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29 de April, 2025

Eleições na CTA: Associação Comercial da Beira considera o processo “vergonhoso” e ameaça não participar

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A Associação Comercial da Beira (ACB), liderada pelo empresário Félix Machado, apresentou esta segunda-feira duras críticas ao processo eleitoral organizado pela Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), marcado por um braço-de-ferro entre o candidato a presidente da agremiação, pela Câmara do Comércio de Moçambique (CCM), Álvaro Massinga, e o actual Conselho Directivo.

Machado disse que o processo eleitoral é vergonhoso e demonstra o interesse de empresários envolvidos em fazer lobby para benefício próprio e não para a economia no geral e, que caso esta situação não seja resolvida, a ACB não vai participar do pleito.

A ACB é membro fundador da CTA. Perante a situação criada no contexto do processo eleitoral, a Associação diz sentir vergonha e tristeza. “Os associados estão tristes com o que está a acontecer na CTA. Não entendem como o sector privado, de carácter nacional, que tem a responsabilidade de orientar o Governo sobre o que deve ser feito para tornar a economia mais forte, mostra incapacidade para liderar possíveis processos eleitorais internos”, lamentou Machado.

Entretanto, como forma de ajudar a pôr fim à polémica, a ACB diz ter escrito uma carta à CTA, sugerindo a realização de uma Assembleia Geral extraordinária. Contudo, disse que tal proposta não foi aprovada, alegadamente porque grande parte das associações (130), de um universo de 194, localizam-se na zona sul do país. Ainda assim, Machado disse que os membros da ACB concordaram em propor novamente uma Assembleia-Geral extraordinária para resolver a polémica antes da realização das eleições, alegadamente porque o modelo actual para a eleição do Presidente da CTA é imperfeito e propicia a corrupção.

“O modelo actual não é representativo. Não é por acaso que hoje muitos consideram a CTA como a incubadora de bandidos, porque é um cartel que quer controlar a agremiação, mas não pode ser assim. O modelo actual para a eleição do Presidente da CTA exige antecipação de cartas de suporte por parte dos membros. É por isso que tivemos o pagamento de quotas. Os que têm dinheiro começaram a pagar as quotas das associações para regularizar e para ganhar essa carga. Significa, por si só, um voto antecipado”, criticou Machado.

Caso as propostas a serem apresentadas para ultrapassar o problema não tenham sucesso, a ACB diz que não vai participar nessas eleições. Nem como candidato, nem para apoiar qualquer candidato dos dois admitidos.

“A ACB vai distanciar-se totalmente deste processo eleitoral porque não é justo, não é correcto e é vergonhoso. Ficamos tristes em ver empresários que ainda apoiam este processo. É o modus operandi. Alguns se identificam com este modelo e acham correcto, mas a ACB não alinha e esperamos que outros membros percebam isto”, afirmou Machado.

Num outro desenvolvimento, o Presidente da ACB explicou que a existência de empresários que apoiam um processo “imperfeito” deve-se a interesses pessoais. “A maioria das pessoas que estão lá são lobistas. Muita gente quer estar aí para estar perto do Presidente da República em viagens; para buscar oportunidades para si (e não para a economia) e para depois vendê-las. Há também o interesse de gerir fundos, como da USAID (já desmantelada pela dupla Trump/Musk) e para ter salário porque na CTA há salário diferentemente das associações como a nossa em que não há salário”, disse o empresário.

Conhecido pela sua verticalidade e contundência em suas intervenções, Machado disse que o lobby instalado na CTA está tão forte de tal modo que tem influenciado na elaboração de algumas leis. “Em todas as leis que são aprovadas há sempre um lobby, por isso várias vezes não têm enquadramento no terreno, o que suscita sempre discussões”, afirmou a fonte, tendo sentenciado que a CTA foi capturada por lobistas que usam a instituição para seus interesses. Sobre isto, Machado disse que o Governo deveria suspender temporariamente o diálogo com a CTA, com vista a resolver os actuais problemas.

Durante a conferência de imprensa, o empresário anunciou que, em sessão extraordinária, a ACB deliberou a criação da Federação Provincial do Sector Privado em Sofala para tornar o organismo mais forte ao nível da província. Futuramente, Machado disse que a Associação tenciona convidar os empresários das províncias de Manica, Tete e Zambézia, para formarem as suas Federações Provinciais e depois criarem uma Confederação Regional Centro.

O braço-de-ferro resulta da proibição pela CTA, ao empresário Álvaro Massinga e à Câmara de Comércio de Moçambique (CCM) de participar do escrutínio, alegadamente por prática de actos considerados violadores dos Estatutos da Confederação e dos princípios da boa-fé, transparência associativa e legalidade interna. Entretanto, apesar de Álvaro Massinga e a CCM terem recorrido ao Tribunal para assegurar os seus direitos de votar e ser votado, na última sexta-feira (25), a CTA disse que não aceitaria a sua candidatura. O Presidente da CTA, Agostinho Vuma, disse que “nenhum tribunal seria capaz de mudar as decisões da agremiação”, num claro sinal de desacato às decisões das instituições judiciais.

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