Com recurso a armas de fogo e gás lacrimogéneo, a Unidade de Intervenção Rápida (UIR), a Polícia antimotim da PRM (Polícia República de Moçambique) recuperou, na tarde de hoje, a sede nacional do partido Renamo, em Maputo, que se encontrava tomada pelos antigos guerrilheiros daquela força política há mais de uma semana.
Eram cerca das 13h50m, quando elementos da UIR irromperam pela sede ao mesmo tempo que os disparos consecutivos, e que se prolongaram durante vários minutos, se ouviam na avenida Ahmed Secou Touré. Há registo de feridos e detidos entre o grupo contestatário.
O protesto dos desmobilizados da Renamo na sede nacional, exigindo a saída do presidente do partido, Ossufo Momade, já se prolongava desde 15 de Maio, com cerca de meia centena de antigos guerrilheiros a ocupar o espaço desde então.
Perante um forte aparato policial no exterior, a intervenção de hoje prolongou-se por cerca de 30 minutos, com os elementos da UIR, com tiros que ecoavam fortemente do interior, a vasculhar todas as divisões da sede, retirando os antigos guerrilheiros, entre homens e mulheres, para um autocarro que se encontrava posicionado no exterior. Não é conhecido o destino destes antigos guerrilheiros levados pela Polícia. Ainda assim, à saída, estes entoavam frases de apoio ao partido e a Afonso Dhlakama.
O mesmo aparato policial mudou-se em seguida para o edifício do Gabinete do Presidente da Renamo, que se encontra a menos de 100 metros da sede nacional, na mesma avenida, invadido na manhã de hoje por antigos guerrilheiros. Contudo, este grupo foi recolhido do interior do edifício para o autocarro sem qualquer disparo por parte da Polícia.
Mais tarde, a Polícia encontrou ainda um grupo de outros sete antigos guerrilheiros que estavam “escondidos” numa outra dependência da sede do partido e que foram igualmente carregados para o interior de um carro blindado e levados do local.
“Pretendemos que o partido paralise as actividades porque, a caminharmos assim, vamos ao abismo. Com a liderança do presidente Ossufo Momade nós não chegaremos a lado algum. E esta é a razão pela qual nós, os ex-guerreiros da Renamo, queremos que ele se demita”, afirmou à Lusa Edgar Silva, porta-voz do grupo que hoje tomou o gabinete de trabalho do líder do partido, horas antes da intervenção da polícia.
Os antigos guerrilheiros da Renamo já tinham também espalhado fotografias e cartazes do histórico líder fundador Afonso Dhlakama no exterior da sede nacional da Renamo, com a mesma reivindicação, de saída de Ossufo Momade.
“Simplesmente achamos que o presidente é incapaz de dirigir os destinos deste partido. Sendo incapaz, ele que ceda, abra-se para os outros quadros poderem tomar o leme deste partido porque assim não vamos chegar a bom porto”, insistiu Edgar Silva, proveniente da província de Nampula, norte do país.
A direcção da Renamo, que se tem furtado ao debate público da situação, tem apelado ao respeito pelos órgãos do partido, pedindo que as divergências, que estão a levar antigos guerrilheiros a tomar instalações em todo o país, sejam resolvidas internamente.
Ossufo Momade, cuja liderança já tinha sido questionada anteriormente pelo falecido Mariano Nhongo, assumiu a presidência da Renamo em Janeiro de 2019, após a morte de Afonso Dhlakama (em Maio de 2018) e foi reeleito para o cargo em Maio de 2024, num processo fortemente contestado internamente. (Carta)