos muito positivos na divulgação internacional do parque e no apoio à conservação e nas receitas do turismo.

Mas ao mesmo tempo, na mesma região, alguns promotores imobiliários, em benefício próprio e com a conivência das autoridades públicas, em particular da Área de Protecção Ambiental de Maputo (APA), estão a descaracterizar completamente a região, construindo aberrações na duna primária, sem escrúpulos e à margem das regras ambientais e urbanísticas, desfigurando a costa e pondo em causa todo o trabalho de conservação e a candidatura à UNESCO – e o potencial turístico da região.

A Ponta Mamoli é conhecida por conta dos resorts White Pearl e Aloha, pelos seus recifes de coral maravilhosos, pela encosta verde e protegida, praias paradisíacas e preservadas, por ser um ponto protegido de desova de tartarugas em vias de extinção. É um local privilegiado de visualização de baleias-jubarte em migração, golfinhos, tartarugas e raias manta, bem como o melhor ponto de mergulho da região – o Pinnacles. A região já conta com diversos resorts que se têm desenvolvido com algum respeito pelas regras ambientais e têm atraído turismo sustentável para a região. É um autêntico paraíso, localizado perto da capital e do aeroporto internacional, junto à fronteira da África do Sul e ao Parque de Maputo…um autêntico campeão para o turismo de qualidade que deveria estar a ser promovido e protegido pelo Estado Moçambicano.

Entretanto, está a acontecer exactamente o contrário! E damos um exemplo que nos chocou!

A empresa Yotasse – Sociedade Unipessoal, Limitada – uma empresa associada à elite política, com quadros do SETSAN e da Directoria Provincial da Agricultura e Pesca da Província de Maputo – começou a desenvolver o Resort Makana, onde está a construir mansões de dois pisos, com piscinas elevadas em pilares betão em cima da praia para encaixar o máximo de casas possível dentro dos terrenos que têm uma forma de ganhar dinheiro rápido em detrimento dum destino turístico de excelência.

Este horror acontece à vista de todos que por ali passam e desvalorizou completamente o que antes era um paraíso. Todos com quem falamos manifestaram muita tristeza e indignação com estas construções, mas sentem-se impotentes para impedir que avancem, pois, as construções têm a conivência explícita da APA, que passa em frente todos os dias em trabalho de fiscalização e vira a cara, arquiva as queixas que tem recebido e garante que este absurdo avance sem nenhuma oposição.

Até quando é que vamos permitir que a ganância de alguns inquine o nosso futuro? Queremos desenvolver o nosso turismo de forma responsável e para o bem de todos, ou afinal este país é mesmo só de alguns afilhados da elite política?

Autoridades responsáveis, investiguem este caso, façam aplicar a lei e acabem com este absurdo antes que seja tarde demais! (AC)

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